Martin Seligman e suas interessantes teorias

Martin Seligman é um dos mais importantes psicólogos contemporâneos, especialmente por suas teorias do bem-estar. Nós explicamos algumas delas.
Martin Seligman e suas interessantes teorias
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Escrito por Edith Sánchez

Última atualização: 10 março, 2024

Martin Seligman é um renomado psicólogo e escritor americano, nascido em 12 de agosto de 1942 em Albany, Estados Unidos. Ele é professor da Universidade da Pensilvânia e representa uma das principais referências no mundo da psicologia positiva. Suas teorias de “desamparo aprendido” e “bem-estar” são icônicas atualmente.

Seligman se caracterizou por ter uma carreira marcante ao longo de sua vida. Ele foi presidente da American Psychiatric Association (APA) e editor de seu famoso boletim Prevention and Treatment. Tudo isso levou à sua consolidação como psicólogo e autor de vários livros, que o alçaram como um importante teórico sobre o assunto e um grande pesquisador.

Os estudos realizados pelo Dr. Martin Seligman e sua psicologia positiva se concentram principalmente na abordagem da depressão. Postula que somos capazes de usar estratégias mais inteligentes quando a esperança bate em nossos olhos.

São muitas as contribuições que Martin Seligman nos deixou sobre a depressão causada por pensamentos negativos. Seu trabalho segue a linha de estudos do professor Aaron T. Beck, que também se destacou por suas contribuições ao tratamento da depressão. Da mesma forma, na terapia cognitiva relacionada a problemas de percepção da realidade e perda de controle diante de experiências negativas.

Nesse ponto, deve ser lembrado que a psicologia positiva dedica boa parte de seus esforços para identificar aqueles fatores ou variáveis que tornam certas pessoas muito resistentes em nível mental diante da dificuldade. Um desses fatores é justamente nossa inércia na hora de pensar, de nos posicionarmos diante dos problemas no plano imaginário que construímos e no qual os situamos.

Hábitos de pensamento não precisam persistir para sempre. Uma das descobertas mais significativas da psicologia nos últimos vinte anos é que os indivíduos escolhem sua maneira de pensar.

-Martin Seligman-

Teoria do desamparo aprendido

Martin Seligman levantou com suas teorias a possibilidade de aumentar o bem-estar e reduzir a depressão em pacientes. Seus postulados fornecem ferramentas maravilhosas para resolver problemas e modificar a percepção do mundo naqueles que estão deprimidos. Da mesma forma, o estudo da felicidade tem contribuído para encontrar formas de fortalecer virtudes e habilidades.

Mulher de braços abertos desfrutando de sua felicidade

Um dos conceitos centrais na obra de Martin Seligman é o de “desamparo aprendido. Ele está relacionado à ausência de atividade ou falta de resposta a situações que ameaçam o sujeito, o que se torna fonte de depressão para muitas pessoas. Ocorre quando alguém vivencia uma situação e simplesmente deixa que os resultados aconteçam, sem agir de forma alguma. Isso ocorre em um quadro onde existem pensamentos negativos automáticos que impedem a ação.

Com base nessas reflexões, em 2002, Martin Seligman criou a teoria da felicidade autêntica nas pessoas. Posteriormente, ele avançou em estudos experimentais que mais tarde se tornaram a teoria do bem-estar e o Modelo PERMA. Eles se concentram em como emoções e relacionamentos positivos, juntamente com o comprometimento pessoal, levam à conquista de metas e ao equilíbrio emocional.

Experimentalmente, levantou-se a necessidade de neutralizar os pensamentos negativos dos seres humanos como mecanismo antidepressivo, destacando-se as emoções de felicidade e otimismo. Ou seja, para não cairmos em depressão, as situações que nos acontecem devem ser racionalizadas ou explicadas, de forma positiva e não negativa. Isso implica uma perspectiva de alegria e esperança.

Desaprender contra o desamparo aprendido

A gestão que fazemos das nossas relações interpessoais está diretamente associada à nossa saúde mental, nomeadamente à autoestima e às estratégias de resolução de problemas que tendemos a utilizar. Nesse sentido, o desamparo aprendido (ausência de esperança) nos impede de mobilizar nossos recursos para tentar sair de uma situação complicada.

Em outras palavras, nos faz cruzar os braços e desistir. Uma posição que em muitos casos leva diretamente à depressão. Assim, é capaz de influenciar, e muito, nossa forma de agir, pensar e sentir.

Em muitos casos, a ansiedade e a depressão aparecem quando nos sentimos incapazes de encontrar soluções para os problemas. A falta de iniciativa diante de uma dificuldade ou a delegação de todas as responsabilidades são dois dos correlatos desse desamparo aprendido. Seligman afirma que essa falta de autoeficácia (posso fazê-lo) combinada com um baixo locus de controle (alcançá-lo depende de mim) pode ser desaprendida como atitude vital.

Situações difíceis no trabalho, na escola ou no ambiente social ou familiar podem gerar em alguém um sentimento de impotência, ao mesmo tempo em que se sente agredido ou violentado. Quando isso acontece, não basta dizer a alguém que está nessa situação o que fazer. Mais do que isso, é fazer com que ele veja que mantém a capacidade de influenciar positivamente o que acontece.

