O espectro arromântico: como essas pessoas vivem seus vínculos?

Pessoas arromânticas não sentem atração amorosa pelos outros, mas isso não significa que não amem e não possam desfrutar de seus vínculos. Saiba mais sobre isso!
O espectro arromântico: como essas pessoas vivem seus vínculos?
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 09 fevereiro, 2023

Nos últimos anos, demos muitos passos para tornar visível e validar a diversidade humana existente em termos de vínculos afetivo-sexuais. Mesmo assim, existem certos conceitos que ainda não entendemos totalmente ou ainda temos dificuldade em definir. O arromantismo ou arromanticidade é um deles; com ele identificamos aqueles que não sentem atração romântica ou amorosa pelos outros. Mas como as pessoas do espectro arromântico vivem seus vínculos?

Em primeiro lugar, vale ressaltar que não é uma orientação tão incomum quanto pensamos. Ainda não há estatísticas exatas a esse respeito, mas uma pesquisa realizada pela campanha internacional Ace Week mostra que cerca de 16% dos assexuais também se consideram arromânticos. Embora esses dois termos não precisem aparecer juntos, esses dados indicam que essa orientação é uma realidade para muitas pessoas.

O que é o espectro arromântico?

Para entender esse termo, é importante considerar a noção normativa que temos de romantismo. Ou seja, um conjunto de sentimentos e expressões amorosas que se manifestam dentro de uma relação afetiva. Esperamos que todo vínculo de casal seja marcado pelo romantismo, pela atração emocional e por desejos fortes e intensos de se conectar intimamente com o outro. O amor romântico nos parece um sentimento inerente ao ser humano e algo essencial no casal.

Pois bem, o espectro arromântico engloba uma série de orientações que se afastam da concepção anterior, conhecidas como alorromanticidade. Assim, uma pessoa neste espectro é aquela que não sente atração romântica, não se apaixona ou tem interesse em se relacionar dessa forma.

Expressar amor através de abraços e beijos, ter fortes emoções românticas com os outros, sentir “borboletas no estômago” ou olhar nos olhos um do outro com prazer são atividades que simplesmente não despertam seu interesse. Em suma, elas não sentem prazer nesse tipo de união.

Agora, esse tipo de definição genérica pode levar a confusão e mal-entendidos. Por isso, é importante esclarecer mais algumas dúvidas sobre o espectro arromântico e quem faz parte dele.

Amigos conversando no escritório
Pessoas arromânticas não sentem atração amorosa pelos outros.

Sim, elas sentem amor

Pessoas arromânticas têm sentimentos, sentem empatia e amam. Elas podem sentir afeto por seus parentes, por seus amigos e por qualquer pessoa próxima como qualquer outra pessoa. Claro, elas também expressam esse amor que sentem e não há nenhum tipo de disfunção nisso. Elas simplesmente não têm sentimentos românticos.

Elas podem ter parceiros sólidos e duradouros

Ao contrário do que muitas vezes se pensa, aqueles que fazem parte do espectro arromântico podem estabelecer relacionamentos. E estes podem ser tão fortes, duráveis e satisfatórios quanto qualquer outro. A diferença é que não serão baseados na atração romântica, mas sim em outros pontos como desejos ou acordos.

Elas não são necessariamente assexuadas

Também é importante diferenciar entre orientação romântica e orientação sexual. E é que, apesar de algumas pessoas no espectro arromântico também serem assexuais, não precisa necessariamente ser assim.

Elas podem sentir desejo e atração sexual por outras pessoas, gostar de ter relacionamentos e até mesmo se envolver em trocas como beijos, abraços e carícias e considerá-los prazerosos. No entanto, isso não significará uma expressão de emoções românticas.

O espectro aromântico abrange diferentes realidades

Por outro lado, deve-se considerar que estamos falando de um espectro e não de uma categoria. Ou seja, dentro dele há espaço para nuances em termos de sentimentos e expressões afetivas. Por exemplo, pode ser que para algumas pessoas abraços e beijos sejam agradáveis e para outras não; há quem sinta atração romântica em determinados momentos específicos e outros nunca.

Nesse sentido, é conveniente conhecer termos complementares como cinza-romanticismo ou demiromanticismo. Mas a verdade é que a experiência de cada pessoa é única e não há pontos que possam ou devam ser atendidos em todos os casos.

mulher pensando
Pessoas arromânticas não precisam ser assexuadas, haverá quem seja e quem não seja.

Elas não têm interesse no romance

Por fim, é interessante desfazer um dos mitos mais comuns em relação a essa orientação. E é de pensar que os arromânticos odeiam o romantismo, sentem repulsa ou rejeição por essa ideia e todas as expressões românticas. A realidade é que não é bem assim, não se trata de aversão, mas sim de desinteresse.

A confusão ocorre quando consideramos o romantismo como elemento indispensável na vida das pessoas e em seus relacionamentos; mas, se o considerarmos como mais um interesse (como o esporte ou as artes) entenderemos melhor que existem aqueles que não o acham atraente e que não têm prazer com isso.

Em suma, a arromanticidade é um termo que acomoda a experiência de muitas pessoas, mas não é possível generalizar completamente. O melhor a fazer, se queremos entender alguém, entender como funcionam seus desejos, sentimentos e necessidades, é nos comunicarmos de forma clara e respeitosa.


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