Isabel Allende: biografia de uma escritora sublime

Uma ativista da escrita cujas armas são o amor e a beleza. Convidamos você a nos acompanhar nesta pequena viagem para descobrir um pouco mais sobre uma das escritoras latino-americanas que mais se destacaram nas últimas décadas. 
Isabel Allende: biografia de uma escritora sublime
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Isabel Allende Llona é uma escritora chilena cuja obra foi traduzida para trinta e cinco idiomas. Com mais de setenta milhões de livros vendidos, é considerada a escritora viva de língua espanhola mais lida do mundo. Além disso, é filha do diplomata Tomás Allende Pesce, primo do ex-presidente do Chile, Salvador Allende, derrubado pelo golpe militar de 11 de setembro de 1973.

Através de sua escrita, Isabel Allende revelou a beleza sublime contida no feminino e invocou magicamente aquelas qualidades geralmente reprimidas e latentes de seus leitores. Em tempos de tumultos políticos, escolheu o ativismo literário contra as diretrizes ideológicas patriarcais e ofereceu às mulheres um extenso manifesto sobre o seu despertar pessoal.

Com uma sensibilidade incrível, Isabel Allende soube nos transmitir um amor incondicional pela  beleza , pelo belo do mundo e das pessoas. Ler suas obras ou escutá-la é um ato que, por si só, eleva o espírito.

Uma mulher comprometida em fazer deste um lugar melhor. Uma ativista da escrita cujas armas são o amor e a beleza. Hoje percorremos sua vida e parte de sua obra no que tem a intenção de ser uma pequena homenagem a esta grande mulher que nos deu tanto.

Os primeiros anos de Isabel Allende

Nasceu em Lima, no Peru, onde morou durante o tempo em que seu pai trabalhava como diplomata. Em consequência da separação de seus pais, Isabel foi para o Chile com a sua mãe e seus irmãos. Durante um tempo, viveram na casa de seu avô materno, uma figura autoritária que deu a Isabel alguns aspectos muito importantes de sua vida.

Após ter terminado seus estudos, se casou com seu primeiro marido, Miguel Frias, que foi o pai de seus dois filhos: Paula e Nicolás.

Em 1967, Isabel se tornou a editora da revista para mulheres chamada Paula. Seus artigos, que se concentravam no papel das mulheres na sociedade chilena, eram hilariamente irônicos e, portanto, geraram uma grande controvérsia. Esta foi uma época de grandes mudanças no Chile, caracterizadas pela modernidade e pelo movimento de libertação das mulheres dentro de uma sociedade católica, conservadora e patriarcal.

“Houve um tempo no qual não era considerado sexy ser feminista. O patriarcado foi muito hábil em criar o estereótipo da mulher feminista que não se depila”.
-Isabel Allende-

Palestra de Isabel Allende

Sua carreira e seu exílio

Foi depois do golpe militar que Isabel Allende se viu obrigada a se exilar na Venezuela, onde permaneceu por quase 13 anos trabalhando em um jornal e em uma escola. Durante sua estadia na Venezuela, recebeu a notícia do gravíssimo estado de saúde de seu avô.

Por não poder voltar ao Chile para ficar ao lado do avô, Isabel começou a escrever-lhe uma carta que acabaria se transformando em um sucesso literário sem precedentes  para uma mulher latino-americana: A Casa dos Espíritos . Em 1993, este trabalho chegaria ao cinema nas mãos de Bille August com grande sucesso.

Após o sucesso de seu primeiro romance, Isabel Allende escreveu mais dois livros que foram, outra vez, um sucesso absoluto no mundo das letras: De amor e de sombra e Contos de Eva Luna. Logo após a publicação de seu terceiro livro, Isabel decidiu deixar seu trabalho na escola e se dedicar por completo à escrita.

Após o divórcio de seu primeiro marido, Isabel se casou com William Gordon, um advogado norte-americano, e se mudou para os Estados Unidos, onde mora desde 1988.

