7 curiosidades do livro "A interpretação dos sonhos" de Freud

Na noite de 23 de julho de 1895, Sigmund Freud sonhou com uma de suas ex-pacientes, Irma. Aquele sonho estranho e incômodo serviu de inspiração para iniciar uma de suas obras mais conhecidas: "A interpretação dos sonhos". Analisamos suas curiosidades.
7 curiosidades do livro "A interpretação dos sonhos" de Freud
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 30 dezembro, 2022

Desde que Sigmund Freud começou a tratar seus pacientes, ele estava ciente da importância dos sonhos para as pessoas que sofrem. Intrigado com esse fato e com obras anteriores que havia lido, como o livro do século XVII de Sir Thomas Browne sobre a interpretação de seus sonhos, ele encorajou qualquer pessoa que estivesse em tratamento a lhe relatar seus episódios oníricos.

Logo assumiu que esses processos inconscientes revelavam, segundo ele, desejos e vontades reprimidas. As pessoas disfarçam seus impulsos e traumas perturbadores por meio de toda uma ourivesaria de simbolismo oculto. A partir desse momento, decidiu tratar os sonhos como um sintoma e aplicar um método rigoroso de interpretação baseado em métodos psicanalíticos.

Foi em 1899, quando Freud apresentou seu livro à comunidade científica, explicando que havia algo irreprimível nele que o levou a escrevê-lo. A intuição, disse ele, às vezes nos toca apenas uma vez na vida e é preciso aproveitá-la. Desse impulso surgiu uma das obras mais controversas da época, mas também uma das mais decisivas da história da psicologia.

O sonho constitui uma espécie de válvula de segurança para a alma.

-Sigmund Freud-

imagem para simbolizar a interpretação dos sonhos
Em seus primeiros dias, Freud usou a hipnose como terapia. Mais tarde, esse método também lhe serviu para analisar os sonhos de seus pacientes

Curiosidades do livro A interpretação dos sonhos de Freud

Uma das teses que Sigmund Freud defendeu ao longo de sua vida foi que compreender os sonhos é como ter a chave que abre a fechadura do inconsciente. Em outras palavras, todo psicanalista que quisesse ter uma visão completa de seu paciente tinha que desvendar o território onírico para compreender a experiência de vigília de quem sofre.

Poderíamos dizer, portanto, que A Interpretação dos sonhos é o texto mais clássico da psicanálise e que quem deseje explorar as principais teorias freudianas tem este livro como leitura obrigatória. Embora Freud tenha sido um escritor prolífico e tenha nos oferecido um total de mais de 320 artigos, ensaios e livros, sua contribuição mais decisiva e inovadora foi justamente esta obra, originalmente publicada como Die Traumdeutung. Vamos conhecer em seguida as curiosidades mais marcantes do livro A interpretação dos sonhos.

Independentemente de validarmos ou não as teorias que Freud nos deu sobre o tecido onírico do ser humano, há um fato que ninguém questiona: o impacto cultural e a importância histórica de “A Interpretação dos sonhos” são inquestionáveis.

1. Freud começou analisando seus próprios sonhos

Sigmund Freud teve um sonho em 1895 que seria decisivo para iniciar a escrita de seu livro. No verão desse mesmo ano, tratou de uma jovem chamada Irma, amiga da família. A terapia não deu certo e a menina abandonou o tratamento, sentindo-se incomodada com o que Freud estava propondo.

Algumas semanas depois, Freud perguntou a um conhecido sobre o estado da menina. Essa pessoa respondeu que Irma não está exatamente bem. Naquela mesma noite, o pai da psicanálise tem um pesadelo: encontra sua antiga paciente em uma grande sala. Ele tenta levá-la para convencê-la a voltar à terapia; nesse momento a menina abre a boca e seu corpo começa a se encher de pústulas e malformações. Sigmund Freud percebe que esse sonho revela sua má consciência por não tê-la ajudado quando ela precisou.

2. Um sucesso que demorou para ser construído

Entre as curiosidades do livro A Interpretação dos sonhos de Freud destaca-se o fato de que ele quase não teve impacto após sua publicação. Uma tiragem de 600 exemplares foi lançada no mercado e levaram mais de 8 anos para serem vendidos. Nenhuma revista científica o revisou e poucas publicações o citaram.

Mais tarde, à medida que o próprio pai da psicanálise ganhou notoriedade, o livro acabou ganhando grande fama. Sete edições foram publicadas durante a vida de Freud, e ele mesmo acabaria escrevendo uma versão mais curta.

