Mindhunter: quando a psicologia revolucionou o FBI

Mindhunter é uma série fascinante que mostra em detalhes parte dos avanços mais importantes em termos do conhecimento de perfis criminais.
Mindhunter: quando a psicologia revolucionou o FBI
Cristina Roda Rivera

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Roda Rivera.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Aplicar a psicologia à elaboração de um perfil psicológico tem sido fundamental para resolver os casos e para saber quais são os padrões de comportamento mais comuns no mundo do crime. Isso ajuda a projetar melhores intervenções em criminosos, além de melhorar os programas disponíveis para prevenir o crime. É isso que retrata a série Mindhunter.

Embora isso possa parecer óbvio para nós atualmente, foi no final dos anos 1970 que dois agentes do FBI, John E. Douglas e Robert Kenneth Ressler, deram início aos esforços para que a psicologia tivesse mais peso nas investigações.

Entrevistando vários criminosos com a ajuda da psicóloga Ann Wolbert Burges, eles traçaram perfis psicológicos dos assassinos mais sangrentos dos Estados Unidos. Foi Robert Kenneth Ressler que cunhou o termo “serial killer“.

A história por trás da série

O agente do FBI John E. Douglas trabalhou como franco-atirador e negociador de reféns por vários anos, até ser transferido para Quantico, Virgínia. Lá, ele foi designado à Unidade de Análise Comportamental, onde ensinava psicologia criminal a novos agentes e policiais veteranos.

John não se conformava com a formação já existente nesse campo do FBI e se empenhou em conhecer mais profundamente a mente criminosa: ele acreditava que esse conhecimento poderia lançar luz sobre muitas investigações. Assim, ele convenceu seus superiores a receber aulas na Universidade sobre pesquisas mais atuais que ofereciam uma nova perspectiva para a análise de casos.

Foi nessa época que ele conheceu Robert Kenneth Ressler, um detetive interessado, como John, no estudo de perfis criminais. Robert dava palestras para policiais de todo o país para ajudá-los com a investigação de crimes não resolvidos.

A história por trás de Mindhunter

Graças a um encontro nas instalações do FBI em Quantico, os dois agentes concordaram em investigar juntos alguns casos em todo o país e incorporar  algumas das descobertas ao estudo da análise do comportamento criminal. Além disso, eles entrevistaram alguns dos maiores serial killers do país na prisão.

A princípio, o chefe dos agentes se mostrou relutante em relação ao projeto, mas após alguns crimes resolvidos graças aos novos conhecimentos dos agentes, o FBI não apenas autorizou o projeto, mas o apoiou aumentando o seu financiamento. Os agentes puderam realizar as entrevistas com melhores meios e com uma maior fundamentação teórica, em grande parte devido ao trabalho da doutora em psicologia Ann Wolbert Burges.

A partir das investigações e das entrevistas com criminosos, surgiu a ideia dos livros Homicídio Sexual: Padrões e Motivos e Manual de Classificação de Crimes, escritos por John E. Douglas e nos quais a série Mindhunter da Netflix se baseia. Os agentes do FBI de John e Robert são retratados na série pelos personagens Holden Ford e Bill Tench, e a psicóloga Ann Wolbert por Wendy.

Os assassinos de Mindhunter

Durante toda a primeira temporada de Mindhunter, um personagem misterioso aparece em vários capítulos. Devido à sua incrível semelhança e método criminoso, percebemos se tratar de Dennis Rader, que matou 10 pessoas ao longo de 20 anos e não foi preso até 2005. Não sabemos como essa história vai se desenrolar nas próximas temporadas.

No entanto, existe um personagem que marca a primeira temporada de Mindhunter: Ed Kemper. Ele é o primeiro entrevistado de Holden, magistralmente interpretado por Cameron Britton. Também conhecido como “o assassino de colegiais”, Ed Kemper assassinou mais de 10 pessoas, incluindo seus avós, sua mãe e uma amiga dela.

Ed adorava conversar e dar entrevistas. Graças a isso, foi possível conhecer seu modus operandi e entender por que ele matava. Sua grande insegurança em estabelecer relacionamentos com outras mulheres e o difícil relacionamento com sua mãe desencadearam o sadismo presente nele.

Os assassinos de Mindhunter

Richard Benjamin Speck é outro dos assassinos arrepiantes refletidos na série. Ele poderia ser considerado um assassino em massa e não um serial killer, já que cometeu vários assassinatos ao mesmo tempo e no mesmo local. Ele chocou a sociedade americana ao matar oito estudantes de enfermagem em uma noite em uma residência estudantil de uma universidade em Chicago.

Ben Miller é conhecido como o assassino do sutiã (“bra murderer“). Ele foi preso por assassinar pelo menos quatro mulheres entre 1967 e 1968. Depois de levá-las para sua garagem privada, ele as matava, criava cenários com seus corpos e depois as fotografava, inspirando-se em anúncios e imagens da cultura popular da época. A cena do sapato é provavelmente a mais surreal de todos os encontros dos agentes com os criminosos.

Algumas conclusões sobre a primeira temporada de Mindhunter

Se algo fica claro nessa primeira temporada é que existem algumas características que se repetem com certa frequência em criminosos e assassinos em série. Isso não significa que uma pessoa com essas características possa cometer um crime, mas se elas se apresentarem juntamente com uma tendência antissocial, aumenta a probabilidade de essa pessoa se tornar uma criminosa.

É claro que o ambiente influencia, mas muitos dos assassinos retratados na série já mostravam crueldade desde muito jovens. Sabemos que eles torturavam animais, espancavam seus irmãos ou exibiam um comportamento perturbador na escola.

Esses dados sugerem que a psicopatia, como defendem muitos psiquiatras e psicólogos, é inata. Os dados obtidos com técnicas de neuroimagem parecem apoiar a teoria de que, no cérebro dessas pessoas, a conexão entre as emoções e as decisões é mais fraca.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.