Núcleo supraquiasmático: nosso centro circadiano do sono-vigília

O núcleo supraquiasmático é o "mestre relojoeiro" dos neurocientistas. Graças a ele nossos ritmos circadianos são regulados. Qualquer alteração nessa área deriva em insônia e perda de memória. 
Núcleo supraquiasmático: nosso centro circadiano do sono-vigília
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

O núcleo supraquiasmático fica localizado na região anterior do hipotálamo e contém aproximadamente 20.000 neurônios. Sua função é tão fascinante quanto decisiva: trabalha como nosso relógio interno regulando os ciclos de sono e vigília.

Assim, graças aos estímulos que recebe através da nossa retina, nos permite estar mais ou menos ativos em função do momento do dia no qual nos encontramos.

Nós, seres humanos, assim como os animais, somos sensíveis às mudanças que ocorrem a nossa volta. A Terra e sua rotação estabelecem os padrões de luz e a temperatura que condicionam nosso nível de ativação. Tudo isso facilita nossa adaptação. Por isso, nosso metabolismo está, de certo modo, intimamente ligado (embora às vezes possa não parecer) à natureza.

Estes ritmos circadianos, por sua vez, estão cercados pelas áreas mais interessantes do nosso cérebro. Deste modo, regiões como o núcleo supraquiasmático se transformam em “centros” reguladores capazes de orquestrar acontecimentos neuronais e hormonais precisos para controlar aspectos como o descanso, a energia, a temperatura corporal e a fome .

Vejamos mais dados a seguir.

“Observe profundamente a natureza e, então, você compreenderá tudo melhor”.
– Albert Einstein –

Núcleo supraquiasmático: localização e funções

Na realidade, não temos um só núcleo supraquiasmático. Nós temos dois, e ambos se situam em cada hemisfério cerebral e muito próximo do hipotálamo. Assim, se integram logo acima do quiasma óptico com uma finalidade: receber os sinais captados pela retina para regular, assim, um grande número de processos biológicos.

Estudos como o publicado na revista Frontiers in Neuroscience pelo Dr. Joseph L. Bendot não hesitam em chamar o núcleo supraquiasmático de relógio cerebral. E mais, sabe-se que esta estrutura encefálica favorece processos tão relevantes quanto a memória e a aprendizagem.

Sendo assim, ter um sono adequado e reparador continua sendo essencial para o nosso cérebro e para cada um de seus processos.

Assim, qualquer função do sistema circadiano se relaciona com doenças que vão desde os transtornos de sono até a perda de memória (especialmente grave em pessoas idosas).

Como o núcleo supraquiasmático funciona?

O funcionamento do núcleo supraquiasmático é complexo. Os processos bioquímicos que acontecem nele são muito precisos e, ao mesmo tempo, complicados. No entanto, podemos compreender seu desenvolvimento de forma mais simples se o dividirmos em etapas:

  • Esta área recebe informação sobre a luz do ambiente através da nossa retina;
  • A retina não tem somente fotorreceptores com os quais distingue formas e cores; ela também possui células ganglionares, ricas em um tipo de pigmento chamado melanopsina;
  • Este pigmento e suas células levam informação de forma direta ao núcleo supraquiasmático. Mais tarde, e após analisar a informação recebida, emitirá ao gânglio cervical superior sinais para que a glândula pineal secrete ou iniba a produção de melatonina.
  • Se for à noite e não houver estímulo de luz solar, a secreção de melatonina aumentará para reduzir o nível da ativação e propiciar o sono.
Olho colorido

O núcleo supraquiasmático é o mestre do resto dos nossos “relógios internos”

Já faz algumas décadas que os cientistas estão descobrindo mais dados sobre esta estrutura graças à mosca Drosophila. Como sabemos bem, este inseto e seu estudo estão nos oferecendo informações valiosas sobre princípios fundamentais da biologia e da genética.

Atualmente, sabemos que o núcleo supraquiasmático nos ajuda a manter os ritmos circadianos ao coordenar a sincronização de muitos outros “relógios circadianos” internos. Porque além do que possa parecer, tanto o nosso corpo quanto o cérebro dispõem de centenas de mecanismos que regulam uma infinidade de processos e comportamentos.

Os processos que ajudaria a regular seriam os seguintes:

  • A sensação de fome;
  • Os processos digestivos;
  • Favorece a hibernação nos animais;
  • Regula nossa temperatura corporal;
  • Também regula a produção de hormônios, como o de crescimento, por exemplo;
  • Favorece que o cérebro e nosso corpo realizem tarefas de manutenção e restauração. Tudo isso durante a fase REM.

Alterações do núcleo supraquiasmático

O funcionamento do núcleo supraquiasmático pode se alterar por muitos fatores. Muitos deles derivam dos nossos hábitos de vida:

  • Ficar muito tempo diante dispositivos eletrônicos à noite, como celular ou computador, por exemplo;
  • Não seguir uma rotina fixa em nossos horários;
  • Jetlag (descompensação causada pela troca de fuso horário);
  • Viver em cidades com um grau elevado de poluição.

Além disso, o núcleo supraquiasmático tem uma relação direta com a hipófise e com a produção de melatonina. Como podemos intuir, é comum que, à medida que ficamos mais velhos, os níveis deste hormônio diminuam. Tudo isso causa alterações do sono, cansaço, perda de memória, esgotamento, desânimo, etc.

Além disso, também descobriu-se que doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, provocam uma perda progressiva dos neurônios que formam o núcleo supraquiasmático.

Portanto, é ideal tentarmos (na medida do possível) cuidar das nossas rotinas. Seria ideal se começássemos a seguir um horário que não tenha muitas variações, regulando especialmente a exposição à luz dos dispositivos eletrônicos.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Benarroch, E. E. (2008). Suprachiasmatic nucleus and melatonin Reciprocal interactions and clinical correlations. Neurology, 71(8), 594-598.
  • Mirmiran, M., Swaab, D. F., Kok, J. H., Hofman, M. A., Witting, W., & Van Gool, W. A. (1992). Circadian rhythms and the suprachiasmatic nucleus in perinatal development, aging and Alzheimer’s disease. Progress in brain research, 93, 151-163.
  • Moore, R. Y. (2007). Suprachiasmatic nucleus in sleep–wake regulation. Sleep medicine, 8, 27-33.
  • Joseph L. Bedont (2014) Constructing the suprachiasmatic nucleus: a watchmaker’s perspective on the central clockworks. Frontiers in Neurology DOI 10.3389/fnsys.2015.00074

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.