3. Freud acreditava que os sonhos eram quebra-cabeças de imagens

Sigmund Freud pensava que os sonhos eram na verdade quebra-cabeças de imagens, narrativas de sonhos que na verdade escondiam significados ocultos. É verdade que às vezes essas telas oníricas são estranhas e até absurdas, mas como ele mesmo explicou, a interpretação desses mundos era muito poética e bonita ao mesmo tempo.

Envolvia nada mais e nada menos que decifrar os desejos ocultos do paciente, e essas necessidades libidinais impressas nas camadas mais profundas da psique.

4. A técnica de “associação livre” para interpretar os sonhos

Josef Breuer foi um médico, fisiologista e psicólogo austríaco que teve grande influência na vida de Freud. Foi graças ao trabalho conjunto no tratamento da paciente Anna O que começou a gênese da psicanálise. Uma das técnicas que usaram para tratar a histeria daquela jovem foi baseada na hipnose e em um novo recurso que chamaram de técnica de associação livre.

Ao interpretar os sonhos dos pacientes, Freud aplicou essa estratégia aprendida com Breuer: pedir-lhes que evocassem quaisquer pensamentos associados a certas imagens oníricas. Pouco a pouco, ele mesmo os guiou nesse esforço de trazer à tona aquelas ideias e necessidades que tinham maior resistência.

Mente com um homem dentro para simbolizar A interpretação dos sonhos
“A interpretação dos sonhos” marcou o início da psicanálise

5. Nem tudo era sexo

É verdade que quando pensamos em como Freud interpretava as simbologias oníricas, supomos que quase tudo estava ligado a desejos sexuais reprimidos. No entanto, como ele apontava, às vezes um charuto era apenas um charuto: nem tudo tinha um significado sexual. Mas sim a maioria dos elementos…

Por exemplo, para Freud a pessoa muitas vezes se visualiza na forma de uma casa. Se as paredes lisas fossem lisas, eram homens. As que tinham varandas simbolizavam as mulheres. Crianças e irmãos eram simbolizados como pequenos animais ou bichos peçonhentos. Objetos como punhais, lápis, lanças, espadas, armas de fogo, telescópios ou torneiras eram a representação da genitália masculina…

6. Um sonho que se tornou realidade

Uma das curiosidades do livro A Interpretação dos sonhos tem a ver com presságios. Com um desejo que o destino tornou realidade. Quando Sigmund Freud estava escrevendo seu livro, ele não estava muito confiante de que seu trabalho teria algum tipo de impacto na comunidade científica e no público em geral. Como ele disse a um de seus alunos e colegas:

“Você acha que algum dia uma placa de mármore será colocada nesta mansão, inscrita com estas palavras: nesta casa, em 24 de julho de 1895, o segredo dos sonhos foi revelado ao Dr. Sigmund Freud’? Neste momento, vejo poucas perspectivas para isso.”

—Freud em carta a Wilhelm Fliess, 12 de junho de 1900-

O futuro quis assim. Seu desejo foi realizado. Em 1963, a mansão Belle Vue, a casa onde viveu Freud, foi demolida, mas depois foi colocada uma placa comemorativa com a inscrição.

7. Elogios e críticas de A Interpretação dos sonhos

A interpretação dos sonhos não é para muitos a principal obra de Freud, embora não deixe de ser um legado histórico para a psicologia, a filosofia e o pensamento. Sua leitura é interessante tanto para os leigos quanto para os profissionais da psicologia. Os casos que ele nos conta são cheios de interesse, mistério e da pátina original da psicanálise.

Por outro lado, as críticas a este trabalho têm sido muitas, e muitas delas corretas. Há uma notável falta de rigor científico em todas as suas páginas. Suas ideias não foram validadas em nenhum estudo em que as variáveis tenham sido isoladas; assim, muitas das conclusões de Freud carecem de suporte empírico.

No entanto, sua importância permanece inegável. A interpretação dos sonhos de Freud responde à iniciativa de esclarecer uma parte de nossa vida sobre a qual, ainda hoje, sabemos muito pouco.


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  • Freud, Sigmund (2013) La interpretación de los sueños. Akal. Madrid
  • Freud, Sigmund. Obras completas de Sigmund Freud. Buenos Aires & Madrid:
  • Marinelli, Lydia and Andreas Mayer A. (2003) Dreaming by the Book: A History of Freud’s ‘The Interpretation of Dreams’ and the Psychoanalytic Movement, New York: Other Press. ISBN 1-59051-009-
  • Zhang W, Guo B. Freud’s dream interpretation: A different perspective based on the self-organization theory of dreaming. Front Psychol. 2018;9. doi:10.3389/fpsyg.2018.01553

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