A má formação facial e seus efeitos inesperados

A má formação facial e seus efeitos inesperados
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 21 novembro, 2018

A má formação facial e as cicatrizes no rosto podem provocar um forte impacto psicológico na pessoa afetada. Lembremos que, ainda que o rosto não seja a identidade em si, ele se constitui como seu principal símbolo. Por isso, a formação do rosto tem um efeito tanto na formação da identidade individual quanto na identidade social.

Reconhecemos as outras pessoas pelo rosto. Não é por suas mãos, suas pernas ou pelo contorno do seu corpo. Sabemos que alguém é alguém ao olhar para a sua face. Nas sociedade ocidentais, a má formação facial, as cicatrizes ou as marcas muito pronunciadas costumam ser interpretadas como defeitos e causar rejeição.

Dependendo do contexto, o efeito de uma má formação facial e de outras marcas no rosto pode ir desde o moderado até o muito grave. Às vezes sua incidência é menor, mas em outras a influência no estado emocional da pessoa é muito grande, principalmente quando essas marcas já estão lá desde idades muito jovens ou em ambientes que a aparência física é muitíssimo valorizada.

“As cicatrizes são lugares por onde a alma tentou passar mas foi obrigada a voltar; ela foi impedida de passar e a briga causou uma ferida”.
-J. M. Coetzee-

A má formação facial e a interação

As pessoas com diferenças físicas visíveis costumam estabelecer uma interação particular com o mundo. Um estudo detectou que muitas pessoas reagem tomando distância ou afastando o olhar quando estão diante de alguém com má formação facial ou marcas no rosto. Um pequeno gesto, e automático, mas que, sem dúvidas, tem um grande impacto. É uma forma de rejeição, mesmo que sutil, que essas pessoas com marcas no rosto devem enfrentar várias vezes na sua vida.

O outro aspecto é que quem tem essas marcas no rosto recebe uma atenção não desejada em espaços públicos. Alguém com um rosto comum não tem constantemente a atenção de estranhos que estão apenas passando na rua. Ao contrário, alguém com má formação facial ou marcas no rosto recebe olhares de muitos desconhecidos que fixam sua atenção na pessoa. Às vezes, podem inclusive chegar a fazer comentários a respeito.

Desse modo, quem tem esse tipo de problema deve suportar constantemente uma intrusão dos demais no seu espaço íntimo e pessoal, uma invasão da sua privacidade. Basicamente, é como se não tivessem o direito de estar por aí, em seu anonimato. São objeto de olhares que questionam e avaliam.

Mulher com cicatriz no rosto

A marca e o destino

A primeira coisa para a qual olhamos quando alguém dirige a palavra a nós é o seu rosto. Consciente ou inconscientemente, esse rosto remete a certos significados e simbolismos. Já se sabe, por exemplo, que no Equador uma família rejeitou seu próprio filho porque ele nasceu com uma grande mancha de cor púrpura no rosto. Os familiares a assumiram como um sinal de má sorte, associado a algumas crenças supersticiosas. Isso fez com que a família o abandonasse.

Muitas pessoas fazem esse tipo de associação bastante arbitrária. Um rosto marcado é frequentemente relacionado com uma realidade simbólica subjacente. É o feio, algo do mal, ou algo sinistro. É por isso que um estudo realizado na Europa em 2009 detectou que até 56% das pessoas com marcas no rosto apresentavam sintomas de depressão.

Surpreendentemente, outro estudo realizado no Reino Unido revelou que os adolescentes com uma má formação facial ou com problemas cranioencefálicos de nascimento mostravam um maior grau de autoaceitação que outros com um rosto comum. O estudo não expôs as razões encontradas para isso.

Homem enfrentando dificuldades

O caminho de uma autoaceitação

Uma pessoa com má formação facial, com cicatrizes de acne ou decorrentes de um trauma físico, ou com marcas de qualquer outro tipo no rosto não têm uma vida fácil. É comum que essas condições levem ao isolamento, ao sentimento de vergonha diante de si mesmo e a limitações na realização de atividades.

Em uma pesquisa realizada em 2008, observou-se que metade da amostra tinha problemas de autoestima, 21% experimentava ansiedade e 26% sentia raiva e frustração com a vida.

Como em tantas outras realidades difíceis da vida, a da má formação facial e das marcas no rosto também podem ser abordadas, trabalhadas e superadas. O trabalho deve ser orientado para a autoaceitação, ainda que isso seja o oposto do que se vê no mundo, na aceitação dos outros. Não é um processo que estará isento de sofrimento e de altos e baixos, mas a melhora é possível.

Má formação facial

Uma pessoa com  diferenças visíveis em seu rosto, caso precise, deve contar com uma ajuda psicológica para trabalhar sua autoaceitação e sua autoestima. Com o apoio adequado, conseguirá colocar a marca no seu devido lugar, o qual realmente corresponde a ela: um pequeno azar.

Nesse sentido, os estudos nos dizem que quem enfrenta um grande desafio mas consegue superá-lo tem, em geral, uma sabedoria muito maior e recursos melhores para construir uma vida feliz e digna de exemplo.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.