Milagre no rio Hudson, 10 anos de uma história sobre intuição e perícia
Aqui fala o capitão, coloquem-se todos em posição de impacto! Assim se dirigiu Chesley B. Sullenberger, conhecido como “Sully”, aos seus 150 passageiros antes de realizar o que hoje se conhece como milagre no rio Hudson. Após colidir contra um bando de pássaros e perder o controle dos motores, o experiente piloto descumpriu as ordens recebidas e seguiu sua intuição: aterrissou com sucesso sobre o rio Hudson.
Este incidente, que completou 10 anos em 2019, permanece na memória coletiva de todos. Para muitos, foi a aterrisagem mais bem sucedida na história da aviação. Para outros, no entanto, foi uma enorme imprudência. Há ainda quem acredite que o ideal teria sido voltar ao aeroporto e não ter corrido o risco dessa proeza com final feliz acabar se tornando uma tragédia em Nova Iorque.
No entanto, é justamente aqui, a partir do ponto de vista psicológico, que se vê o mais interessante da história do milagre no rio Hudson. Especialistas no campo do sexto sentido, inteligência e intuição, como Malcolm Gladwell, estudaram este caso para demonstrar que o capitão Sully, na realidade, não fez nenhum “milagre”.
O que ele fez foi a proeza de um especialista. A própria tripulação descreveu, pouco depois, que o capitão agiu todo o tempo com uma serenidade fora do normal. Mesmo que o Airbus 320 tenha ficado sem os motores, ele se comportava como se tivesse pleno controle sobre a aeronave. E de fato tinha.
O milagre no rio Hudson aconteceu em pouco mais de três minutos. Naquele curto período de tempo sua mente avaliou a situação, analisou as opções e fez aquilo que acreditou ser o melhor.
Na torre de controle de tráfego aéreo, funcionários presenciaram uma situação arrepiante: viram o Airbus passar menos de 270 metros acima da ponte George Washington.
A história do milagre no rio Hudson
O relato sobre o milagre no rio Hudson começou às 15:25 do dia 15 de janeiro de 2009. O vôo saiu do aeroporto de LaGuardia, em Nova Iorque. O dia havia amanhecido frio e limpo e não havia nenhum impedimento para que o voo 1549, da US Airways, decolasse.
No comando estava o capitão Sullenberger, ou “Sully”, um ex-piloto das Forças Aéreas dos Estados Unidos de 57 anos. Ele contava com mais de 20.000 horas de voo, mas ainda assim nunca pôde imaginar que teria que passar por aquela estranha experiência. Após dois minutos da decolagem, um bando de pássaros se chocou contra a cabine do Airbus.
Eram gansos-do-canadá. A cabine escureceu e os passageiros começaram a escutar o impacto de golpes muito fortes. Depois de poucos segundos, ocorreu algo anormal. Infelizmente, é comum que estes pássaros se choquem de vez em quando contra aviões, mas o que não é tão comum é que os motores cheguem a desligar.
E foi isso o que aconteceu.
Analisando a melhor opção
Após o impacto, a aeronave começou a cair, alcançando uma velocidade de 390 km/h a uma altitude de 500 metros. Os controladores de voo começaram a trabalhar em prol desta aeronave no aeroporto de LaGuardia, dando prioridade para que o voo 1549 voltasse ao aeroporto. No entanto, para a surpresa de todos, o capitão Sully avisou à torre que não voltaria, ignorando as ordens.
Segundos depois, é avisado que o aeroporto mais próximo é o de Teterboro, no condado de Bergen. No entanto, Sully e seu copiloto tomam a mesma decisão: negar as ordens.
Não podemos fazer isso, não vamos a nenhum aeroporto, vamos aterrissar no rio Hudson.
Sully avaliou qual seria a melhor opção em pouco mais de um minuto. Voltar ao aeroporto de LaGuardia seria uma imprudência sem o funcionamento dos motores. Ir ao aeroporto de Teterboro também não seria uma estratégia muito adequada. Tratava-se de um aeroporto com pistas muito curtas para um avião comercial tão grande como o Airbus. A melhor saída seria o próprio rio Hudson: eles iam aterrissar.
Em toda a história da aviação, até a data do incidente, em 2009, apenas um avião comercial de grande porte havia conseguido aterrissar com êxito. Foi o Tupolev TU-124, em 1963. O capitão Sully realizou esta aterrissagem com uma perícia fora do normal, originando assim o milagre no rio Hudson.
Milagre no rio Hudson, um exemplo de intuição, experiência e habilidade
Hebert Simon, célebre especialista em ciências sociais, afirma que pessoas com experiência em determinadas matérias desenvolvem uma mente altamente eficaz e intuitiva. O capitão Sully é, sem dúvidas, um exemplo disso.
Ainda assim, por mais curioso que pareça, os meses posteriores a essa experiência foram um inferno para o capitão do Airbus 320.
Como mostrado por Clint Eastwood no filme “Sully”, as investigações realizadas colocaram em dúvida se aquela havia sido uma manobra acertada. Finalmente, após um rigoroso processo, ficou comprovado que o capitão fez uso da sua experiência para tomar a melhor decisão, que salvou os 150 passageiros e a tripulação.
Não foi um milagre, foi a manobra de um especialista
Na realidade, falar em milagre é tirar o mérito de seu protagonista. Malcolm Gladwell explica que estas pessoas são capazes de reagir com grande eficácia em momentos de necessidade ao fazerem uso de diversas estratégias:
- Reconhecimento de padrões. Mesmo que não sirvam para as mesmas situações, sabem reconhecer estímulos semelhantes de experiências prévias e fazer uso de respostas que, no passado, serviram de ajuda.
- São perfis com uma elevada autoconfiança e comportamento moderado em momentos complicados.
- Aplicam a intuição acertada. Gary Klein, renomado psicólogo nos estudos de comportamento, realizou um interessante estudo para demonstrar algo curioso. Ele afirma que mentes experientes não se perguntam sobre o que fazer quando há uma dificuldade (elas não têm dúvidas). Limitam-se a entender a situação em que se encontram, analisam, e, em seguida, sabem exatamente como agir.
Chesley B. Sullenberger, “Sully”, é um grande exemplo deste tipo de perfil.
O chamado milagre no rio Hudson completou 10 anos em 2019. Relembrar esta história nos mostra não apenas a existência de autênticos heróis, mas também de pessoas que confiam plenamente em sua experiência, em sua intuição e em seu sexto sentido para alcançarem verdadeiras proezas.
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- Sources of Power, How People Make Decisions, by Gary Klein. The MIT Press. 1999.
- Zaslow. Jeffrey (2009) My Search for What Really Matters, by Captain Chesley “Sully” Sullenberger Harper-Collins.