O uso do humor como mecanismo vital diante dos maus momentos

O uso do humor como mecanismo vital diante dos maus momentos

Última atualização: 24 agosto, 2017

O humor, mesmo que não pareça, muitas vezes representa um mecanismo de defesa diante de situações estressantes ou difíceis que costumamos atravessar. Ele dá cor à escuridão, coloca um sorriso no que é difícil e contagia. Parece o antídoto perfeito, não é verdade?

Os mecanismos de defesa são estratégias que usamos para enfrentar situações internas ou externas que são desagradáveis. De alguma forma é como se, com a sua potência, conseguissem tornar menor o monstro “malvado” que vem se instalar. Seja a tristeza pela perda de alguém, a raiva pelo término recente de um relacionamento amoroso, ou o diagnóstico de uma doença…

Ele combate o estresse procurando torná-lo menor, mais inofensivo, menos aterrorizante. Às vezes, estes mecanismos de defesa conseguem que esqueçamos nosso sofrimento ou que recoloquemos as fontes do mesmo em nossas vidas. O espaço de ar puro que o humor proporciona em nosso interior é tão imenso que parece que estamos bem, sem nada que nos perturbe.

O humor nos ajuda a escapar das realidades desconfortáveis

Certamente você já conheceu alguém que, quando está contando alguma coisa séria e importante, o faz com um sorriso nos lábios. Um sorriso que se torna aquele pequeno sorriso nervoso que brota como gargalhadas. Mas alguma coisa não se encaixa… enquanto ouvimos essa pessoa não podemos deixar de pensar que existe alguma coisa que não se encaixa.

Como pode estar contando alguma coisa que supostamente é importante e séria para ele dando risada? Se você parar para pensar, existem muitas pessoas que, quando estão falando de algo que não é exatamente divertido, ainda assim fazem isso rindo. Um riso que não parece verdadeiro… Parece muito mais um grito da alma que não sabe como se expressar para sair do que um riso genuíno. Do que um riso de verdade, dos que nascem de uma alma feliz. É muito mais um riso que parece uma interferência.

O uso do humor como mecanismo vital diante dos maus momentos

Costumamos perceber uma dissonância entre o que a pessoa conta e como conta, que nos faz questionar verdadeiramente a seriedade do assunto. Existem pessoas que não vão mais além e ficam, no fim das contas, com esse riso. “Bom, se está rindo é porque não lhe afeta muito. Deve estar bem.” Mas a verdade é que existe alguma coisa que não se encaixa, e quando o que falamos não segue o jeito como o corpo se expressa, existe alguma coisa desconectada.

O desconforto deseja ser ouvido e aceito, não negado

É aqui que entra o humor como mecanismo defensivo diante de uma realidade desconfortável de assumir. O humor nos acalenta e, muitas vezes, é um bálsamo que nos ajuda a nos adaptarmos a muitas situações sociais. O problema, como com tudo, vem quando este se torna o único jeito de enfrentar uma situação. Uma forma de se defender dela, se revoltar contra ela, sem assumi-la ou aceitá-la como é.

Existem realidades que provocam uma verdadeira vertigem. Assumi-las implica uma mudança a nível interno bastante profunda. E o jeito de escapar delas é negando-as, distanciando-as da nossa própria consciência ou minimizando-as… Tornando-as menores até a inexistência. Não enfrentar alguma coisa, por maior desconforto que cause, implica se distanciar do que somos.

Tanto o conforto quanto o desconforto fazem parte da vida, e não podemos negar um ou outro. A “cura” não vem através da negação do que nos incomoda enxergar. A cura parte da aceitação… e nesse sentido, para aceitar é preciso olhar para dentro e mostrar um tipo de respeito inicial por aquilo que encontrarmos. Quando você não respeita uma experiência sua, e faz dela uma caricatura até a decomposição mais absoluta desta, faz com que o outro não a leve a sério.

Se não nos levamos a sério, ensinamos ao outro a não nos levar a sério

Podemos “educar” ou não o outro para nos respeitar. Se você não respeita a forma como se sente e escolhe o humor como primeiro mecanismo para se distanciar da sua realidade, dificilmente incentivará o outro a respeitar as suas experiências mais íntimas. Você está lhe mostrando que pode rir e não o levar a sério. Que o que você fala não é importante porque “não o afeta” quando, na verdade, afeta bastante, mas é tão doloroso ou tão desconfortável que a sua primeira reação é se distanciar disso.

“Tudo tem a sua medida, assim como toda situação tem o seu proceder. O riso tem o seu lugar, assim como o choro; o riso tem o seu momento, assim como a severidade tem o seu.”
-Al-Yâhiz-

O uso do humor como mecanismo vital diante dos maus momentos

Por isso, é importante identificar estes sinais de incongruência entre o que a gente sente e o que a gente manifesta, entre o que diz e como diz…. Essa incongruência nos dará pistas para podermos nos sentir mais confortáveis com nossos desconfortos.

Às vezes o mais simples é ouvir o que a pessoa realmente quer nos dizer, sem se perder nesse jogo de máscaras e caricaturas. Provavelmente essa pessoa está desejando ser ouvida sem ser julgada, e só precisa ouvir um “Tudo bem você não se sentir bem. Pode falar sobre isso aqui comigo se quiser”.


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