Isolamento e redes sociais: como afeta os adolescentes?

Você tem um filho adolescente que está sempre no celular e mal sai do quarto? Embora seja verdade que nessa idade eles procuram ter seu próprio espaço e privacidade, existem comportamentos que podem acabar afetando sua saúde mental. Devemos estar prevenidos.
Isolamento e redes sociais: como afeta os adolescentes?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 13 abril, 2023

Qual é a coisa mais importante para um adolescente? Se fôssemos fazer essa pergunta aos nossos jovens, o mais provável é que eles respondessem “os seus amigos”. Basta colocar o olhar nessa fase da nossa vida para recordar efetivamente a relevância do contato social cotidiano e construir essas primeiras relações, como os amigos e até os primeiros amores.

No entanto, se os adolescentes de hoje refletissem sobre seu comportamento, descobririam que, para muitos deles, o mais relevante é ter uma conexão com a Internet e um telefone celular. Embora os especialistas recomendem que a idade mais adequada para ter um aparelho seja aos 15 anos, a verdade é que, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), 66% das crianças entre os dez e os quinze anos já têm um.

E é aqui que entra a maior ironia de todas. Meninos e meninas usam seus dispositivos para fins sociais, para aproximar-se ao mundo e ficar conectados com seus colegas. No entanto, a tecnologia está causando um isolamento cada vez mais pronunciado nos adolescentes. Relacionam-se menos com o seu entorno e, principalmente, com a própria família.

O que está acontecendo? Que consequências podem ser derivadas dessas circunstâncias?

O cérebro, principalmente o dos adolescentes, não está preparado para o isolamento. Se, além disso, boa parte de suas interações vier do universo virtual da tecnologia, é provável que surjam problemas de saúde mental.

Adolescente preocupado olhando para a mídia social
A utilização do celular afasta os jovens das práticas sociais do mundo real, privilegiando o universo privado e isolado do virtual e digital.

Meu quarto e conexão com a Internet, meus refúgios

Quando uma criança atinge a pré-adolescência, é comum que ela reivindique seus próprios espaços. Poder ter abrigos exclusivos nos quais ter privacidade faz parte de seu próprio desenvolvimento psicossocial. Isso é algo que muitas vezes pode disparar o alarme para os pais, mas também é uma dinâmica com a qual eles se acostumam quando o menino ou a menina chega à adolescência.

Nesse desejo de privacidade, eles fazem de seus quartos seus santuários exclusivos; aqueles que ninguém pode entrar. O problema é que, muitas vezes, constroem um lar paralelo e isolado nesse território dentro da própria casa da família. Às vezes até insistem em comer lá e passam cada vez menos tempo na companhia dos pais e irmãos.

Nas últimas décadas, com o advento das tecnologias (vamos lembrar que elas já não são tão “novas”), essa realidade ficou um pouco mais complicada. A necessidade de isolamento e as redes sociais escondem nos mais novos uma ligação direta e diária. Plataformas como Youtube, Twich e TikTok são janelas para entretenimento, descoberta e conexão social.

Por que sair se eles têm tudo o que precisam dentro de uma tela?

Apesar de os adolescentes interagirem com outras pessoas em suas redes sociais e aplicativos, eles vivenciam uma maior sensação de solidão. No entanto, nem sempre isso os leva a sair de seus quartos e buscar outras formas de lazer.

Isolamento e redes sociais: que efeitos têm na saúde mental do adolescente?

O ser humano é uma criatura social e se há algo que motiva e deixa um adolescente feliz é sair com os amigos. No entanto, uma parte dos nossos meninos e meninas passa mais tempo em seus quartos, colados a uma tela. Essa dimensão paralela é aquela que consome todo o seu tempo, aquela que também lhes rouba a oportunidade de ter uma conexão mais próxima com o mundo.

Muitos pais veem a ligação entre isolamento e redes sociais com preocupação. Por isso, é comum proporem alternativas, como praticar um esporte, convidar amigos ou organizar uma atividade de lazer. Mas nem sempre funciona. Porque o TikTok sequestra sua atenção e é viciante, porque sempre há alguém para seguir no Twitch ou no YouTube.

Um cérebro em desvantagem

O cérebro na adolescência passa por um período chave em seu desenvolvimento. Sua arquitetura neural continua a se formar e há muitas áreas que não terminarão de se estabelecer até depois dos 20 anos. Cada experiência, interação, hábito e prática esculpe o cérebro adolescente, para o bem ou para o mal.