Vamos imaginar, por exemplo, um atleta lesionado. Esse atleta pode precisar ficar impossibilitado de correr por um tempo para se recuperar. Talvez não consiga usar esse método comum para melhorar seu desempenho, mas pode usar outros. Por exemplo, pode ir a um fisioterapeuta para acelerar a recuperação, trabalhar a força nos grupos musculares que não foram afetados pela lesão ou cuidar da alimentação para evitar o ganho de peso.

Um atleta, vítima de um desamparo aprendido, sentirá que a única coisa que pode fazer é deixar o tempo passar até que a lesão cicatrize. Essa atitude não só irá frustrá-lo e minar seu senso de controle, mas também fará com que precise recuperar toda a forma que perdeu quando voltar da lesão.

Sentimentos e emoções, como amor ou coragem, bravura, persistência, o desenvolvimento da inteligência social podem ser aprendidos. Isso ajuda a reestruturar os pensamentos negativos. Por sua vez, leva a progredir em situações que testam nossa força mental.

Mulher preocupada simbolizando o desamparo aprendido de Martin Selingman

Teoria do bem-estar ou Modelo PERMA

Outra grande contribuição de Martin Seligman para a psicologia é o Modelo PERMA; que descreve a livre escolha das pessoas para aumentar seu bem-estar. Portanto, inclui as bases e indicadores para se sentir bem, ser positivo e manter essa atitude e sentimento o máximo possível no dia a dia e na vida.

Deve-se notar que esse modelo é uma evolução de sua primeira proposta Os três caminhos da felicidade (1999). Assim, o autor muda seu objeto de estudo, passando de estudar a felicidade para estudar o bem-estar (2010).

Nesse caso, PERMA é uma sigla que agrupa os cinco principais elementos sobre os quais gira esse modelo; que se resumem em:

  • P (positive emotions): significa aumentar a quantidade de emoções positivas (gratidão, esperança, amor, curiosidade, etc.), mas não à custa de trocá-las ou transpô-las com as negativas (medo, tristeza, raiva, etc. ), mas sim como uma ferramenta para lidar com elas.
  • E (engagement): consiste em assumir um compromisso consigo mesmo e com nossas forças, a fim de nos colocarmos em estado de harmonia, afinidade, fluxo de consciência. Ou seja, o empenho na busca daquelas atividades que nos permitem entrar em um estado ótimo de ativação. Como quando estamos tão imersos em um projeto ou tarefa e o tempo parece parar, porque nos concentramos apenas no que estamos fazendo no momento presente.
  • R (relationships): significa promover relacionamentos saudáveis e positivos, pois é um fator essencial para alcançar nosso bem-estar.
  • M (meaning and purpose): esse fator refere-se à busca de significado e propósito em nossas vidas e implica pertencer a algo maior do que a si mesmo. Dessa forma, cada objetivo alcançado, cada meta alcançada, cada propósito alcançado, subjaz a um significado relevante que o imbui de um significado transcendental.
  • A (accomplishment): supõe sucesso e sensação de realização. Implica, portanto, o estabelecimento de metas, que, uma vez alcançadas, servirão para que nos sintamos competentes e autônomos.

Para Seligman, se conseguirmos abranger todos esses fatores, podemos alcançar um bem-estar sustentável e pleno. No entanto, ele deixa claro que não devemos tentar promover todos e cada um dos fatores do modelo PERMA igualmente, nem mesmo de forma forçada ou imposta; em vez disso, devemos tentar fomentar aqueles com os quais nos identificamos e nos sentimos mais à vontade, sem a necessidade de colocar em risco o nosso próprio bem-estar.

Emoções positivas e motivação para agir em situações difíceis

Como podemos ver, a abordagem de Martin Seligman visa trabalhar as emoções de forma positiva. Nutre e realça o que há de bom em cada ser humano. Isso, por si só, contribui para que a confiança e a autoestima de uma pessoa aumentem consideravelmente.

O objetivo é garantir que os indivíduos consigam desenvolver suas capacidades em situações de conflito. Busca-se favorecer a resolução positiva de dificuldades e motivar ações efetivas em situações específicas. Desaprender esse comportamento de deixar as coisas passarem ou reprimi-las.

Mulher feliz com abraços abertos simbolizando as teorias de Martin Selingman

Finalmente, o conceito de bem-estar de Seligman engloba o de felicidade e otimismo. Ambos podem ser encontrados por meio de emoções positivas, comprometimento com atividades, relações positivas com o entorno, construção de propósitos e realizações pessoais. É isso que no final das contas evita que alguém caia na depressão e favorece uma vida prazerosa.


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  • Maier, S. F., & Seligman, M. E. (1976). Learned helplessness: Theory and evidence. Journal of Experimental Psychology: General, 105(1), 3–46. https://doi.org/10.1037/0096-3445.105.1.3
  • Tayyab, R & Seligman, M. (2018). Positive Psychotherapy: Clinician Manual. Oxford University Press.

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