A intenção paradoxal contraditória

A intenção paradoxal é uma estratégia que pode ser muito útil contra certos transtornos, como os de ansiedade. Neste artigo, explicamos seu funcionamento usando como base diferentes modelos, e falamos sobre a importância dos detalhes para alcançar os efeitos desejados.
A intenção paradoxal contraditória

Última atualização: 11 abril, 2020

As técnicas paradoxais buscam exatamente o que seu nome indica: a discordância, o absurdo. Com elas, o objetivo é que a pessoa coloque em ação comportamentos que, em outros momentos, ela tenta evitar, e que geralmente são a fonte do seu desconforto e angústia. Nesses casos, a intenção paradoxal contraditória pode ser muito útil.

A partir do capítulo Detenção do pensamento e intenção paradoxal de Salgado, Gómez e Yela, incluído no manual Técnicas de Modificação de Comportamento, de Labrador (2007), tentaremos entender quais mecanismos são implementados para que a intenção paradoxal contraditória seja, mais do que incoerência, uma técnica inestimável para obter mudanças na terapia.

Essa técnica pretende que a pessoa com um transtorno de ansiedade sinta ansiedade naquele momento; que a pessoa com compulsões e rituais realize exatamente esses comportamentos; ou que a pessoa com problemas relacionados ao sono tente, de todas as formas, não dormir quando vai para a cama.

Mulher fazendo terapia

Os objetivos da intenção paradoxal

Em muitos transtornos psicológicos, especialmente transtornos de ansiedade ou transtornos obsessivo-compulsivos, as tentativas de evitar pensamentos obsessivos, rituais ou sentimentos de angústia não apenas se mostram contraproducentes, mas também fazem com que o problema perdure.

Uma pessoa com um TOC com rituais ocultos, por exemplo, pode tentar não realizar verificações ou controlar seus pensamentos. Esses impulsos, que geralmente ocorrem espontaneamente, são muito difíceis de controlar.

Portanto, segundo Salgado et al., o objetivo da intenção paradoxal é:

  • Que a pessoa renuncie a ter controle sobre as respostas autonômicas ou espontâneas (não ter ansiedade, não realizar compulsões…).
  • Que a pessoa tente fazer com que o sintoma apareça em situações diferentes daquelas em que normalmente aparece, e que as piores consequências se desenvolvam a partir desse sintoma. Por exemplo, o terapeuta pode pedir a uma pessoa com transtorno de ansiedade generalizada que tente produzir um ataque de ansiedade durante a sessão e que seja muito intensa, com uma reação bem pronunciada e com uma perda total de controle.

Como se explica a mudança na intenção paradoxal?

Vários modelos teóricos tentam explicar os mecanismos que permitem que a intenção paradoxal contraditória funcione. Algumas dessas teorias são:

  • A teoria do duplo vínculo: quando se apresentam duas mensagens simultaneamente exclusivas, o paciente responde a apenas uma. Portanto, o terapeuta pede à pessoa que tem ansiedade que produza uma emoção que geralmente ocorre espontaneamente. Assim, existem dois cenários: a ansiedade pode aparecer (e o paciente tentará aumentá-la, afastando-se do hábito de tentar controlá-la ou reduzi-la, ou a ansiedade não aparecerá).
  • Teoria da descontextualização do sintoma: quando o terapeuta pede que a pessoa inicie seu comportamento problemático, ele o solicita em um contexto totalmente diferente daquele no qual ele geralmente aparece. O sintoma perde significado, enquanto responde às demandas do entorno. Por exemplo, se uma pessoa com compulsão à repetição realiza seus rituais sem que eles respondam a estados ansiosos ou à vontade de afastar pensamentos obsessivos, o ritual perde seu significado porque foi descontextualizado.
  • Teoria da ansiedade recorrente: de acordo com Salgado et al., provocar um comportamento e temê-lo ao mesmo tempo é incompatível. Por isso, a intenção paradoxal é útil, por exemplo, quando uma pessoa antecipa seu sintoma. Às vezes, em pessoas com problemas relacionados ao sono, é o próprio medo ou a ansiedade antecipatória de não dormir que não a deixam adormecer. Portanto, a vontade de permanecer acordada (intenção paradoxal) elimina o medo antecipatório de não conseguir dormir. Isso permite que ela consiga adormecer.

A exposição encoberta no paradoxo

A intenção paradoxal também permite a exposição a determinados comportamentos que as pessoas temem e que, por serem evitados, são mantidos. Isso ocorre na grande maioria dos transtornos de ansiedade, uma vez que são os comportamentos de segurança e evitação que fazem com que a ansiedade continue a ocorrer.

A intenção paradoxal é especialmente útil para aquelas pessoas que têm medo de sentir sua própria ansiedade. Elas antecipam, por exemplo, que vão perder o controle se entrarem em um avião, se forem ao cinema ou se forem ao centro da cidade no Natal.

Embora talvez nessas situações a pessoa nunca tenha sentido ansiedade, sua própria antecipação pode fazer com que ela evite esses lugares.

Em contextos controlados, é difícil para a pessoa ter um ataque de ansiedade quando solicitada. No entanto, à medida que a terapia progride, o terapeuta pode solicitar que ela tente sentir ansiedade em um supermercado ou que tente aumentar sua frequência cardíaca e acelerar sua respiração.

É possível que ela sinta ansiedade, é claro, mas essa ansiedade é controlada. É a pessoa que escolhe quando ela aparece, e não a circunstância.

Por isso, a intenção paradoxal também é útil para que a pessoa se exponha à sua própria ansiedade. Com ela, o medo da ansiedade que a pressiona e a força a evitar fazer coisas pode desaparecer. Se a ansiedade antecipatória desaparecer, os comportamentos de segurança e o transtorno de ansiedade também desaparecerão.

Mulher sofrendo de ansiedade

Não é qualquer paradoxo que vale

A intenção paradoxal não consiste em pedir a uma pessoa que “sinta ansiedade” com essas palavras. Se essa for a sua afirmação, você provavelmente não sabe como fazê-lo. A instrução é muito genérica para obter bons resultados.

O terapeuta em questão deve ser muito específico ao prescrever a tarefa ao paciente. Portanto, o comportamento deve ser especificado. Ou seja, é preciso dizer exatamente o que se deseja, durante quanto tempo e em que lugar.

Portanto, e conforme Salgado et al. especifica, é melhor fornecer diretrizes concretas do que indicações vagas:

  • Em vez de pedir à sua filha que faça birra, é melhor pedir que ela grite o mais alto que puder e esperneie antes de desligar a televisão.
  • Não peça que ela sinta ansiedade. Ao invés disso, peça que ela tente fazer seu coração bater mais rápido, perceber suas palpitações e até aumentar sua temperatura corporal. Você pode propor estratégias para que ela consiga fazer isso.
  • Em vez de pedir que ela faça algo que normalmente não faz antes da compulsão, peça que ela passe batom antes da compulsão.

A especificação e o bom entendimento dos comportamentos podem fazer a diferença entre a eficácia e o fracasso da intenção paradoxal em um contexto terapêutico.

Isso nos lembra que essa é uma técnica muito poderosa, mas também muito perigosa em sua aplicação, pois se ela não for aplicada de maneira estruturada e direcionada, pode apresentar resultados contrários aos esperados.


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  • Labrador, F. (2007). Técnicas de Modificación de Conducta. Ed: Pirámide, Madrid

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.