Uma pesquisa da Emory University, Atlanta, destaca algo interessante. A adolescência, conforme explicado nesse trabalho, é um período crítico em que a experiência social otimiza a capacidade de atingir objetivos na vida adulta. Se entre os 12 e os 18 anos esSes jovens optarem pelo isolamento, o seu cérebro sofrerá algumas alterações.

Essa falta de estímulo e conexão social afeta a tomada de decisões, a capacidade de realização e também a saúde mental. Muitas vezes, o simples fato de estar sem amigos ou com relações sociais fragilizadas já afeta o desenvolvimento psicossocial.

Isolamento, redes sociais e infelicidade

O TikTok diverte, os faz rir, experimentar desafios, conectar-se com amigos, dar-se reforços sociais uns aos outros. Eles têm WhatsApp para conversar a qualquer hora, dia e noite, além de inúmeras plataformas para serem informados sobre o que quiserem. No entanto, o mundo das mídias sociais e da tecnologia nem sempre os torna mais felizes.

Muitos descobrem a vida e começam a forjar sua identidade na solidão de seus quartos e diante de uma tela. Haverá adolescentes que se enriquecerão com isso, que lhes será positivo. Em vez disso, outros desenvolverão um problema de saúde mental. Assim, um estudo da Johns Hopkins School of Medicine destaca como o uso das redes sociais está ligado a um aumento da depressão e do comportamento suicida.

Esses aplicativos reforçam tudo, desde a comparação social até a criação de uma imagem distorcida de si mesmos. A ansiedade e o desânimo aumentam e se constrói uma baixa autoestima que orbita tudo e reforça a rejeição de sua autoimagem. Quanto maior for o vício desse tipo de cenários digitais, maior será a necessidade de isolamento. Por isso, mais o desânimo se intensifica.

Pensemos que não é compreensível pedir a um adolescente que não passe tanto tempo no computador ou no celular, quando os pais fazem precisamente o mesmo.

Aplicativos voltados para a dependência

Há um fato indiscutível. Plataformas como Instagram ou TikTok são projetadas para criar dependência. Se nos últimos tempos está sendo dado mais valor ao vídeo do que a simples postagens com mensagens, é pela atração que gera no cérebro. Se somarmos a isso os algoritmos perfeitamente programados para nos oferecer o conteúdo que gostamos, é muito fácil passar horas sem perceber.

Os adolescentes têm maiores problemas em manter o autocontrole e isso explica os problemas óbvios em parar de usar o celular. Muitas vezes, o isolamento é reforçado pelo poder de ação desses programas.

Rosto de uma adolescente com isolamento e redes sociais
A conexão social saudável dos adolescentes com seu entorno é fundamental para seu desenvolvimento psicológico.

Como enfrentar as tendências de isolamento causadas pelas redes sociais?

Sabemos que o isolamento e as redes sociais têm uma relação direta e que isso afeta especialmente os adolescentes. O que podemos fazer sobre isso? Estas seriam algumas chaves para reflexão.

  • É preciso educar nossas crianças desde muito pequenas no uso saudável da tecnologia.
  • Evitemos oferecer-lhes um celular antes dos 15 anos, que é a idade recomendada pelos especialistas.
  • Não é recomendado que as crianças tenham seu próprio computador no quarto. É melhor instalá-lo em um espaço comum onde os adultos possam supervisionar seu uso.
  • O uso da internet deve ter horários estabelecidos. Além dessas horas (e principalmente à noite) é aconselhável deixar de usá-la.
  • Como adultos, devemos monitorar que tipo de uso os adolescentes fazem de suas redes sociais.
  • Os pais devem ser os melhores modelos para seus filhos. Vamos dar o exemplo.
  • Vamos garantir que os adolescentes realizem atividades que promovam a sua ligação social com o exterior e para além dos seus quartos. Praticar esportes, aprender música ou dançar é uma forma de conectá-los com o mundo e com uma paixão.

Para concluir, uma das maiores contas pendentes que temos com nossos adolescentes é oferecer-lhes mecanismos para um uso mais saudável das redes sociais. Infelizmente, isso nem sempre será possível, pois os desenvolvedores das mesmas visam que, como usuários, passemos o máximo de tempo possível em suas plataformas.


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