O Método de Stutz, um documentário comovente

O documentário da Netflix "Stutz" de Jonah Hill sobre o seu terapeuta é uma ode à amizade e à bondade. Também um exemplo de inovação psicológica em que o psiquiatra se converte repentinamente no paciente que revela as suas debilidades...
O Método de Stutz, um documentário comovente
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 10 março, 2024

Quem ainda não viu o documentário Stutz, da Netflix, estará perdendo um dos conteúdos mais extraordinários e emocionantes dessa plataforma. O ator e diretor Jonah Hill criou essa produção como uma homenagem ao seu terapeuta, a pessoa que lhe ofereceu as ferramentas necessárias para administrar sua insegurança. Estamos diante de um presente audiovisual tão inspirador quanto revolucionário.

Ao longo da história, são muitas as figuras que honraram seus profissionais de saúde mental, esses que mudaram suas vidas. Um exemplo foi uma poeta modernista americana, com as iniciais H.D., que publicou Homenagem a Freud para mostrar como o pai da psicanálise a ajudou quando ela estava mais perdida.

Jonah Hill, o renomado comediante e duas vezes indicado ao Oscar, faz mais do que homenagear seu psiquiatra. Ambos nos convidam a uma conversa corajosa e honesta sobre saúde mental, vulnerabilidade e falhas humanas. São dois homens unidos por um vínculo muito caloroso e afetivo, no qual, de repente, é o próprio terapeuta que se torna paciente, revelando seus labirintos internos…

“Qualquer um pode pegar uma experiência desagradável e transformá-la em uma oportunidade.”

-Phil Stutz-

documentário Phil Stutz
Phil Stutz não é um psiquiatra comum, ele fala palavrãos, é direto com seus pacientes, brinca livremente e não hesita em se abrir emocionalmente.

Quem é Phil Stutz?

Phil Stutz é o psiquiatra americano que desenvolveu uma das técnicas mais inovadoras para otimizar o potencial humano. Em sua longa carreira profissional, ele foi psicólogo prisional em diferentes centros penitenciários, como Rikers Island; também foi um dos psicólogos particulares de maior prestígio na Apple.

Nos anos 80 ele se estabeleceu em Los Angeles, tornando-se para alguns meios de comunicação o “psiquiatra mais procurado de Hollywood”. Ele ajudou milhares de escritores, artistas, produtores e CEOs a lidar com suas inseguranças, traumas e problemas, despertando sua abordagem criativa e curativa.

Por outro lado, se Phil Stutz é conhecido por algo, é pelo seu livro O Método: as ferramentas que ativarão sua força interior para mudar sua vida (2012), escrito em parceria com o terapeuta Barry Michels. Nesse trabalho eles fornecem uma abordagem terapêutica inovadora baseada nas ferramentas, mecanismos e recursos que todos podemos desenvolver ativando nossas “forças superiores” para resolver problemas.

“As “ferramentas” transformam problemas em possibilidades e dão às pessoas uma sensação de impulso e a ideia de que podem fazer grandes mudanças.”

-Phil Stutz-

O documentário, uma homenagem que desnuda almas

No documentário, Jonah Hill nos convida a testemunhar uma jornada perspicaz na mente de seu terapeuta Phil Stutz. No início, pensávamos que quem iria desnudar sua vida seria o próprio ator, mas em determinado momento, percebemos seu verdadeiro propósito. “Estou fazendo um filme sobre você, não sobre mim.” Jonah não se concentrará apenas em seus problemas, mas quase toda a atenção estará voltada para seu psiquiatra, Phil Stutz.

Hill usa truques inteligentes de cinema para desenvolver o que parece ser uma sessão de terapia. Ele usa o preto e o branco para criar intimidade e até ternura, que emerge quase desde o primeiro momento dos dois protagonistas. É ele quem faz a maioria das perguntas para que seu psiquiatra nos apresente seu método, uma técnica baseada em soluções que utiliza a visualização com cartas.

Pulso fraco e mente prodigiosa

Phil Stutz tem Parkinson; percebemos isso imediatamente quando ele pega uma de suas famosas cartas para ilustrar suas ferramentas. Seu traço é tremido e ele mal consegue realizar essa técnica que o acompanhou ao longo de sua vida profissional. No entanto, isso não o impede de contribuir com suas técnicas e aprendizado para qualquer um de nós que está em casa.

