Nada é permanente, nada é realmente nosso

Nada é permanente, nada é realmente nosso
Fátima Servián Franco

Escrito e verificado por a psicóloga Fátima Servián Franco.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O apego é entendido como um vínculo, um laço afetivo muito forte que determina o desenvolvimento da personalidade, a forma de nos relacionarmos com os outros e com tudo o que nos rodeia e, inclusive, a forma como nós vemos a vida. No entanto, o apego tem um inconveniente: nada é permanente, nada disso é realmente nosso.

Um certo tipo de apego é necessário. Trata-se daquele que precisa de uma figura estável nos primeiros anos de vida para um correto desenvolvimento cognitivo e emocional posterior. Por outro lado, o apego inseguro é aquele que nos preenche com ansiedade e medo diante do objeto ou da pessoa pela qual sentimos esse apego. Na verdade, todas as relações têm um certo componente de apego, apesar de nem todos os tipos serem saudáveis.

Algumas das nossas relações podem nos provocar ansiedade diante da perspectiva de perda. Para evitar isso, devemos lembrar que, seja o que for que a vida nos tenha dado, é apenas um empréstimo, pois nada é permanente. Ser grato é o primeiro passo para ter um apego seguro com as pessoas ao nosso redor. O mesmo ocorre com o trabalho, as férias e com qualquer situação do momento presente.

“Agradeça com todo o seu ser por tudo que a vida lhe traz; afinal de contas, é o que você cultivou”.

Mulher apreciando o pôr do sol

Precisamos entender que nada é permanente

Ter relacionamentos nos quais nos sentimos seguros não é um dom, mas uma arte que exige vontade e prática. Quando uma relação se mantém somente por hábito, e não existem outras razões que lhe deem sentido, estamos diante de um apego inseguro. O ideal para a nossa higiene mental é acabar com essa situação.

Se não aprendermos a soltar, se não deixarmos ir, as consequências serão muito mais negativas. Se o apego pode mais do que nós e ficamos presos, grudados aos sonhos, fantasias e ilusões, o sofrimento vai crescer sem parar e a tristeza será a nossa companheira de viagem. Buda, em umas de suas famosas frases, indicou que a origem do sofrimento está, precisamente, no apego.

Nada é completamente seu, a vida te empresta, te presenteia para que você aprenda a apreciar e também a se despedir.

No entanto, nem todos os apegos são ruins, existem alguns que são necessários e úteis. Um apego seguro se baseia em saber aproveitar o que nós temos neste momento, sem precisar que continue ao nosso lado para estarmos bem. Se olharmos o que está nos provocando sofrimento com uma nova visão, compreenderemos que não é esse objeto o que nos causa dor, mas a maneira como nos prendemos a ele.

Nosso problema com o apego acontece porque percebemos as coisas como entidades permanentes. No empenho de alcançar os nossos objetivos, empregamos a agressividade e a competição como ferramentas supostamente eficazes, e nos destruímos cada vez mais durante o processo. Para evitar isso, é necessário que você entenda que nada é permanente.

“As pessoas são tão lindas quanto o pôr do sol, se permitirmos que elas sejam assim. Na realidade, pode ser que a razão pela qual apreciamos verdadeiramente um pôr do sol é porque não podemos controlá-lo”.
– Carl Rogers –

A liberdade dos pássaros

Dependência diante da independência

Nosso contexto cultural nos convida a viver dependendo de outras pessoas: pais, filhos, companheiros amorosos, etc. Desde pequenos nos impõem a ideia do amor romântico, aquele no qual os membros do casal não podem, nem devem viver longe um do outro. No entanto, a dependência nas relações românticas é altamente prejudicial, nos transformando em pessoas totalmente incapazes a nível emocional.

A dependência, assim como qualquer outro construto (construção mental criada a partir de elementos simples para ser parte de uma teoria), não é boa nem ruim por si só. Em um certo grau, ela sempre está presente em nossas vidas. É algo que todos nós deveríamos admitir diante do mundo e de nós mesmos, já que nos levaria a reconhecer e adquirir estilos de relacionamento mais saudáveis com as outras pessoas.

Atualmente, existe uma tendência a tratar a dependência com um certo desprezo, como se ela fosse um sinal de fraqueza. No entanto, se pararmos para pensar, quase todos os aspectos da vida são o resultado de esforços alheios. A nossa preciosa e magnífica independência pode ser mais uma ilusão, ou uma fantasia, do que um fato tangível. Para ter uma vida feliz, precisamos de amigos, boa saúde e bens materiais; curiosamente, são âmbitos nos quais dependemos de outras pessoas.

Nossa necessidade dos outros é um paradoxo. Ao mesmo tempo em que, na nossa cultura atual, exaltamos a mais feroz independência, também ansiamos a intimidade e a conexão com uma pessoa especial e querida. O segredo, portanto, está em amar, mas sem precisar. 

“Em nossas loucas tentativas, renunciamos ao que somos por aquilo que queremos ser”.
– William Shakespeare –


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