Minicérebros criados em laboratório: o início da clonagem humana?

Já existem minicérebros criados em laboratório por um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia. Este é um avanço que poderia responder a muitas perguntas da neurologia, mas também traz riscos éticos.
Minicérebros criados em laboratório: o início da clonagem humana?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 08 setembro, 2020

No início de 2019, os cérebros de um grupo de porcos foram revividos em um laboratório. A notícia causou um impacto devido ao que esse avanço implica. Poucos meses depois, foi anunciado que um grupo de cientistas conseguiu dar vida a alguns minicérebros criados em laboratório. Está claro que estamos caminhando para uma nova era na biotecnologia.

O fato de haver minicérebros criados em laboratório gerou um debate ético muito acalorado. Afinal, com base no que sabemos atualmente, poderíamos dizer que um ser humano é basicamente o seu cérebro, e não está claro até onde os cientistas irão em sua jornada para fazer experimentos com a vida. Devido às implicações que isso causa, foi sugerido que essa descoberta pode significar o início da clonagem humana.

“A ciência nunca resolve um problema sem criar mais dez.”
-George Bernard Shaw-

De acordo com o que foi relatado pela revista científica Cell Press, os minicérebros criados em laboratório são do tamanho de uma ervilha e produzem ondas cerebrais semelhantes às geradas pelo cérebro de um bebê prematuro. O objetivo a médio prazo é criar redes neurais cada vez mais sofisticadas.

Ligações neuronais

Os minicérebros criados em laboratório

Os minicérebros criados em laboratório foram desenvolvidos por uma equipe científica da Universidade da Califórnia. A notícia foi divulgada em agosto de 2019. O que os especialistas fizeram foi criar organoides, cujas estruturas celulares são semelhantes às do cérebro humano.

Os minicérebros são um milhão de vezes menores que o cérebro humano. Eles se desenvolveram a partir de  células-tronco pluripotentes. Eles foram colocados em um ambiente que imita o do cérebro, e isso fez com que se diferenciassem, se transformassem e se auto-organizassem da mesma forma que fariam em um cérebro.

No passado, já havíamos tido avanços nesse sentido, mas até agora não havia sido possível produzir organoides que desenvolvessem redes de neurônios, assim como ocorre nos seres humanos. Por isso, este é um avanço sem precedentes.

Alguns detalhes do processo

O primeiro acerto dos cientistas foi criar um ambiente otimizado para o cultivo de células-tronco. Como resultado, os organoides amadureceram mais e melhor do que em experimentos anteriores. O processo durou um total de 10 meses; nesse período, foi realizado um monitoramento meticuloso com multieletrodos que registravam a atividade neuronal.

Apenas dois meses após o início do processo, os cientistas começaram a detectar pulsos de ondas cerebrais nos organoides. Embora não produzissem sinais contínuos, mas esporádicos, era claro que as ondas tinham a mesma frequência que os cérebros humanos nos seus estágios iniciais de formação.

À medida que os organoides cresceram, a produção de ondas se tornou cada vez mais diversificada e regular. Isso indicou que conexões neurais gradualmente mais estruturadas estavam se desenvolvendo. Essas ondas e frequências são semelhantes às registradas no cérebro de 36 bebês prematuros, cujos dados já haviam sido tomados como ponto de referência.

Cientistas fazendo pesquisa

Usos e implicações

Os pesquisadores acreditam que os organoides provavelmente não têm atividade mental propriamente dita. Eles afirmam que se trata de um modelo muito rudimentar, razão pela qual é incapaz de realizar a maioria das atividades de um cérebro real. No entanto, não excluem a possibilidade de que, futuramente, seja possível obter organoides mais complexos.

A equipe de pesquisa disse que os minicérebros criados em laboratório podem ser um excelente ponto de partida para estudar mais profundamente o funcionamento das redes neurais. Eles acreditam que isso, no futuro, poderá fornecer pistas para melhor compreender e tratar algumas doenças, como epilepsia, autismo e esquizofrenia, entre outras.

Apesar de tudo isso, os experimentos nesse sentido têm causado uma grande polêmica desde o seu início em 2013. Para alguns especialistas, o fato de darem origem a processos de neurogênese e ao desenvolvimento de circuitos neurais, na prática, fornece suporte físico para o desenvolvimento da consciência. Portanto, não se pode descartar que esses minicérebros, em algum ponto, possam ser capazes de realizar funções mais complexas.

Porém, no momento, isso não é possível, pois um cérebro sem corpo também carece de sentidos e, portanto, não pode perceber estímulos que, mais tarde, se tornam dados a serem processados. Alguns, porém, alertam que pode haver surpresas nesse perigoso processo. Além disso, estamos nos aproximando cada vez mais da clonagem de seres humanos. Sem dúvida, transitamos por terrenos fascinantes e desconhecidos.


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  • Tierra, C. S., & Bryson, B. Archivo de la categoría: Neurología.


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