Todos nós podemos mudar nosso estado emocional quase imediatamente, de acordo com Stutz, pegando experiências e pensamentos desagradáveis e transformando-os em oportunidades. Mas algo assim requer estratégias, as mesmas que melhoraram a vida de Jonah Hill e centenas de seus pacientes.

Ferramentas de Phil Stutz

No livro O Método aprendemos que qualquer crise psicológica ou existencial é, sim, uma oportunidade de crescimento e evolução pessoal. Para fazer isso, você deve usar as “ferramentas” que ativam essas forças internas que todos nós temos e que devemos desenvolver. Stutz as ilustra de forma pedagógica no documentário. São as seguintes:

  • A realidade. Devemos nos conscientizar de que nossa vida será dominada por três aspectos, que são a dor, a incerteza e o trabalho constante. O último elemento nos permitirá lidar com os dois primeiros.
  • A força vital. Existem três forças que definem quem você é e como você pode melhorar sua existência. A primeira é a relação com o corpo, a segunda é a relação com as pessoas e a última é a relação consigo mesmo.
  • A parte X. Todos nós temos uma zona escura que impede a mudança, é aquela resistência que, como um vilão, atrapalha tudo.
  • O colar de pérolas. A vida pode ser vista como um colar com diversas pedras cravejadas. Cada pedra é uma ação, são todas as tarefas, esforços e atividades que fazemos diariamente. Algumas terão seu ponto escuro e imperfeito, mas sempre podemos deixar a próxima pérola mais perfeita e bonita.
  • O reino da ilusão. De acordo com Stutz, todos nos concentramos em alcançar a perfeição. Um trabalho perfeito, um parceiro perfeito… Porém, tudo isso nos traz sofrimento.

Os ensinamentos de Phil Stutz devem ser vistos através de seus desenhos para serem melhor compreendidos. Depois, pode-se fechar os olhos e mergulhar neles para entender seu significado.

Um exercício de maravilhosa vulnerabilidade

O documentário oferece uma comovente reflexão sobre Jonah Hill, o astro, e sobre seu terapeuta, Stutz, o psiquiatra que luta contra o avanço imparável de sua doença. A primeira permite vislumbrar seus problemas de ansiedade, insegurança, vazio, vergonha, seu passado de excesso de peso e a morte de seu irmão.

Stutz abre sua alma diante da câmera, falando também sobre a morte de seu irmão mais novo e aquela complexa relação com sua mãe que limitou, de certa forma, sua capacidade de se relacionar emocionalmente. Ela não hesita em falar sobre sua doença, sobre como o Parkinson vai além daquele tremor nas mãos, daquele corpo rígido contra o qual luta todos os dias.

Jonah e Stutz falam sobre saúde mental por meio da honestidade, vulnerabilidade e amor. Eles não são apenas pacientes e terapeutas, são dois amigos que compartilham histórias semelhantes e que não hesitam em dizer “eu te amo” enquanto brincam um com o outro.

Por que esse tipo de produção é necessária?

O documentário de Stutz ressoa em nós emocionalmente, é inovador, caloroso, reflexivo e também engraçado. Não é um produto comercial da Netflix, é uma produção necessária e corajosa que todos devemos descobrir. É verdade que vivemos numa época em que cada vez mais as celebridades falam da sua saúde mental e que muitos a encaram como algo que está simplesmente “na moda”. Mas não é assim…

Se devemos falar mais sobre problemas psicológicos, é para eliminar o estigma. Precisamos de testemunhos coletivos para entender que todos, em algum momento, passarão por essas experiências.

No entanto, desta vez, e graças a Jonah Hill, não vemos apenas mais uma estrela nos revelando seus problemas. Além disso, ele nos traz um psiquiatra capaz de compartilhar ferramentas, ao mesmo tempo em que revela seus próprios problemas, tristezas e vulnerabilidades. Porque nem mesmo quem tem conhecimento para nos tirar dos nossos buracos negros está imune ao sofrimento da vida.


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  • Martinez-Martin, P., Rodriguez-Blazquez, C., Paz, S., Forjaz, M. J., Frades-Payo, B., Cubo, E., … & ELEP Group. (2015). Parkinson symptoms and health related quality of life as predictors of costs: a longitudinal observational study with linear mixed model analysis. PLoS One10(12), e0145310.

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