Internet, depressão e suicídio: como se relacionam?
Um estudo de 2022 queria analisar a relação entre uso problemático da internet, depressão e ideação suicida em adolescentes como consequência da pandemia que atingiu o mundo em 2020.
Uma das conclusões é que a saúde mental dos nossos jovens tem se deteriorado consideravelmente. Consequentemente, aumentou o número de casos relatados de distúrbios do sono, distúrbios de comportamento e emoções cuja valência é intensamente negativa, como solidão, medo ou tristeza.
A realidade é que nem o confinamento nem o isolamento social decretado pelo governo ajudaram na saúde mental dos jovens. Deve-se notar que eles ajudaram a prevenir a propagação do vírus SARS-CoV-2. Nesse sentido, o confinamento obrigou os adolescentes a interagir digitalmente por meio de aplicativos para se comunicar e, assim, reduzir sua solidão.
Uso problemático da internet
O uso desadaptativo dessa ferramenta pode produzir alterações prejudiciais à saúde e ao bem-estar. Assim, um dos segmentos mais vulneráveis da população são os adolescentes. Além disso, se eles estão estudando na universidade, aumenta sua vulnerabilidade a sofrer de problemas de saúde mental, fator que pode ser compreendido devido à alta digitalização que o ensino superior está adquirindo.
O confinamento levou a um aumento quase duplo dos casos de utilização disfuncional da Internet. Após a pandemia, cerca de metade dos jovens referiu sentir-se mais dependente dos recursos da Internet e quase dois em cada dez afirmaram ter aumentado o número de horas de navegação na rede. Além de ser uma ferramenta útil no trabalho, a Internet tornou-se a única fonte de contato interpessoal com o mundo exterior.
“A Internet foi usada para combater sentimentos de solidão e isolamento.”
-Verónica Villanueva-Silvestre-
Depressão e suicídio
As taxas de prevalência de depressão são condensadas na adolescência. A prevalência refere-se ao número de casos de um distúrbio em um determinado momento. Ou seja, os adolescentes têm maior risco de sofrer de depressão em comparação aos adultos. De fato, existem estudos que elevam o percentual de sintomas depressivos em adolescentes para até 60%.
Nesse sentido, cabe destacar que existem diferenças na apresentação dos sintomas depressivos com base no gênero. Enquanto o sexo feminino tende a apresentar sintomas depressivos mais intensos, o masculino apresenta maior índice de comportamentos suicidas.
“Vários estudos com uma população universitária mostraram uma associação entre o uso problemático da Internet e a depressão”.
-Cynthia M. Apaza-
Uso disfuncional da internet e comportamento suicida
Os fatores que têm relação mais significativa com o uso disfuncional da Internet são os sintomas depressivos e ansiosos. Ou seja, quando nos sentimos tristes ou ansiosos e para lidar com nosso desconforto emocional usamos a Internet, esse uso se torna disfuncional. Além disso, usar a internet a partir desse ponto inicial de desconforto pode duplicar nossos sintomas depressivos e ansiosos.
A ideação suicida, ou seja, “pensar em cometer suicídio” e o suicídio consumado estão incluídos no termo “comportamento suicida”. Mas as tentativas de suicídio ou o fato de comunicar o desejo de cometer suicídio também estão incluídos aqui. A relação entre ideação suicida e uso disfuncional da Internet tem sido contrastada em diferentes estudos para a população adolescente.
Por outro lado, também foram encontradas associações entre o estresse de estudar um diploma universitário e os níveis de depressão. Se somarmos a esse fator o isolamento social originado como consequência do confinamento durante a pandemia de 2020, podemos constatar que o número de casos de depressão tem aumentado gradativamente.
Os adolescentes, partindo de um tom emocional negativo, com sintomas depressivos e fazendo uso da Internet com o objetivo de diminuir a sua solidão e as suas emoções de valência negativa, encontram-se numa posição óptima para o desenvolvimento de um quadro depressivo acompanhado de comportamentos suicidas.
Além disso, foram publicadas pesquisas que destacam uma relação direta entre sofrer de um transtorno depressivo e o fato de desenvolver um vício na web como consequência do uso problemático da Internet. Ambas as entidades (depressão e vício) se retroalimentam e se aprimoram (Rocco Servicio, 2022).
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