Mediação narrativa, uma técnica para resolver conflitos
A mediação narrativa é um método para resolver conflitos baseado no modo como as pessoas estruturam e descrevem as discrepâncias ou contradições em que estão imersas. É preciso notar que a linguagem pessoal reflete a maneira como o mundo é entendido e geralmente fornece diretrizes muito valiosas sobre a verdadeira natureza de um conflito.
Em geral, a mediação narrativa é implementada para facilitar a expressão dos interesses e das necessidades pessoais de cada uma das partes e intervir de maneira a favorecer a compreensão intrapessoal e interpessoal através da desconstrução das narrativas individuais.
Um conflito começa a ser resolvido quando sua essência pode ser especificada. Às vezes, uma pessoa pensa que o que a incomoda na outra é, por exemplo, sua falta de colaboração. No entanto, através da mediação narrativa, é possível estabelecer que, de fato, o incômodo surge na maneira como essa pessoa solicita tal colaboração. Isso se torna visível se a maneira pela qual cada um narra o conflito for fomentada e analisada.
“Nossas divergências têm sua origem nas duas fontes mais abundantes de calamidade pública: a ignorância e a fraqueza“.
-Simón Bolívar-
Conceitos básicos da mediação narrativa
Para entender como a mediação narrativa pode ser aplicada, é necessário primeiro especificar alguns conceitos que são inerentes a esse método. Esses conceitos são: narrativa do conflito, narrativa alternativa e metanarrativas.
- Narrativa do conflito. Corresponde a como cada pessoa elabora a história da situação conflituosa. Isso fornece pistas sobre os elementos ou aspectos que ela considera mais problemáticos e define a posição adotada nessa estrutura.
- Narrativa alternativa. Refere-se à situação ideal que permite que o conflito seja superado de acordo com cada parte. Aqui, novamente, através da linguagem todos expressam o que querem e como estão dispostos a contribuir para resolver a situação.
- Metanarrativas. As metanarrativas são as regras e os valores que aparecem implicitamente na narrativa do conflito e na narrativa alternativa.
Os elementos das narrativas
As características das narrativas são outro aspecto a considerar antes de iniciar a aplicação da mediação narrativa. Tais elementos são a base para tornar real o processo de desconstrução do conflito. Os elementos característicos das narrativas são os seguintes:
- Trama. Compreende a forma como, em linhas gerais, uma pessoa descreve a origem da situação, a mudança que origina o conflito, o que o complica e o que permitiria resolvê-lo.
- Tema. É o aspecto específico ao qual o conflito está se referindo.
- Contexto. Refere-se ao ambiente físico e social em que o problema ocorre.
- Personagens. Refere-se a todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, participam da situação problemática.
É comum que o conflito narrado por uma pessoa seja muito diferente daquele narrado por sua contraparte. Às vezes, é como se eles estivessem falando sobre duas realidades diferentes.
A mediação narrativa consiste precisamente em alcançar a unificação das linguagens.
Técnicas de mediação narrativa
A mediação narrativa utiliza várias técnicas para alcançar a resolução dos conflitos. O objetivo final é construir uma história comum entre as partes, representando-as e levando a uma narrativa alternativa comum. Para isso, você pode usar uma ou mais das seguintes técnicas:
- Escute duas vezes. Consiste em tomar nota das descrições negativas da contraparte, para transformá-las em afirmações positivas. Por exemplo, se alguém disser: “Me incomoda que ela seja egoísta”, o objetivo é que essa pessoa consiga formular a afirmação assim: “Gostaria que ela fosse generosa”.
- Parafrasear. Consiste em sintetizar ao máximo o que cada parte conta. Deve ser feito com base na trama e resumindo primeiro a origem, de acordo com cada parte, depois a mudança e depois a complicação. Isso favorece a escuta entre as partes, fazendo uso do mediador.
- Repensar. Consiste em coletar expressões agressivas entre as partes e colocá-las de maneira conciliatória. Se alguém disser “Ele é um mentiroso”, o mediador deve intervir e dizer: “O que você pode estar dizendo é que você percebe inconsistências no que o outro diz”.
- Externalizar. Consiste em identificar o sentimento negativo mais intenso que a outra parte gera ou produz. Assim, por exemplo, se o sentimento for de raiva, investiga-se como o sentimento é experimentado ou manifestado.
- Inclusão de outras narrativas. É uma técnica semelhante à da dramatização. É pedido que cada parte entre no papel de alguém de fora para ver o conflito desse ponto de vista. Por exemplo: o que um policial pensaria sobre o que você acabou de dizer?
Todas essas técnicas buscam desconstruir a narrativa de cada uma das partes. Procuram reduzir a rigidez e torná-la mais compreensível a todos os interlocutores. Essas técnicas costumam funcionar bem em contextos organizacionais.
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Garrido Soler, S., & Munuera Gómez, P. (2014). Contra la neutralidad. Ética y estética en el modelo circular-narrativo de mediación de conflictos. Revista Telemática de Filosofía del Derecho, (17), 139-166.