Logo image

O desespero que há por trás do transtorno depressivo

5 minutos
Nos momentos em que nos sentimos desesperados, angustiados por não encontrar sentido nas coisas, chateados com nós mesmos, quem acaba pagando por isso são os demais. A verdade é que por trás destas realidades psicológicas tão angustiantes, pode haver uma depressão.
O desespero que há por trás do transtorno depressivo
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater

Escrito por Valeria Sabater
Última atualização: 15 novembro, 2021

O desespero é o eco que emerge do vazio. É a raiva de perder a esperança, é a tristeza transformada no lamento de quem acredita ter perdido tudo e já não enxerga a luz no horizonte, nem significado em seu presente.

Poucos estados psicológicos podem ser tão perigosos como este cume no qual a pessoa já não sabe que caminho seguir ou quais desvios são corretos.

Sabemos que o desespero é uma experiência humana comum. Filósofos como Søren Kierkegaard falaram dele ao longo século, definindo-o como falta de espírito, de sentido e de desafio.

Jean-Paul Sartre, por sua vez, disse inclusive que há nesta dimensão uma frustrante incapacidade de seguir em frente, assim como há um negativismo quase covarde que, frequentemente, nos é empurrado pela sociedade.

Entretanto, a partir de um ponto de vista psicológico, ninguém se aprofundou e esmiuçou tão bem o desespero humano quanto Viktor Frankl.

O pai da logoterapia e sobrevivente de vários campos de concentração nazistas definiu este conceito através de duas ideias muito básicas: sofrimento e perda de sentido.

Estas experiências são, sem dúvida, as mais desoladoras para uma pessoa, mas ainda assim é possível sobre(viver) a elas. Todos nós podemos passar por elas e encarar a vida com novos e melhores recursos.

“O que costumamos chamar de desespero é apenas a nossa dolorosa fome de esperança”.
– George Eliot-

Desespero psicológico, uma emoção angustiante

Se cada pessoa neste planeta fosse afastada de seus propósitos, de sua visão de si mesma e do significado que atribui a sua vida, nós as levaríamos ao desespero mais absoluto.

Assim, embora frequentemente definamos esta dimensão como uma mistura de tristeza e falta de esperança, cabe sinalizar que há algo mais profundo.

É vazio e também é cair em um estado mental no qual nós não deixamos de fazer perguntas sem respostas a nós mesmos. É comum, de fato, que surjam questões do tipo: que sentido a vida tem? O que eu estou fazendo neste mundo? O que eu posso fazer agora, nesta situação, quando nada faz sentido?

Este tipo de pergunta só alimenta o ciclo de desespero, criando um buraco de escuro psicológico no qual a pessoa fica presa.

Desespero alimentado pela ansiedade

Pesquisas como a realizada pelo dr. Martin Bürgy, da Universidade de Stuttgart, na Alemanha, sinalizam que o desespero foi até pouco tempo um fenômeno psicopatologicamente descuidado por parte dos cientistas.

De alguma forma, deixávamos o desespero nas mãos do universo filosófico quando, na verdade, ele se relaciona melhor com problemas existenciais.

No entanto, a psicologia cognitiva tem consciência de que este conceito tem uma grande transcendência clínica. O desespero pode aparecer de forma pontual em nossas vidas.

Podemos senti-lo quando, em um determinado momento, tudo parece dar errado em nossas vidas e nos sentimos bloqueados e até mesmo perdidos temporariamente. No entanto, em outros casos, a situação se complica um pouco mais.

Acontece quando caímos em ciclos de pensamentos ruminantes e obsessivos nos quais alimentamos a negatividade e o desamparo. Adiciona-se a estes pensamentos negativos um complexo emaranhado de emoções como a tristeza, a angústia, a raiva, a frustração, etc.

Assim, é muito comum que, no início, o desespero surja como resultado da própria ansiedade. Entretanto, se esta situação se mantiver no tempo, a pessoa acabará desenvolvendo, inevitavelmente, um transtorno depressivo.

Homem enfrentando momento de desespero

O desespero nos obriga a enfrentar a nós mesmos

O desespero levado ao seu extremo acaba gerando ideias extremas na mente da pessoa. A idealização suicida é o resultado dessa perda total de sentido e esperança, sem dúvida a parte mais perigosa do desespero. Por isso, é crucial dispor de ajuda psicológica.

Sendo assim, é comum que o desespero seja um elemento quase sempre presente na depressão maior e até mesmo no transtorno bipolar. São situações muito delicadas que exigem um tratamento farmacológico junto com a terapia psicológica.

Entretanto, assim como sinalizamos no início, estas realidades podem ser superadas com ajuda especializada e com um compromisso.

Para isso, é recomendável refletir sobre algumas questões.

A raiva que habita o desespero pode nos ajudar

A raiva continua sendo uma emoção desconhecida. É energética, poderosa, reivindicativa e transformadora se a canalizarmos bem.

  • O desespero é feito da raiva de quem não vê sentido em nada. Há um sentimento de raiva com o mundo e também consigo próprio. E isso, embora nos surpreenda, é bom. Porque o mais perigoso é a apatia, a imobilidade, não sentir nada, experimentar um vazio e não se importar.
  • Porém, se colocarmos a raiva a nosso favor e gerarmos mudanças, as coisas podem encontrar, pouco a pouco, um novo equilíbrio. Só é preciso canalizar a energia de forma que o potencial positivo caia sobre a realidade.

Homem sem saber o que fazer

Cara a cara com si mesmo para começar de novo

Há quem diga que o desespero é a prisão do nosso pior “eu”. É o nosso lado mais obscuro, que nos quer fracos e perdidos. Carl Jung dizia que o propósito da terapia psicológica é a transformação e, acima de tudo, alcançar uma individualidade na qual a pessoa encontre seu próprio sentido de vida.

Portanto, é nossa obrigação aceitar essa “sombra” da qual Jung falava para sermos capazes de, depois, transcendê-la. Para sermos capazes de alcançar o lado mais iluminado e forte para encontrar de novo a esperança e a segurança.

Precisamos ter consciência de que essa é uma viagem cheia de dificuldades, mas que, sem dúvidas, é um caminho que vale a pena iniciar para deixar o sofrimento para trás.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Buergy, M. (2007). Una introducción a la desesperación como fenómeno psicopatológico. Nervenarzt , 78 (5), 521- +. https://doi.org/10.1007/s00115-006-2057-3
  • Hicks, D. (1998). Stories of Hope: a response to the ‘psychology of despair.’ Environmental Education Research4(2), 165–176. https://doi.org/10.1080/1350462980040204

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.