Lembranças, os tijolos que constroem nossa vida

Lembranças, os tijolos que constroem nossa vida

Última atualização: 23 abril, 2015

As lembranças são como ondas do mar, vêm e vão. Caprichosas, nos trazem um instante do passado: uma voz, um cheiro, um som, um momento marcado pela tristeza ou pela alegria… Estamos cheios de recordações que nos determinam e constroem, são nossas raízes e traçam o que somos: seres que experimentam, crescem, amadurecem e aprendem. 

A dupla face das lembranças

As lembranças são imagens do passado que se arquivam na memória, reproduções que ocorrem em um momento determinado, às quais costumamos dar uma interpretação e que normalmente carregam uma determinada carga emocional. Estes dois conceitos “memória/emoção” estão tão unidos que em certas ocasiões o mero fato de nos sentirmos felizes, assustados ou tristes implica que quase sempre surja uma determinada lembrança do passado. São reações afetivas que demonstram o grande peso que as recordações têm em nossa personalidade.

Mas, como dizia Cervantes: “Ó memória, inimiga mortal do meu descanso”, em algumas ocasiões as lembranças também nos fazem sofrer. Pode chegar um momento em que nos apegamos exageradamente a uma determinada recordação até nos distanciarmos da nossa realidade e das nossas responsabilidades, caindo, por exemplo, em uma depressão ou crise nervosa. O problema não é olhar para o passado e lembrar, o preocupante é quando se vive no passado de forma continuada. Isto pode levar a um temor ao presente e aos desafios que a vida nos proporciona. Ancorar-se no passado proporciona um sentimento de segurança permanente, mas não é uma situação real, nem madura. Devemos levar isso em conta sempre.

Recordações positivas para viver melhor

As boas lembranças são usadas muito frequentemente na psicologia para criar vínculos com experiências pessoais significativas do nosso passado. Tudo aquilo com carga positiva que vivemos em algum momento de nossa existência tem o potencial de nos encher de ânimo e coragem no presente. O mistério que há por trás de tudo isso é que as boas lembranças podem ser utilizadas para potencializar nossos recursos presentes.

Esta situação nos demonstra muitas vezes que não estamos tão longe de onde queremos estar, mas que já temos parte da solução dentro do nosso baú de experiências. Possuímos os chamados neurônios espelho, que além de favorecer nossa empatia e compreensão, permitem que nos conectemos com uma lembrança de nosso cérebro, recriando o mesmo estado experimentado no momento original, sejam as emoções agradáveis ou desagradáveis. Deste modo, e se por exemplo, quisermos aprender a ser mais assertivos, eles nos ajudarão a lembrar de momentos em que agimos com segurança e desenvoltura, reconectando-nos com as sensações positivas que este comportamento que desejamos potencializar nos produziu.

Além disso, podemos também aprender a reviver nossas lembranças agradáveis e beneficiar-nos dos efeitos positivos ao relembrar um situação que vivemos como satisfatória, emocionante ou motivadora. Mais ainda, se evocamos boas lembranças de forma continuada para nos ajudar a fortalecer nossos recursos atuais de enfrentamento, podemos criar um sistema auto-alimentado de proteção e bem-estar.

Quanto mais ânimo sentimos com as coisas boas que aconteceram em nossa vida, mais recarregamos nossas baterias de energia positiva. Essa energia positiva não apenas faz com que nos sintamos bem, mas também aumenta a possibilidade de podermos reagir com menos depressão diante de acontecimentos negativos. É o que na psicologia chamamos de resiliência.

Desta forma, podemos concluir dizendo que, embora não devamos viver de lembranças, as lembranças nos ajudam a viver. 


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