Mediação narrativa, uma técnica para resolver conflitos

A mediação narrativa é um compromisso com o poder da palavra. O objetivo desse método é garantir que cada uma das partes envolvidas em um conflito consiga enxergar a situação de uma perspectiva mais flexível e ampla através de suas próprias narrativas.
Mediação narrativa, uma técnica para resolver conflitos
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 02 agosto, 2020

A mediação narrativa é um método para resolver conflitos baseado no modo como as pessoas estruturam e descrevem as discrepâncias ou contradições em que estão imersas. É preciso notar que a linguagem pessoal reflete a maneira como o mundo é entendido e geralmente fornece diretrizes muito valiosas sobre a verdadeira natureza de um conflito.

Em geral, a mediação narrativa é implementada para facilitar a expressão dos interesses e das necessidades pessoais de cada uma das partes e intervir de maneira a favorecer a compreensão intrapessoal e interpessoal através da desconstrução das narrativas individuais.

Um conflito começa a ser resolvido quando sua essência pode ser especificada. Às vezes, uma pessoa pensa que o que a incomoda na outra é, por exemplo, sua falta de colaboração. No entanto, através da mediação narrativa, é possível estabelecer que, de fato, o incômodo surge na maneira como essa pessoa solicita tal colaboração. Isso se torna visível se a maneira pela qual cada um narra o conflito for fomentada e analisada.

Nossas divergências têm sua origem nas duas fontes mais abundantes de calamidade pública: a ignorância e a fraqueza“.

-Simón Bolívar-

Mediação narrativa, uma técnica para resolver conflitos

Conceitos básicos da mediação narrativa

Para entender como a mediação narrativa pode ser aplicada, é necessário primeiro especificar alguns conceitos que são inerentes a esse método. Esses conceitos são: narrativa do conflito, narrativa alternativa e metanarrativas.

Os elementos das narrativas

As características das narrativas são outro aspecto a considerar antes de iniciar a aplicação da mediação narrativa. Tais elementos são a base para tornar real  o processo de desconstrução do conflito. Os elementos característicos das narrativas são os seguintes:

  • Trama. Compreende a forma como, em linhas gerais, uma pessoa descreve a origem da situação, a mudança que origina o conflito, o que o complica e o que permitiria resolvê-lo.
  • Tema. É o aspecto específico ao qual o conflito está se referindo.
  • Contexto. Refere-se ao ambiente físico e social em que o problema ocorre.
  • Personagens. Refere-se a todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, participam da situação problemática.

É comum que o conflito narrado por uma pessoa seja muito diferente daquele narrado por sua contraparte. Às vezes, é como se eles estivessem falando sobre duas realidades diferentes.

A mediação narrativa consiste precisamente em alcançar a unificação das linguagens.

Os elementos das narrativas

Técnicas de mediação narrativa

A mediação narrativa utiliza várias técnicas para alcançar a resolução dos conflitosO objetivo final é construir uma história comum entre as partes, representando-as e levando a uma narrativa alternativa comum. Para isso, você pode usar uma ou mais das seguintes técnicas:

  • Escute duas vezes. Consiste em tomar nota das descrições negativas da contraparte, para transformá-las em afirmações positivas. Por exemplo, se alguém disser: “Me incomoda que ela seja egoísta”, o objetivo é que essa pessoa consiga formular a afirmação assim: “Gostaria que ela fosse generosa”.
  • Parafrasear. Consiste em sintetizar ao máximo o que cada parte conta. Deve ser feito com base na trama e resumindo primeiro a origem, de acordo com cada parte, depois a mudança e depois a complicação. Isso favorece a escuta entre as partes, fazendo uso do mediador.
  • Repensar. Consiste em coletar expressões agressivas entre as partes e colocá-las de maneira conciliatória. Se alguém disser “Ele é um mentiroso”, o mediador deve intervir e dizer: “O que você pode estar dizendo é que você percebe inconsistências no que o outro diz”.
  • Externalizar. Consiste em identificar o sentimento negativo mais intenso que a outra parte gera ou produz. Assim, por exemplo, se o sentimento for de raiva, investiga-se como o sentimento é experimentado ou manifestado.
  • Inclusão de outras narrativas. É uma técnica semelhante à da dramatização. É pedido que cada parte entre no papel de alguém de fora para ver o conflito desse ponto de vista. Por exemplo: o que um policial pensaria sobre o que você acabou de dizer?

Todas essas técnicas buscam desconstruir a narrativa de cada uma das partes. Procuram reduzir a rigidez e torná-la mais compreensível a todos os interlocutores. Essas técnicas costumam funcionar bem em contextos organizacionais.


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  • Garrido Soler, S., & Munuera Gómez, P. (2014). Contra la neutralidad. Ética y estética en el modelo circular-narrativo de mediación de conflictos. Revista Telemática de Filosofía del Derecho, (17), 139-166.


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