A neuropsicologia do desenvolvimento infantil
Nas últimas décadas, aumentou o interesse pelos problemas de aprendizagem e desenvolvimento infantil. Assim nasceu a neuropsicologia do desenvolvimento infantil. Essa disciplina aborda a relação entre o processo de maturação do sistema nervoso central e o comportamento durante a infância (1). Essa disciplina da neuropsicologia coloca em um lugar de destaque a avaliação do neurodesenvolvimento na prevenção e detecção precoce de possíveis distúrbios (2).
Chávez (2003) afirma que, para determinar se uma criança tem problemas no seu neurodesenvolvimento, é importante conhecer a organização e o desenvolvimento normal do sistema nervoso central. Isso ocorre porque o conhecimento sobre o sistema nervoso e seu desenvolvimento é a base para a prevenção e detecção de diferentes distúrbios.
Da mesma forma, Rains (2003) refere-se a alterações no sistema nervoso e maturidade cerebral devido a causas pré, peri e pós-natais. Essas alterações, em quase todos os casos, resultam em distúrbios neuropsicológicos na infância. Além disso, se não forem detectados a tempo, podem aumentar as sequelas: é por isso que os autores enfatizam a importância da neuropsicologia do desenvolvimento infantil.
Outros autores, como Weber e Reynolds (2004), enfatizam a influência de fatores ambientais no desenvolvimento do cérebro. Assim, realizam estudos nos quais analisam a associação entre a plasticidade cerebral e os eventos traumáticos na infância. Os autores explicam que, nos Estados Unidos, das crianças que sofrem abuso anualmente (evento traumático), entre 27% e 100% desenvolvem problemas físicos, comportamentais, sociais, cognitivos ou emocionais.
O estudo da neuropsicologia do desenvolvimento infantil se concentra nos fatores de risco e possíveis distúrbios psicopatológicos e neuropsicológicos que estes podem causar em meninos e meninas (1).
Origem das lesões cerebrais infantis
Segundo os autores Cuervo e Ávila, a etiologia das lesões cerebrais infantis pode ser classificada de acordo com vários indicadores e com o momento em que ocorrem:
- Pré-natal (toxoplasmose, desnutrição intrauterina, abuso intrauterino, entre outros).
- Perinatal (hipóxia, mecônio…).
- Pós-natal (trauma cranioencefálico, infecções, desnutrição …).
Daí a importância de um histórico médico completo na avaliação. Isso deve incluir todas as informações relacionadas às características e condições do desenvolvimento durante os primeiros anos de vida. Alguns autores (5, 6, 7) classificam as principais causas de lesão cerebral de acordo com o tipo de dano em:
- Traumáticas
- Vasculares (hemorragia).
- Infecciosas (meningite, toxoplasmose).
- Metabólicas (galactosemia).
- Neurotóxicas.
Esses autores enfatizam a importância da plasticidade cerebral e da maturidade neuropsicológica na infância para avaliar sequelas e recuperação após uma lesão.
Avaliação neuropsicológica do desenvolvimento infantil
Alguns autores (7) afirmam que a avaliação da neuropsicologia do desenvolvimento infantil não é igual à avaliação do adulto. Isso ocorre porque a neuropsicologia do desenvolvimento tem como principal objetivo estudar o desenvolvimento das funções cognitivas e sua relação com a maturidade cerebral ao longo da vida. Por isso, a neuropsicologia do desenvolvimento infantil concentra-se em:
- Em primeiro lugar, nas diferenças na maturidade cerebral desde o nascimento até a adolescência entre meninos e meninas.
- Nas diferenças entre o cérebro adulto e o cérebro em desenvolvimento.
- No padrão inverso observado no desenvolvimento da substância branca frente à substância cinza.
Maturidade neuropsicológica
A maturidade neuropsicológica é definida como o nível de organização e desenvolvimento maturacional que permite um desenvolvimento das funções cognitivas e comportamentais, de acordo com a idade cronológica da pessoa. São destacadas as mudanças durante o desenvolvimento, especialmente na infância.
Dessa forma, a avaliação e intervenção da neuropsicologia do desenvolvimento infantil devem partir de objetivos específicos, de acordo com a idade da menina ou do menino (1).
Avaliação do neurodesenvolvimento infantil
Na infância, a etiologia dos distúrbios neuropsicológicos pode estar localizada em dois grupos (1):
- Primeiro, indivíduos com comprometimento específico do desenvolvimento maturacional.
- Segundo, os indivíduos que, após um desenvolvimento inicial normal, sofrem um acidente patológico que deixa sequelas que alteram o desenvolvimento de maneira focal ou difusa.
Áreas que devem ser avaliadas em neuropsicologia infantil (10)
Habilidades motoras
- Destreza manual.
- Orientação direita esquerda.
- Praxias orofaciais.
- Controle verbal de habilidades motoras.
- Percepção.
- Visual.
- Auditiva.
- Tátil.
Linguagem
- Habilidades de linguagem oral responsivas e expressivas.
- Aspectos psicoeducacionais.
Memória
- Verbal e não verbal.
- Curto e longo prazo.
Alguns testes neuropsicológicos do desenvolvimento infantil
- Questionário de Maturidade Neuropsicológica Infantil (CUMANN).
- Teste ENI (Avaliação Neuropsicológica Infantil).
Para concluir, fica claro que a intervenção neuropsicológica do desenvolvimento infantil deve ser global. Em sociedades como a atual, são urgentes a detecção, reabilitação e estimulação de funções que favorecem a maturidade neuropsicológica. Portanto, é importante desenvolver disciplinas como a neuropsicologia do desenvolvimento infantil, com o objetivo de proteger a saúde da criança.
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1. Martínez, Á. C., & Matamoros, A. M. Á. (2010). Neuropsicología infantil del desarrollo: detección e intervención de trastornos en la infancia. Revista iberoamericana de psicología: ciencia y tecnología, 3(2), 59-68.
2. Rains, G. D., & Campos, V. (2004). Principios de neuropsicología humana. México: McGraw-Hill.
3. Chávez, R. (2003). Neurodesarrollo neonatal e infantil. México: Editorial Médica Panamericana.
4. Weber, D. A., & Reynolds, C. R. (2004). Clinical perspectives on neurobiological effects of psychological trauma. Neuropsychology Review, 14(2), 115-129.
5. Montañes, P. & De Brigard, F. (2005). Neuropsicología Clínica y Cognoscitiva. Bogotá: Universidad Nacional.
6. Ardila, A., & Rosselli, M. (2007). Neuropsicología clínica. Editorial El Manual Moderno.
7. Portellano, J. A. (2005) Introducción a la Neuropsicología.
8. Capilla, A., Romero, D., Maestu, F., González, J., & Ortiz, T. (2003). Neuropsicología del desarrollo y neuroimagen. Revista de Neurología, 37, 667-697.
9. Portellano, J. A., Mateos, R., Martínez, R., Granados, M., & Tapia, A. (1999). Cumanin. Cuestionario de madurez neuropsicológica infantil.
10. Manga, D., & Ramos, F. (2001). Evaluación de los síndromes neuropsicológicos infantiles. Revista de Neurología, 32(7), 664-675.