Dando sentido à comunicação: o interacionismo simbólico

Dando sentido à comunicação: o interacionismo simbólico
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

O interacionismo simbólico é uma teoria surgida na sociologia que alcançou outros campos do conhecimento, como a antropologia e a psicologia social. Essa teoria analisa as interações humanas e seus significados. A partir dela, conseguimos compreender os processos por meio dos quais as pessoas se tornam membros de uma sociedade. Em outras palavras, o interacionismo simbólico estuda as atividades sociais e sua influência na construção do eu.

A teoria se baseia em interpretações. Cada pessoa interpreta a realidade de um jeito diferente. Há uma infinidade de possibilidades de interpretação, mas elas serão mais parecidas em pessoas que estão em culturas e ambientes semelhantes. Uma das maiorias diferenças culturais que geram problemas ao viajar, por exemplo, são os símbolos. Se alguém estende a palma da mão em direção a outra pessoa, eu entendo que ela está dizendo “Pare!”, “Fique quieto!”. Mas um grego veria o mesmo gesto como um insulto, e um libanês acharia que eu estou tentando neutralizar as energias ruins do mau olhado. 

O início do interacionismo simbólico

O interacionismo simbólico tem um posicionamento contrário às verdades absolutas. Ele afirma que não existe uma única verdade, e sim diferentes verdades situadas em contextos diferentes. Ou seja, a verdade é diferente para cada comunidade, e muitas vezes até mesmo para cada indivíduo. Para entender todas essas diferentes verdades, o interacionismo estuda as relações entre as pessoas e os símbolos: o objetivo final é entender a identidade individual e suas relações com a organização social.

Crianças com o mundo na mão

Um exemplo clássico do interacionismo simbólico é encontrado no consumo de chá. Essa bebida pode ser consumida em diferentes rituais com vários significados distintos. Por exemplo, o chá não representa a mesma coisa para uma pessoa européia e para uma pessoa japonesa.

Possivelmente, o europeu tomará um chá para acordar – no caso dos chás com cafeína – e não dará muita importância para a preparação ou para o momento do consumo. Um brasileiro poderá tomar um chá com objetivos diuréticos. Um japonês, no entanto, realizará um ritual de preparação e tomará o chá com alguma companhia, assim como o paquistanês. Os significados do chá vão ser diferentes para cada pessoa.

Em resumo, o interacionismo simbólico sugere que as pessoas se definem levando em consideração o significado que a vida tem em um contexto específico. Dado que somos animais sociais, este significado de indivíduo vai depender, em grande medida, das interações que temos com as outras pessoas no nosso meio.

Gerações de interacionistas simbólicos

Existem duas grandes gerações de interacionistas simbólicos que propõem diferentes interpretações. A primeira considera que as ações sempre vão possuir algum sentido, enquanto a segunda considera que a vida social é um teatro.

Primeira geração

A princípio, a proposta era de que a identidade pessoal é construída através das relações com outras pessoas. Essas relações sempre têm algum significado, são simbólicas. Por isso, a identidade de cada pessoa se formaria em situações e lugares específicos ao se relacionar com os outros. O significado que a pessoa desse a essas interações iria definir a identidade pessoal e individual.

Essa proposta declarava que as ações eram mais que hábitos ou comportamentos automáticos. Todas as ações poderiam ser interpretadas. Desse modo, a linguagem era entendida como a representação das atitudes, das intenções, dos posicionamentos e dos objetivos do falante. A linguagem era vista como uma forma de interação: através dela, a realidade era construída.

O indivíduo é, a partir dessa perspectiva, uma representação que se constrói por meio da linguagem. Ou seja, o sujeito se constrói por meio dos significados que circulam enquanto ele interage com os outros indivíduos por meio da linguagem. Não é, no entanto, a pessoa que está se construindo ao pé da letra, e sim seu self, o “eu” da identidade.

Segunda geração

A segunda geração modificou profundamente a teoria. Para eles, a identidade é entendida como o resultado dos papéis que as pessoas adotam em sociedade. Quando interagimos com outras pessoas, costumamos adotar papéis sociais. Esses são padrões de comportamento definidos pela sociedade. Uma forma de entender os papéis é ver os reality shows que passam na televisão.

Nesse programas os participantes vão adotando os mesmos papéis em cada temporada. Sempre há alguém que contraria todos os demais, outro que fica mais solitário e chora muito, alguns que acabam formando casais, etc. Há uma gama de papéis que eles assumem, e isso influencia o modo como vão se comportar.

Com essa segunda geração surge também uma nova perspectiva segundo a qual as pessoas são atrizes e atores. Os indivíduos atuam e representam um papel que é determinado por essa definição dos papéis sociais. Fazemos o que se espera de nós dependendo do papel que estamos interpretando naquele momento. Papel de aluno, papel de mãe, papel de amigo.

Mas a interpretação desse papel não se dá só quando estamos interagindo com alguém. Também fazemos isso nos espaços e momentos em que as pessoas não estão olhando para a nossa atuação. Ou seja, de alguma forma acabamos interiorizando esses papéis que assumimos, acoplando-os à nossa identidade.

Máscaras no chão

O interacionismo simbólico na psicologia social

A relação do interacionismo simbólico com a psicologia é explicada, sobretudo, quando falamos da psicologia social. Segundo essa linha de pensamento, as pessoas formam suas identidades sociais, que funcionam como normas, e uma pré-determinação de valores específicos. Nos momentos em que as identidades sociais se fazem importantes, é provável que as pessoas sigam essas normas e valores, agindo dentro daquele papel.

Ainda que a psicologia social vá além dos papéis e da aceitação do comportamento como algo guiado pelas normas sociais, ela tem sua origem relacionada ao interacionismo simbólico. É inegável que as pessoas desenvolvem suas identidades, tanto as individuais quanto as sociais, quando interagem com outras pessoas. Por isso, relacionar-se com pessoas de diferentes culturas e manter uma abertura para o novo nos ajuda a nos conhecermos melhor, proporcionando a possibilidade de redefinir nossa identidade pessoal e mudar a forma como entendemos o mundo para algo mais próximo da nossa essência.


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  • Carabaña, J. y Lamo E. (1978). La teoría social del interaccionismo simbólico. REIS: Revista Española de Investigaciones Sociológicas, 1: 159-204.
  • Rizo, M. (2004). El interaccionismo simbólico y la Escuela de Palo Alto. Hacia un nuevo concepto de comunicación. Portal de la Comunicación.

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