Max Eitingon e os pilares da formação psicanalítica
Max Eitingon foi um dos médicos e psicanalistas mais importantes da primeira geração porque forneceu contribuições fundamentais no que diz respeito à formação psicanalítica. Seu trabalho particular marcou o destino desta corrente de pensamento.
A formação de um psicanalista é diferente da de outros profissionais de saúde mental. Vamos pensar que, nas origens da psicanálise, ainda não existia uma formação exclusivamente dedicada a este estudo; portanto, era necessária uma formação em medicina. Ou seja, os primeiros psicanalistas eram, em essência, médicos.
Esta tendência continua a ser mantida em alguns lugares hoje, embora não seja a única forma de se engajar na psicanálise. Graças ao trabalho de Max Eitingon e outros colaboradores, esse fato tomou um rumo irreversível, provocando a ruptura com a medicina.
Atualmente, uma das grandes diferenças entre psicólogo e psicanalista é o fato de o primeiro adquirir esse título graças aos estudos universitários. Por outro lado, o psicanalista é formado durante sua própria psicanálise , que deve incluir um componente didático. Max Eitingon provou ser uma figura decisiva para que essa mudança se concretizasse.
Com este artigo, pretendemos lançar luz sobre essas questões e descobrir, ao mesmo tempo, o homem sobre o qual estamos falando: Max Eitingon.
“O sentimento de triunfo pela libertação está intensamente misturado com a aflição, pois a pessoa chega a amar até a prisão da qual foi libertado.”
-Sigmund Freud em uma carta dirigida a Max Eitingon-
Os primeiros anos de Max Eitingon
Max Eitingon nasceu na cidade de Moilev, Bielorrússia, em 26 de junho de 1881. Ele vinha de uma família de judeus ortodoxos de muito boa posição social. O pai, Chaim Eitingon, era um próspero comerciante que se especializou primeiro no negócio de açúcar e depois na comercialização de produtos de pele. Max tinha duas irmãs e dois irmãos, sendo o segundo a nascer.
A família se estabeleceu na Alemanha quando Max tinha apenas 12 anos. Ele era um menino tímido com uma gagueira bastante severa Como resultado da sua gagueira, abandonou a escola secundária, mas depois assistiu a aulas de história da arte e filosofia nas prestigiosas universidades de Halle, Heidelberg e Marburg.
Em 1902 começou a estudar medicina em Leipzig, após ter feito equivalências nos estudos secundários. Posteriormente, foi contratado em Zurique como assistente de Eugene Bleuler e, enquanto estava lá, conheceu Carl Gustav Jung. De todo esse grupo, ele foi o primeiro a buscar uma aproximação direta com Sigmund Freud. Para isso, viajou para Viena em 1907. Em uma carta, Freud o descreveu como “o primeiro mensageiro que se aproximou de um homem solitário “.
Max Eitingon e a psicanálise
Max Eitingon começou a frequentar as reuniões da Sociedade de Psicologia às quartas-feiras. Lá, ele fez uma intervenção interessante que chamou a atenção de Sigmund Freud. Como resultado dessa intervenção, chegou-se a uma reunião na qual ele lhe contou sobre um caso que o preocupava. Espontaneamente, o pai da psicanálise e Eitingon realizaram uma das primeiras psicanálises didáticas da história. Eles fizeram isso em etapas, entre 1908 e 1909, durante passeios à tarde.
O encontro pessoal com Sigmund Freud marcou um antes e um depois na vida de Max Eitingon. A partir deste momento, uma amizade indestrutível foi forjada, que sobreviveu intacta até a sua morte. Max se tornou para Freud algo como “seu homem de confiança”. Por isso, em mais de uma ocasião, confiou-lhe a gestão de crises em diferentes sociedades psicanalíticas.
Porém, nem tudo foram flores para Eitingon, pois as discrepâncias surgiram entre os psicanalistas da época. Para Carl Jung, Eitingon era alguém sem importância. Otto Rank, por sua vez, se opôs a sua entrada no Comitê Secreto, o que ocorreu em 1919. Max nunca foi um grande teórico psicanalítico, mas sim o fiel guardião de seu professor e encarregado de implementar a técnica básica da psicanálise didática.
Contribuições significativas de Max Eitingon para a formação psicanalítica
Max Eitingon fundou, junto com Karl Abraham, a Policlínica Psicanalítica de Berlim, contribuindo com consideráveis recursos financeiros para essa empresa. Ele também o fez para apoiar o Editorial Psicanalítico Internacional.
A Policlínica, mais tarde, levaria à criação do Instituto Psicanalítico de Berlim, cujo objetivo era fornecer uma formação estruturada para psicanalistas.
Os três grandes pilares da formação psicanalítica, apontados por Sigmund Freud e implementados com grande consistência por Max Eitingon, foram os seguintes:
- A instauração da psicanálise didática: é a psicanálise realizada por uma pessoa que aspira ser um psicanalista. O objetivo é que a pessoa resolva seus conflitos inconscientes e aprenda a técnica.
- Formação complementar através de seminários estruturados: na psicanálise, a participação em seminários ou grupos de estudos é essencial para interagir com os colegas e alcançar a idoneidade.
- Supervisão e apresentação de casos: cada psicanalista é supervisionado por seus colegas, a quem deve apresentar os casos que tenha tratado.
Esses três pilares permaneceram intactos até hoje, pelo menos na psicanálise clássica. Max Eitingon sempre foi muito próximo de Freud, até que ele morreu em 1939. Max morreu quatro anos depois, em Jerusalém. No entanto, sua marca ainda está viva na psicanálise, principalmente no campo voltado para a formação de futuros psicanalistas.
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- Infante, J. A. (1968). “Algunas reflexiones acerca de la relación analítica”. Revista de psicoanálisis, 25(3-4), 767-775.