A literatura e a poesia podem nos ajudar a superar uma depressão?

A literatura e a poesia podem nos ajudar a superar uma depressão?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Para os gregos, as bibliotecas eram espaços que curavam a alma. A literatura e a poesia podem, sem dúvida, ser uma ferramenta terapêutica para superar uma depressão, porque um livro é muito mais do que um refúgio. Este ambiente de letras e mundos inspiradores é uma descoberta, um canal capaz de nos despertar, nos permitindo confrontar, descobrir e até renascermos com mais coragem.

A literatura, por si só, não fará uma pessoa superar uma depressão. Este é um aspecto que deve ficar claro desde o início. Esses tipos de transtornos, como já sabemos, exigem sempre uma abordagem multidisciplinar. Uma terapia adequada, aconselhamento, medicação, uma dieta equilibrada e um estilo de vida saudável se destacam como as abordagens ideais para gerar progressos e melhorias.

“Busquei a tranquilidade em todos os lugares e só a encontrei sentado em um canto isolado, com um livro nas mãos”.
– Thomas De Kempis –

Agora, os antigos gregos não estavam errados quando viam os livros como ferramentas de cura. Isso também foi constatado em vários hospitais britânicos durante a Primeira Guerra Mundial. Muitos soldados que sofriam de transtornos traumáticos encontraram um alívio mais do que reconfortante quando os médicos e enfermeiras colocaram à sua disposição uma biblioteca selecionada especialmente para eles.

Quando o nosso interior está machucado, a literatura e a poesia podem se tornar agentes valiosos de reconstrução, atuando como aliados para a mudança. São ambientes que nos impulsionam para a cura, nos levam a encontrar a calma quando a mente depressiva segue o ritmo do caos. Os livros são pílulas para a tranquilidade e catalisadores do bem-estar.

Mulher lendo um livro

A literatura e a poesia realmente podem nos ajudar a superar uma depressão?

Matt Haig é um escritor britânico que alcançou o sucesso através de um livro com o título chamativo: ‘Razões para Continuar Vivo’. Nele, ele narra de maneira comovente o que significa passar vários anos com depressão. Longe de ser um livro de autoajuda, o que o autor quer é deixar claro um aspecto simples. Cada pessoa deve ser capaz de encontrar a sua própria estratégia, a sua razão de viver para se afastar do precipício, a sua motivação para renascer, a sua chave para fechar a porta da depressão. A sua estratégia foram os livros, e especificamente a narrativa de ficção.

Matt Haig chegou à mesma conclusão que muitos psicólogos e psiquiatras, embora esses profissionais costumem ir um pouco mais longe.Além dos livros de ficção, a poesia também se destaca como uma ferramenta terapêutica excepcional para muitos pacientes que passam por esse distúrbio psicológico.

Vejamos quais são as razões que justificam essas conclusões. Por que a literatura e a poesia são tão úteis para o nosso bem-estar psicológico?

Os livros de ficção nos fazem acordar

Ler livros de ficção nos torna mais humanos. Essa frase pode soar um pouco exagerada porque quem não se lembra de que já é, por excelência, um ser humano pensante e sensível? As pessoas que sofrem de depressão estão cativas em um espaço onde nem sempre têm controle sobre o que pensam. Tudo que sentem é sempre nocivo, negativo e autodestrutivo.

  • A leitura de ficção supõe, antes de mais nada, nos despojarmos de nós mesmos para empatizarmos com alguns personagens.
  • O cérebro relaxa, a mente fragmentada encontra a calma conectando-se com uma história, com alguns detalhes, com emoções específicas.
  • Ao mesmo tempo, e não menos importante, os enredos que esses protagonistas vivenciam são cheios de mudanças, e uma mudança é o que os pacientes que estão passando por uma depressão precisam.

Um livro de ficção oferece a possibilidade de refletir sobre outras perspectivas, de se contagiar pelo otimismo, de absorver novos objetivos, sonhos e relações de confiança.

A beleza da leitura

“Se o livro que lemos não nos desperta como um soco que atinge a nossa cabeça, por que o lemos? Para que nos faça felizes? Meu Deus, também seríamos felizes se não tivéssemos livros, e poderíamos, se necessário, escrever os livros que nos fariam felizes. Um livro deve ser como um picador de gelo que quebra o mar congelado que temos por dentro”.

– Kafka, trecho de uma carta escrita para Oskar Pollak (1904) –

Poesia para descrever a complexidade da vida

Dizem que o primeiro testemunho poético da nossa história tem mais de 4.300 anos. É uma ode à deusa Inana e é uma obra de Enheduanna, uma poetisa acadiana. Por que começamos este estilo literário? O que o ser humano estava procurando com esse jogo de palavras, essas rimas, estrofes e belas composições?

De acordo com um artigo do Instituto Max Planck de Estética Empírica de Frankfurt, esse estilo literário nos permite definir as emoções com mais profundidade. E vai além: numa vida tão difícil como a que nos rodeia com tanta frequência, precisamos de um tipo de linguagem capaz de lidar com essa dificuldade, de simplificá-la, de brincar com ela, de desafiá-la, de ser o seu reservatório de emoções, a sua catarse, a sua alquimia diária…

Mulher lendo na praia

A literatura e a poesia como uma forma de renascer

Embora muitas vezes digamos que a literatura e a poesia são o nosso refúgio, na realidade elas são a nossa saída. São uma janela particular para espiar o mundo, são aquela porta através da qual saímos fortalecidos. Porque ninguém está isolado enquanto lê um livro, na verdade está se reconstruindo. Está descobrindo outras possibilidades, está reorganizando as ideias, incluindo novas e destruindo outras.

Ninguém sai ileso depois de ler um romance, depois de ler um poema. Algo muda em nós, algo nos cura e nos desperta para olharmos a nós mesmos e o mundo de uma maneira diferente. De uma maneira mais saudável e sábia. Portanto, não podemos subestimar o poder da literatura e da poesia para favorecer uma melhora nos processos depressivos. Elas podem ser excelentes aliadas.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.