O delírio da doença de Alzheimer

O delírio é um transtorno clínico que afeta a atenção e a cognição. No entanto, sua fisiopatologia não é muito conhecida.
O delírio da doença de Alzheimer
Paula Villasante

Escrito e verificado por a psicóloga Paula Villasante.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência. A deterioração das funções cognitivas parece ser o núcleo dos sintomas cognitivos da doença. Entretanto, outros sintomas podem desempenhar um papel importante. Entre eles, encontra-se o delírio.

Este transtorno neurocognitivo se caracteriza por mudanças na cognição e na atenção. Costuma ser a consequência de uma complicação médica. Além disso, a doença de Alzheimer consiste em um processo degenerativo caracterizado pela perda de neurônios colinérgicos. Estes são essenciais para o correto funcionamento do cérebro.

O delírio é um transtorno clínico que afeta a atenção e a cognição. No entanto, sua fisiopatologia não é muito conhecida. Embora a deterioração cognitiva e a demência se identifiquem sistematicamente como os principais fatores de risco para o delírio (2,3), os mecanismos que contribuem para este aumento de risco continuam desconhecidos.

De acordo com um estudo publicado em 2009, a presença de delírios é uma condição que pode afetar a cognição. Sendo assim, acontece com cerca de 66% a 89% dos pacientes afetados pela doença de Alzheimer. Parece, então, que estas duas doenças podem andar juntas.

Este estudo demonstra que os delírios na doença de Alzheimer aceleram a trajetória da diminuição cognitiva em pacientes hospitalizados.

O delírio

Patologicamente, o delírio é fruto de uma disfunção cerebral difusa. Aparentemente, existem diversas causas para o delírio. Os autores Blass e Gibson combinam estas causas em duas possibilidades:

  • As drogas;
  • Deterioração do metabolismo cerebral.

A intoxicação por drogas costuma ser uma causa do delírio. No entanto, parece que muitas das condições que podem causar delírio tendem a causar demência, caso sejam prolongadas. Por exemplo, a hipóxia ou a hipoglicemia podem causar disfunção cerebral e delírios. Mas se forem severas e prolongadas, podem causar dano cerebral permanente e demência [5].

Mulher tendo delírio

A relação entre o delírio e a doença de Alzheimer

Atualmente, o delírio e a demência se classificam como processos diferentes. No entanto, entre os anos 1930 e 1970, eram considerados diferentes formas ou etapas do mesmo processo. Por exemplo, em 1959, Egel e Romano (1) escreveram:

“Da mesma forma como com os tipos mais comuns de insuficiência orgânica, [a insuficiência cerebral] se refere ao que evolui quando se interfere com a função do órgão em seu conjunto, por qualquer motivo… Isso pode se reduzir a dois processos subjacentes, a falha dos processos metabólicos… ou a perda [de unidades funcionais] por meio da morte… O delírio se refere ao transtorno mais reversível e a demência ao transtorno irreversível… Estes estados devem ser considerados como graus diferentes”

Assim, poderíamos dizer que o delírio e a doença de Alzheimer se associam a taxas metabólicas cerebrais reduzidas. Além disso, ambas as patologias estão relacionadas com uma função colinergética alterada.

No demência de Alzheimer, ao contrário do delírio, também há evidência de dano cerebral estrutural. No entanto, se um paciente diagnosticado erroneamente com delírio tiver os estigmas patológicas da doença de Alzheimer na autópsia, o diagnóstico mudaria para a doença de Alzheimer (pelo menos nos Estados Unidos).

Senhor idoso observando a neve

Tratamento

Os inibidores da colinesterase parecem ser um tratamento para a gestão do delírio, assim como para a doença de Alzheimer. É, portanto, a medicação adequada para os delírios na doença de Alzheimer. Os inibidores da colinesterase podem ser particularmente úteis para pacientes em um contexto pós-operatório ou em outros nos quais o delírio leva a problemas sérios de atenção.

Na Suécia, o Dr. Bengt Winblad já realizou estudos pioneiros sobre esta possibilidade. No entanto, os inibidores da colinesterase devem ser utilizados com cuidado, já que os agonistas colinérgicos têm um risco implícito de provocar o broncoespasmo ou a síndrome do nó sinusal.

Neste sentido, é preciso ter muita prudência: são necessários mais estudos para comprovar com rigor se o tratamento colinérgico protege o cérebro das encefalopatias metabólicas e de suas consequências.


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  • Fong, T. G., Davis, D., Growdon, M. E., Albuquerque, A., & Inouye, S. K. (2015). The interface between delirium and dementia in elderly adults. The Lancet Neurology, 14(8), 823-832.
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