Não existem emoções desadaptativas, mas uma intensidade desajustada

O poder adaptativo ou desadaptativo das emoções é definido por nós mesmos. Elas possuem uma energia e uma mensagem, e somos nós que decidimos o que fazer com elas.
Não existem emoções desadaptativas, mas uma intensidade desajustada
Fátima Servián Franco

Escrito e verificado por a psicóloga Fátima Servián Franco.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

O valor adaptativo e evolutivo das emoções é um fato, e a ciência já se encarregou de demonstrá-lo. Estudos de Barbara L Fredrickson, professora no departamento de psicologia da Universidade da Carolina do Norte, trouxeram evidências de que as emoções fundamentais têm uma função adaptativa inerente. Existiriam, então, emoções desadaptativas?

Essas descobertas nos conduzem a uma lógica de que não há emoções desadaptativas, mas, em alguns casos, pode haver emoções topograficamente desadaptativas, como muito intensas ou de aparição muito frequente diante de diversas situações.

Todas as emoções têm alguma função que as torna úteis, independentemente de quanto prazer possam gerar. Até as emoções mais desagradáveis têm funções importantes na adaptação social e no ajuste pessoal. Desse modo, talvez não possamos falar de emoções desadaptativas.

Nossas emoções são produto de uma evolução sensível às propriedades do mundo externo. Ainda assim, nem tudo está sob nosso controle nessa equação genética chamada emoção. Nós podemos tentar interagir com a emoção e adaptá-la ao contexto. ou seja, temos a capacidade de gerir a energia e sua mensagem.

“Cada emoção tem seu lugar, mas ela não deve interferir na ação adequada”.
-Susan Oakey Baker-

Moça com sentimentos tristes

Emoções desadaptativas?

Jorge Bucay indica que muitos sentimentos nascem alheios à nossa escolha, e portanto não somos responsáveis por sua aparição. No entanto, somos responsáveis por como agimos em consequência deles. Todos vamos sentir todas as emoções possíveis dentro da gama emocional aprendida por nossos antepassados e adquirida de maneira filogenética pelo nosso cérebro.

É importante explicar que todos, em algum momento da vida, sentiram as emoções mais julgadas, como ciúmes, raiva, ira ou tristeza. Quanto antes deixarmos de pensar que essas emoções devem ser escondidas ou minimizadas, maior proveito tiraremos delas.

Eu gostaria de poder falar que sentir ciúmes pode ser algo bom, e até mesmo que sentir felicidade pode ser ruim dependendo da situação em que experimentamos essas emoções. A conclusão mais acertada, no entanto, é que sentir emoções não é bom nem ruim, mas sim algo evolutivo, e que somente o que nós fazemos com elas é algo que poderá ser reprimido ou louvado.

Já sabemos, pela evolução da ciência, que não existem emoções desadaptativas, mas existem comportamentos desadaptativos. Como exemplo podemos usar a emoção da raiva. Ninguém está imune a ela, ninguém nunca estará livre de sentir raiva eventualmente. É uma emoção do nosso repertório biológico que nos ajudou a evoluir como espécie e chegar até aqui. A raiva nos ajuda nas situações em que é necessário aumentar a atividade neuronal, muscular e os índices de frequência cardíaca.

Portanto, a raiva é necessária como emoção, mas o que fazemos com ela pode ser algo não muito adaptativo. Podemos sentir raiva por mil motivos, mas somos nós que vamos decidir agir em uma direção ou outra. Para isso, temos que entender por que experimentamos essas emoções e manejar as possíveis respostas do nosso repertório. Não temos culpa por sentir raiva, mas sim pelo que fazemos com sua energia e sua mensagem.

“A educação emocional deve ser e será a educação que nos livra de tanto sofrimento não necessário, criado apenas por nós mesmos”.

Emoções: valor adaptativo

Como já vimos antes, as emoções não são ruins nem boas; o contexto e a pessoa formam uma equação tão generalista e ao mesmo tempo tão específica. Nos parágrafos anteriores falamos do valor adaptativo da emoção. Assim como as emoções podem nos servir de grande ajuda, também podem ser uma fonte de conflitos e perturbações quando as gerimos mal.

As emoções desagradáveis têm um valor adaptativo, elas nos fazem ser mais cuidadosos ou precavidos, ou nos dão o impulso necessário para defender nossos direitos. No entanto, ao mesmo tempo são também a origem de muitos problemas emocionais. Por isso falamos, de maneira equivocada, de emoções desadaptativas.

Por exemplo, a ansiedade é um estado emocional resultado de pressões adaptativas durante a evolução. Ela garantiu a sobrevivência dos indivíduos dando a eles a capacidade de enfrentar situações ameaçadoras ou potencialmente prejudiciais da melhor forma.

Este estado emocional da lugar a um amplo leque de possibilidades: desde o simples estado de alerta frente a um estímulo potencialmente ameaçador até as respostas vigorosas que acompanham, por exemplo, um ataque de pânico.

Homem parecendo preocupado

Quando esses estados são exagerados – aparecem diante de estímulos pouco intensos que em outros organismos não despertam emoções, ou ocorrem de maneira continuada – geram patologias como o transtorno da ansiedade generalizada, fobias, ataques de pânico e muitos outros transtornos compreendidos na quinta versão do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais.

“As pessoas reagem de forma preditiva, especialmente quando não tem tempo para pensar”.
-Keith Ablow-


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  • Bisquerra, R. (2006). Educación emocional y bienestar. Madrid : Wolters Kluwer.
  • Panksepp, J. A. (1992). A critical role for “Affective Neuroscience” in resolving what is basic about emotions. Psychological Review, 99(3), 554-560.

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