O que é a mente errante e por que devemos nos importar?

Alguns cientistas de Harvard comprovaram que o fato de não nos concentrarmos no que estamos fazendo nos torna mais infelizes. Outros pesquisadores de Israel comprovaram que a mente errante nos ajuda a realizar melhor qualquer tarefa. Quem tem razão?
O que é a mente errante e por que devemos nos importar?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 14 dezembro, 2019

Todos os dias fazemos milhares de ações de forma automática. É natural que seja assim, porque não conseguiríamos racionalizar até a mais mínima das atividades. No entanto, também deixamos que nossa mente divague em muitas ações que requerem o nosso foco. Fazemos uma coisa pensando em outra. Essa atenção dispersa é conhecida como mente errante.

A mente errante é um tipo de pensamento difuso que se interpõe entre a situação específica que estamos vivendo e as ideias que circulam pela nossa cabeça. Vai desde a simples falta de atenção até o devaneio total. Ocorre quando estamos um pouco distraídos e quando nos dedicamos a sonhar acordados.

“A capacidade de pensar no que está acontecendo é uma conquista cognitiva que tem um custo emocional”. 
-Matthew Killingsworth-

Há diferentes posturas diante desse fenômeno de divagação. Existem evidências de que a mente errante gera consequências negativas, tanto sobre o intelecto quanto sobre as emoções. No entanto, também existem provas de que esse sonhar acordado exerce efeitos positivos no nosso bem-estar.

Não há um consenso total a respeito do tema, conforme veremos a seguir.

Como gerenciar os pensamentos negativos

Um estudo sobre a mente errante

Os pesquisadores Matthew Killingsworth e Daniel Gilbert, da Universidade de Harvard, realizaram um estudo no qual a pergunta central era: “Quais são as grandes causas da felicidade?”.

Por meio de um aplicativo, pediram que milhares de pessoas de todo o mundo respondessem a algumas perguntas durante um determinado período de tempo. As perguntas surgiriam em qualquer momento do dia, e precisavam ser respondidas em tempo real.

As perguntas estavam relacionadas a três aspectos. O primeiro, a como os participantes se sentiam. O segundo, ao que eles estavam fazendo. E o terceiro, se estavam pensando em algo diferente do que estavam fazendo.

Os resultados indicaram que 47% dos participantes quase sempre estavam realizando uma tarefa, mas sua mente estava em outro lugar.

O mais impactante do estudo é que foi possível estabelecer uma correlação entre a mente errante e a infelicidade. De acordo com os pesquisadores, quando alguém divaga, o que chega à sua mente são, no geral, pensamentos desagradáveis.

Os que conseguem se concentrar no momento presente são mais felizes e se sentem menos preocupados.

As vantagens da mente errante

Em contrapartida, há um estudo da Universidade Bar-Ilan, de Israel, que parece ter chegado a conclusões muito diferentes.

Esta pesquisa envolveu a aplicação de um estímulo elétrico no lobo frontal. Os cientistas haviam detectado previamente que este estímulo provocava estados de devaneio.

Ao mesmo tempo em que aplicavam o estímulo, os pesquisadores pediam que os participantes realizassem tarefas específicas. Para a surpresa de todos, após o estado de devaneio, os voluntários realizavam as atividades solicitadas com uma maior eficiência.

De acordo com os pesquisadores, as atividades mecânicas fazem com que as pessoas se distraiam com facilidade. Por outro lado, os devaneios, paradoxalmente, “despertam” a atividade intelectual.

Por isso, os voluntários desempenhavam melhor suas tarefas após esse estímulo que os removia do contexto presente, que eles consideravam entediante.

Mulher refletindo de olhos fechados

Quem está certo?

Talvez os dois estudos não sejam contraditórios, como aparentam ser à primeira vista. Ambos poderiam ter razão.

Pode ser que o fator determinante seja a consciência presente, tanto nos momentos em que se exerce a concentração, quando naqueles em que a mente é deixada livre para divagar. Em outras palavras, a mente errante pode jogar contra nós ou a nosso favor, dependendo da forma como a canalizamos.

A concentração é um exercício por meio do qual a mente se dedica a um conteúdo específico. Significa que as funções intelectuais estão focadas em um objeto pontual.

Esta função é fundamental para realizar adequadamente algumas tarefas, especialmente se elas envolvem um alto nível de abstração. Como diz o estudo de Harvard, se ele não for alcançado, surgem interferências que acabam provocando inquietude. 

No entanto, se permanecêssemos todo o tempo concentrados em um ponto ou outro, provavelmente ficaríamos esgotados rapidamente. Está comprovado que a mente precisa de pausas para que possa funcionar corretamente.

Portanto, a concentração e a mente errante parecem ser complementares, e não contraditórias. Cada uma destas funções tem vantagens e desvantagens, dependendo das circunstâncias.


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  • Kabat-Zinn, J. (2016). Vivir con plenitud las crisis Ed. Revisada: Cómo utilizar la sabiduría del cuerpo y de la mente para enfrentarnos al estrés, el dolor y la enfermedad. Editorial Kairós.

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