O cérebro acorda mais de 100 vezes por noite, de acordo com um estudo

Um novo estudo mostrou que o cérebro acorda mais de 100 vezes por noite e que isso tem efeitos importantes na memória. Tudo indica que os padrões de descanso são muito diferentes do que pensávamos.
O cérebro acorda mais de 100 vezes por noite, de acordo com um estudo

Última atualização: 10 outubro, 2022

Um estudo recente descobriu que o cérebro acorda mais de 100 vezes por noite e que isso faz parte dos padrões normais de sono. Esta conclusão foi alcançada após a experimentação com um grupo de camundongos. Os cientistas pensam que este mecanismo está presente em todos os mamíferos, incluindo o homem.

Esta pesquisa desmascara a idéia generalizada de que um bom descanso é aquele que não tem interrupções. Os cientistas descobriram que, embora o cérebro acorde mais de 100 vezes por noite, isso é um sinal de sono reparador. Na realidade, esses despertares são tão breves que passam despercebidos.

Outro elemento interessante deste estudo é um achado surpreendente: quanto mais despertares durante o sono, mais a memória é estimulada. Isso significa que, se o cérebro acorda mais de 100 vezes por noite, é porque é um mecanismo adaptativo que melhora a função desse órgão.

Isso mostra que talvez você não precise se preocupar se acordar à noite. Claro, não é bom ficar sem dormir por longos períodos, mas nosso estudo sugere que os despertares de curta duração são uma parte natural das fases do sono relacionadas à memória. Pode até significar que você dormiu muito bem.”

-Celia Kjaerby-

Mulher dormindo na cama
O número de despertares noturnos influencia a memória.

O cérebro acorda mais de 100 vezes por noite

A pesquisa foi realizada por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Copenhague. Os resultados foram publicados em 2022 na prestigiosa revista Nature Neuroscience. Foi dirigido, entre outros, pelos médicos Maiken Nedergaard, Celia Kjaerby e Mie Andersen.

O estudo descobriu que o motivo pelo qual o cérebro acorda mais de 100 vezes por noite é devido à ação de um neurotransmissor conhecido: a norepinefrina. Esta substância sempre foi associada ao estresse e até agora pensava-se que permanecia completamente inativa durante o sono.

Graças a essa nova pesquisa, descobriu-se que, ao contrário do que se pensava anteriormente, há uma espécie de surto de norepinefrina durante o sono. Quando o nível está alto, significa que o cérebro está acordado; se cair, significa que há um sono profundo. Esses surtos levam a momentos em que o cérebro funciona exatamente como quando está acordado. No entanto, isso acontece por períodos tão breves que o dorminhoco não percebe.

Um “reset” contínuo

Os diretores da pesquisa acreditam que essas descobertas constituem uma peça importante para entender o sono, um assunto sobre o qual a ciência tem muitos enigmas. O estudo sugere que esses despertares de curta duração são um componente natural das fases do sono. Chegaram mesmo a afirmar que seriam um sinal de que dormiram bem.

O cérebro desperta mais de 100 vezes por noite pela ação de picos de norepinefrina. Entre o momento de acordar e voltar a dormir, passam em média 30 segundos. A pesquisa também descobriu que quanto mais profundo o vale, mais alto o pico. Dito de outra forma, quanto mais profundo o sono, mais definidos são esses breves despertares.

Tudo indica, então, que não há com o que se preocupar se você perceber que há muitos despertares à noite. Aparentemente, o que o cérebro não tolera é ficar muito tempo sem dormir. Em vez disso, esses curtos lapsos de consciência estão longe de afetar o descanso. Pelo contrário, eles desempenham um papel muito positivo.

cérebro iluminado
Ondas de norepinefrina são produzidas no cérebro enquanto dormimos.

A influência na memória

Um dos aspectos mais marcantes dessa pesquisa foi a constatação da relação entre o fato de o cérebro acordar mais de 100 vezes por noite e a memória. Os pesquisadores descobriram que os camundongos com vales e picos mais profundos de norepinefrina também tinham memória marcadamente melhor.

Isso foi verificado com um experimento simples. Os espécimes foram autorizados a cheirar dois objetos diferentes e, em seguida, foram colocados para dormir. Ao fazê-lo, um dos dois elementos foi alterado. Ao acordar, os dois objetos foram apresentados a eles novamente, com um alterado. Alguns dos ratos cheiraram o novo item com mais curiosidade, indicando melhor recordação da experiência anterior. Todos eles tiveram picos e vales mais definidos.

Já se sabia que o sono exerce grande influência sobre a memória. O que não foi descoberto é que os despertares também afetaram esse aspecto. Por isso, esta pesquisa é considerada de grande relevância e certamente abrirá as portas para novos estudos para desvendar o que acontece durante o sono.


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  • Kjaerby C, Andersen M, Hauglund N, Untiet V, Dall C, Sigurdsson B, Ding F, Feng J, Li Y, Weikop P, Hirase H, Nedergaard M. Memory-enhancing properties of sleep depend on the oscillatory amplitude of norepinephrine. Nat Neurosci. 2022 Aug;25(8):1059-1070. doi: 10.1038/s41593-022-01102-9. Epub 2022 Jul 7. PMID: 35798980.

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