Lição de casa em psicoterapia: qual a sua importância?

A lição de casa aumenta o envolvimento e a autonomia do paciente, reduzindo a duração da terapia e otimizando sua eficácia. Descubra a importância destes exercícios entre as sessões.

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 03 março, 2023

Se você nunca foi a um psicólogo, talvez não saiba como é comum, nesses casos, receber atividades para trabalhar certos aspectos. Se você já fez psicoterapia, pode ter parecido estranho para você ter que cumprir aquela série de exercícios, pode até ter parecido injusto para você ter que passar um tempo fora da sessão para continuar trabalhando por conta própria. No entanto, essas atividades são muito importantes em todo o processo.

Vale ressaltar que nem todos os profissionais as utilizam, pois as diversas correntes psicológicas possuem procedimentos próprios. No entanto, a psicoterapia cognitivo-comportamental, que tem se mostrado uma intervenção eficaz para muitos transtornos mentais, faz uso frequente delas. Por este motivo, queremos te contar em que consistem e para que servem.

O que é lição de casa em psicoterapia?

Estamos falando de uma série de atividades ou exercícios que o psicólogo projeta e propõe ao paciente que devem ser feitos entre as sessões. Essas tarefas aumentam progressivamente em dificuldade e, de certa forma, orientam o processo terapêutico. Assim, é frequente que em cada reunião os primeiros minutos sejam dedicados à revisão desses exercícios e o trabalho continue com base nas informações que eles fornecem.

As tarefas agendadas são acordadas entre o paciente e o terapeuta, envolvendo gradualmente o primeiro nesta tarefa à medida que as sessões avançam. Em outras palavras, eles colaboram no desenho dessas atividades para adaptá-las à sua situação particular. Em nenhum caso são uma imposição nem devem ser vistas como uma lição de casa da escola; são sugestões que ajudam a acelerar e otimizar o processo de terapia e recuperação.

Deve-se levar em conta também que essas tarefas cumprem finalidades diferentes dependendo do momento. No início da psicoterapia ajudam a estabelecer uma linha de base, para compreender melhor o que o paciente pensa, sente e faz, em que contextos e por que razões. Durante o processo permitem praticar e interiorizar os avanços; e, ao final, buscam principalmente prevenir a recaída e fortalecer as mudanças.

Que tipos de lição de casa são geralmente estabelecidos?

Existem diferentes tipos de exercícios que o terapeuta pode propor para complementar o trabalho feito na consulta. Tudo vai depender do problema a ser trabalhado e das necessidades particulares do caso. No entanto, estas são algumas das tarefas mais comuns:

Registros e autorregistros

Esta é uma das ferramentas mais úteis, pois permite detectar, identificar e compreender comportamentos ou cognições problemáticas, para posteriormente trabalhá-los. Frequentemente são utilizados os autorregistros, nos quais o paciente anota a frequência de determinados eventos (por exemplo, um pensamento) e o contexto que os envolve.

No entanto, também pode ser pedido a uma pessoa próxima que colabore e se envolva neste registo (por exemplo, quando falamos de hábitos nervosos, pode ser difícil para a própria pessoa perceber cada vez que os inicia).

Introspecção e autoconhecimento

Se uma pessoa deseja se envolver em seu processo de psicoterapia, ela deve estar aberta para conhecer, compreender e explorar partes de seu mundo interior que pode ter negligenciado anteriormente. Por esse motivo, é possível que o profissional peça ao paciente que reflita sobre determinada pessoa, situação ou acontecimento e anote as impressões e sentimentos a respeito.

A escrita tem um grande efeito terapêutico e permite organizar ideias e liberar emoções complicadas, tornando-se um exercício poderoso.

Biblioterapia e cineterapia

O material escrito e audiovisual também pode ser um bom complemento, pois permite mudar a perspectiva com a qual você olha para um problema, aprender mais sobre ele ou adquirir novas habilidades.

Assim, como lição de casa pode ser proposta a leitura de um livro ou fragmento, ou assistir a um filme de forma consciente e comprometida. Na sessão seguinte, as reações e impressões são compartilhadas e o material é trabalhado.

Exercícios práticos

Finalmente, diferentes exercícios também podem ser programados para praticar alguma habilidade ou estratégia de enfrentamento. Por exemplo, é comum que a pessoa seja orientada a praticar exercícios respiratórios e de relaxamento regularmente, ou a colocar em prática técnicas assertivas aprendidas em consulta.

As exposições a certas situações também são frequentemente programadas para serem realizadas entre as sessões no tratamento de diversos transtornos de ansiedade.

A importância e a utilidade do dever de casa

Essas tarefas são tão importantes quanto o trabalho feito na sessão, pois cumpri-las permite obter vários benefícios:

• Ajudam a melhorar a compreensão da situação pessoal e do problema a ser trabalhado
• Elas permitem obter informações mais precisas e confiáveis sobre cognições e comportamentos problemáticos.
• São muito úteis para praticar habilidades e consolidar novas formas de proceder.
• Permitem encurtar o tratamento e torná-lo mais eficaz.
• Favorecem a autonomia do paciente, tornando-o capaz de progredir e gerir-se sem depender do terapeuta.

Apesar desses benefícios, não é incomum que algumas pessoas apresentem resistência para realizar determinadas tarefas ou exercícios. Isso pode denotar falta de comprometimento com o processo, mas também dúvidas quanto às tarefas ou seu alto grau de complexidade.

Por isso, é importante que paciente e terapeuta trabalhem juntos para aumentar a motivação, entender a importância dessas tarefas e poder tirar o máximo proveito delas.