A morte de sua filha Paula e o despertar para a vida

Em 1992, sua filha Paula morreu tragicamente aos 28 anos em um hospital de Madri. Este acontecimento afetou profundamente Isabel, que caiu em um estado de tristeza e desespero do qual demorou um bom tempo para sair.

Durante este longo e doloroso período, Isabel escreveu o romance Paula, uma reflexão da infância e da juventude de sua querida filha. Um tributo de amor para sua filha que se consolidou como outro best-seller no qual muitas mulheres se reconheceram.

Paula é um romance que, assim como A casa dos espíritos, começou sendo uma carta, uma declaração de amor e, ao mesmo tempo, uma viagem para a aceitação da morte de sua filha. A escrita começou no hospital, ao lado de sua filha, observando como ela se “apagava” pouco a pouco. O que realmente indica que Paula não é apenas uma carta para a sua filha, mas sim um relato autobiográfico no qual a autora narra a história de sua família.

No marco da situação de seu país e dos dramas e viagens familiares, Allende despiu sua alma neste romance. Em muitas ocasiões, Isabel Allende comentou sobre o poder curativo da escrita para enfrentar os grandes dramas da vida. Em Paula, percebemos como a própria autora vai aceitando as circunstâncias e a morte de sua filha. Um romance que, de alguma forma, foi um exercício terapêutico e de tomada de consciência com a realidade.

Com o dinheiro arrecadado com as vendas de Paula, ela criou a Fundação Isabel Allende como uma homenagem à sua filha, que tinha trabalhado como educadora social e psicóloga em comunidades marginais na Venezuela e na Espanha.

Quatro anos mais tarde, superando sua profunda depressão, Isabel escreveu Afrodite. Este livro se transformou em uma exaltação do fato de estar vivo e uma apreciação dos sentidos. É considerada uma canção de vida dedicada à gratidão e à sensualidade, escrita com a mesma sensibilidade que foi encontrada em todos os seus trabalhos anteriores.

Isabel Allende sorrindo

O famoso reflexo do feminino na obra de Isabel Allende

Toda a obra de Isabel Allende nos faz lembrar da muito amada musa de Dante, Beatrice (Bice) , que consolidou o estereótipo da “mulher ideal” tão idealizada pelo masculino. A mulher que, pelo simples fato de existir, melhora o amado. Mulheres que devolvem o reflexo de quem as ama. O “grande outro” através de quem se conectam com a própria natureza divina. A fonte por trás do espelho de onde emana a criatividade, a inspiração e os melhores aspectos de si mesmo, elevando-o além do potencial humano. A “mulher espelho”, assim como Dante via sua Beatrice.

De forma pessoal e profissional, Isabel Allende foi capaz de transmutar este arquétipo tradicional de “mulheres ideais” que nós aprendemos com Dante e criou, com sua literatura, um novo espelho no qual as mulheres que se refletem se reconhecem e se apaixonam por si mesmas.

Ao longo de toda a obra de Isabel Allende, encontramos uma infinidade de mulheres protagonistas, mulheres distintas e de diversas procedências, assim como acontece na realidade.

Assim, nós temos, por exemplo, A cidade dos deuses selvagens, obra na qual, ainda que a mulher não seja a protagonista principal, possui um papel fundamental. Devemos adicionar aqui que a mulher em A cidade dos deuses selvagens tem uma idade avançada e, ainda assim, nada a detém.

Outro traço significativo da escritora chilena é seu reflexo da América Latina. De seus costumes, tradições, da dualidade existente e das tribos indígenas. Isabel reivindica a beleza das pessoas e do mundo em cada canto, em qualquer sociedade, por mais remota que seja .

“Talvez estejamos neste mundo para buscar o amor, encontrá-lo e perdê-lo, várias vezes. Com cada amor, nascemos de novo, e com cada amor que termina, ganhamos uma ferida nova. Estou coberta de orgulhosas cicatrizes”.
-Isabel Allende-


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