Hiperfilhos, filhos da proteção excessiva e do estresse

Hiperfilhos, filhos da proteção excessiva e do estresse
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 08 setembro, 2020

Os hiperfilhos são o produto da hiperpaternidade, uma nova dinâmica cada vez mais comum que negligencia aspectos importantes da infância, como a brincadeira, a relação com a natureza, o tédio e o enfrentamento de problemas. Um estilo de educação baseado na superproteção e no excesso de atenção e elogios.

Um hiperfilho responde às necessidades alheias antes das próprias. Trata-se de uma geração que dispõe de pouco tempo para a autodescoberta, o desenvolvimento intrapessoal e muitos traços de personalidade que são desenvolvidos na infância.

O que significa o termo “hiperfilho”?

Os termos “hiperfilho”, “hipercriança” ou “hiperpaternidade” fazem referência a dinâmicas familiares que concentram seus esforços em manter os filhos controlados. Como consequência, eles se desvinculam de atividades próprias às suas respectivas idades. Assim, as crianças se transformam em indivíduos pouco independentes, de quem se espera a perfeição.

O termo surgiu nos Estados Unidos e se relaciona com o conceito tradicional de “criança mimada”. No entanto, assim como indica a jornalista Eva Millet, autora do livro Hiperpaternidad e e Hipercrianças: filhos perfeitos ou hipofilhos? (sem tradução no Brasil), os hiperfilhos recebem estresse por parte dos pais, o que não acontecia com as crianças mimadas.

Filho abraçado com sua mãe

Como é a vida dos hiperfilhos?

Os hiperfilhos têm suas vidas ocupadas com atividades extracurriculares que não lhes despertam paixão, são muito conscientes de seus defeitos e são tratados pelos pais como um investimento: após terem investido muito dinheiro e esforço na criação dos filhos, pensam (muitas vezes, inconscientemente) que esse valor deve se transformar no sucesso dos mesmos.

No entanto, as crianças são conscientes de muito mais do que imaginamos. Essa pressão as afeta em todos os níveis. É assim que a vida delas se transforma em um estresse constante por atender às expectativas dos demais.

No entanto, existe outra face da moeda: os hiperiflhos são, cada vez mais, o centro de atenção em todas as famílias. Como indica Millet, “nas casas, as fotografias expostas não são mais as dos avós, e sim das crianças, que mais do que nunca são os reis da casa. Isso tem a ver com o fato de que hoje temos 1,3 filhos em média por casal. Antes esse número era muito maior, não prestávamos tanta atenção nas crianças. Antes eram móveis, agora são altares”.

Essa estimulação excessiva gera nas crianças um sentimento de autoridade que não é nada positivo para o desenvolvimento pessoal delas. Como consequência, não são capazes de lidar bem com suas emoções, se frustram com facilidade, sentem a ansiedade dos pais… Em suma, elas se transformam no que Millet chama de “hipocrianças”, crianças dependentes, que não conseguem fazer nada sem a ajuda dos pais.

Do que uma criança precisa?

É difícil determinar quais são as necessidades de todas as crianças, já que, como indivíduos, elas têm aspirações, desejos e expectativas próprias. No entanto, uma coisa está clara: ainda estão em formação para enfrentar o mundo real, e não podemos exigir delas tanto quanto dos adultos.

É por isso que as aspirações de um pai ou mãe nunca devem se voltar às crianças: pensar no curso superior que os filhos vão fazer quando ainda nem completaram 10 anos é, acima de tudo, um despropósito. Devemos deixar as crianças desenvolverem sua personalidade, seus gostos. Principalmente, devemos deixá-las fracassar, aprender onde estão os limites e o que podem tirar de seus erros se quiserem superar esses limites.

Assim como indica a autora, a oferta de atividades e experiências cresceu exponencialmente nos últimos anos. Por isso, há verdadeiras competições entre as famílias. Os pais ou cuidadores se perguntam qual acampamento é o melhor, qual instrumento musical é mais prestigiado…

Crianças brincando

Menos dinheiro e mais amor

Todas essas experiências, aulas e acampamentos são grandes despesas. Mas, apesar disso, não podemos querer que as crianças valorizem quantidades de dinheiro que ainda não compreendem. Por isso, em vez de nos preocuparmos com qual professor de inglês tem melhores referências para dar aulas a uma criança de 10 anos, é preferível que essa criança se relacione de forma muito mais natural.

Afinal de contas, as crianças devem crescer brincando com outras crianças, colocando em prática suas habilidades de forma independente. Os pais não devem se situar como o pilar principal dessa relação, e sim estar ao lado, estar presente quando a criança precisar de ajuda.

É importante que os pequenos aprendam a lidar com situações que não ocorrem como o esperado. O papel de um pai ou uma mãe é aconselhar, apoiar e, sobretudo, amar.


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