O melhor cúmplice do agressor é o silêncio

O melhor cúmplice do agressor é o silêncio

Última atualização: 21 novembro, 2016

O melhor cúmplice do agressor sempre será o silêncio. É ali onde ele encontra o seu melhor refúgio, onde ficam escondidas todas as agressões humilhantes e cada um dos socos que depois são disfarçados com maquiagem e com uma expressão do tipo “prometo que é a última vez”.

A mente de um agressor é reincidente e suas promessas se transformam em fumaça quando diante de um novo “desprezo”, quando é contrariado ou quando tem necessidade de validar o seu poder. Porque o agressor sofre de insegurança crônica e procura encontrar a sua fortaleza nos valores mais machistas.

O agressor sempre procurará o seu perdão, mas não hesitará em manter o mesmo abuso, o mesmo assédio. A única forma de escapar deste círculo de poder é lhe tirando o seu melhor cúmplice: o silêncio.

Virginia Woolf, em seus diários, dizia que poucas coisas podiam ser tão perigosas quanto uma casa, quanto um lar. A partir do momento em que as portas se fecham, as janelas e as cortinas, ninguém pode supor o que acontece ali: os dramas, as agressões e a dor que fica impregnada em paredes e corações, nos travesseiros carregados de lágrimas de todas essas mentes feridas.

O silêncio é e sempre será o melhor refúgio para aquele que agride, para aquele que vulnera. É preciso quebrá-lo e dar voz a todas as vítimas.

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Os aliados do agressor

O mundo parece estar “abrindo os olhos” diante destes fatos graças a todas as campanhas de conscientização, à pressão da mídia e das redes sociais, e cada vez mais pessoas denunciam as agressões. O silêncio já não protege mais os agressores, nem teme esses aliados que muitas vezes costumam ficar impunes.

A violência escondida, seja em um local deserto agredindo uma mulher ou no lar comum de um casal, é a mais comum na nossa sociedade. Tanto é verdade que segundo uma pesquisa realizada pelas Nações Unidas, estima-se que 35% das mulheres de todo o mundo tenham sido maltratadas e que quase 70% já tenham sofrido uma agressão alguma vez. São dados sobre os quais refletir.

A responsabilidade comum de quebrar o silêncio

O agressor pode ter estudo e uma excelente posição social. Pode estar desempregado, ser jovem, de idade avançada e, obviamente, também pode ser mulher. Os padrões sociológicos não costumam ajudar muito os especialistas a identificá-los, e menos ainda, se consideramos um aspecto fundamental: o agressor está muito bem colocado socialmente, de fato, para os outros costuma ser “gente boa”.

O problema chega quando, assim como indicava Virginia Wolf, as portas de uma casa se fecham e ninguém ou quase ninguém sabe o que acontece ali. Porque quem usa da violência só a expressa com aqueles que tem um vínculo afetivo muito íntimo: o companheiro, os filhos…

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O agressor usa a agressão como forma de poder. É incapaz de conceber o companheiro como uma pessoa com direitos ou necessidades que merecem ser respeitadas porque é um “objeto próprio”, parte de si mesmo. Por isso, diante de qualquer tentativa de independência, são eles que se sentem agredidos porque a sua masculinidade e o seu status de poder ficam vulneráveis.

A outra pessoa então opta por ceder, calar e cair nesse relacionamento subordinado onde os maus-tratos psicológicos e, às vezes, até físicos, vão criando marcas e feridas que nem sempre são vistos a olho nu. Dar o passo até a denúncia para sair desse silêncio não é fácil, porque acredite se quiser, a vítima nem sempre se sente compreendida.

  • Em muitos casos, ela precisa enfrentar um círculo mais próximo onde familiares e amigos não conseguem acreditar nos maus-tratos e nas agressões que, apesar de não deixarem marcas, estão lhe tirando a vida.
  • Os serviços sociais e os centros de atenção às vítimas, por sua vez, sabem que muitas pessoas temem formalizar a denúncia por medo de “possíveis represálias” por parte do agressor.
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São sem dúvida situações muito delicadas onde o temor de quebrar o silêncio continua sendo o melhor cúmplice do agressor. O seu melhor refúgio e o seu escudo de poder. É responsabilidade de todos mudar consciências e tirar as vítimas desses espaços privados de tortura e humilhação.

Porque nenhuma vítima precisa se sentir sozinha, porque todos temos um espaço no quebra-cabeças da nossa sociedade do qual denunciar, dar voz e ser receptivos diante de qualquer conduta suspeita em que uma mulher, um homem ou uma criança possam estar sofrendo algum tipo de maltrato.

Sejamos corajosos, quebremos o silêncio.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.