Uma mentira repetida mil vezes se torna verdade?

Uma mentira repetida mil vezes se torna verdade?
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 25 outubro, 2017

Será que uma mentira repetida mil vezes se torna verdade? O assunto da verdade e da mentira é mais complexo do que pode parecer à primeira vista. O que as pessoas admitem como verdade depende de muitos fatores. Existe uma verdade científica, mas também uma filosófica, religiosa, pessoal, ideológica, etc.

Nem todas essas “verdades” têm o mesmo grau de validade. Na ciência, por exemplo, não se pode postular algo como verdade se não houver evidências físicas ou teóricas de que o seja. Algo parecido acontece com a filosofia. No entanto, isso não se aplica aos outros campos. Nessas áreas, como a ideologia ou a religião, algo é verdadeiro se uma figura de autoridade o diz. Não importa que seja incapaz de provar isso.

“Com uma mentira geralmente se vai muito longe, mas sem esperanças de voltar”.
– Provérbio judeu –

Entre uma verdade não comprovada e uma mentira às vezes não há uma grande distância. Apesar disso, muitas pessoas não estão interessadas. Na verdade, estão dispostas a acreditar, mesmo contra todas as evidências. Isso acontece porque, às vezes, a mentira conforta, enquanto a verdade inquieta. É porque há medos ou culpas envolvidas. Também porque a mentira é geralmente mais fácil de entender do que a verdade.

Esta realidade abre uma fenda que muitos têm explorado a fundo. Em muitos casos, basta dizer às pessoas o que elas querem ouvir, porque todos queremos acreditar nas mensagens de que gostamos, independentemente do seu paralelismo com a realidade. Mas não só isso. Também garantem que uma falsidade seja estabelecida cultural e socialmente. Além disso, que muitos sejam capazes de tudo para sustentar essa mentira. Não percebem, ou não querem ver, que isso não os beneficia, mas sim aqueles que os dirigem.

O poder e a mentira

Atribui-se a Joseph Goebbels a frase “uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”. Não há nenhuma evidência certa de que tenha sido seu autor, mas definitivamente é uma boa síntese do que este propagandista fez durante a Segunda Guerra Mundial. Tão eficaz foi o seu trabalho que até hoje existem aqueles que ainda defendem as “verdades” do Terceiro Reich.

Manipular o cérebro das pessoas

Tão bem sucedido foi o trabalho de Goebbels que se pode dizer que seus mecanismos têm sido copiados repetidamente por muitos líderes do mundo. Setores poderosos continuam confiando conscientemente na mentira como um meio para manipular as mentes das pessoas que desejam influenciar e, assim, fazer com que aceitem o inaceitável ​​e apoiem planos que seguem o interesse de poucos.

Os grandes setores de poder se deram conta, graças à experiência nazista, de que as sociedades eram capazes de acreditar em qualquer mensagem se esta fosse apresentada de maneira correta. Só era necessário exercer controle absoluto sobre os meios de comunicação sociais e todas aquelas instituições que transmitiam a ideologia, entre elas, a escola. Bastava focar nos medos, nos ódios e nas inseguranças. Em seguida, construir uma “verdade” conveniente e repeti-la para a sociedade,

A mentira repetida mil vezes

O que acontece com a repetição é que gera crenças muito profundas. Quando o cérebro capta uma nova situação, há um desequilíbrio, seguido de uma assimilação, uma acomodação e depois uma adaptação. Como quando chegamos a uma cidade que não conhecemos e, no início, nos sentimos deslocados, mas pouco a pouco, de tanto ver os mesmos lugares, vamos nos familiarizando até nos apropriarmos do novo ambiente. De fato, vamos fazendo uma espécie de mapa próprio, a partir do que conhecemos.

Com a mentira repetida, acontece algo parecido. A mente vai se adaptando para ouvi-la, para percebê-la e acaba incorporando-a em sua esfera de pensamento. É o familiar, o conhecido, o que todo mundo afirma. No caso das grandes mentiras do poder, é também a resposta ao medo ou à insegurança. Ou a explicação compreensível do que se ignora ou não se compreende.

Mulher com rosto se desfazendo

Não é gratuito que haja uma relação tão estreita entre o poder e os meios de comunicação. Tradicionalmente, em quase todos os países, são os grandes grupos econômicos ou políticos que têm o controle da imprensa. Até pouco tempo, a mídia independente era uma flor exótica. Com o surgimento das redes sociais, isso tem mudado. As vozes independentes têm se multiplicado e foram ampliadas as alternativas para nos informarmos.

No entanto, as redes sociais também têm aparecido com suas próprias mentiras. Finalmente, não importa através de que meio um conteúdo é transmitido, mas de que intenção se narra e comenta. Além disso, e acima de tudo, importa como o receptor está interessado no que é verdadeiro. “Não há pior cego do que aquele que não quer ver”, diz o ditado popular. E isso sempre funciona no terreno da verdade e da mentira social.


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