O poder da resiliência nas vítimas

O poder da resiliência nas vítimas
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 29 dezembro, 2017

A resiliência é um conceito que foi desenvolvido em muitos campos de estudo relacionados com a psicologia. Entre eles, cabe destacar a vitimologia. Essa ramo estuda as pessoas que sofreram prejuízos como consequência, geralmente, de um crime. Ou seja, as vítimas.

Quando alguém passa por um acontecimento traumático, como talvez o fato de ter vivido na própria pele um ato criminoso, o ideal é que a pessoa encontre uma forma de continuar normalmente com a sua vida (coisa que muitas vezes não é fácil). Para isso, foram estudados os diferentes mecanismos ou processos dos quais as pessoas se valem para prosseguir e superar o trauma. Ou seja, a capacidade de resiliência nas vítimas.

O que é a vitimologia?

Muitos autores divergem sobre onde essa disciplina deve ser incluída. Alguns são partidários de introduzi-la na Criminologia, disciplina mais ampla e que se encarrega do estudo do crime, do agressor e da vítima, assim como da sua interação e, por fim, do ambiente ao redor de tudo isso. Pessoalmente, eu também sou partidária dessa ideia. No entanto, há outros autores ou especialistas na matéria que preferem tratá-la como um ramo independente.

Independentemente disso, o mais importante é que essa disciplina surge como necessidade de conferir visibilidade à vítima, o sujeito quase sempre esquecido no mundo do crime. Seu estudo permitiria ajudar a prevenir futuros atos criminosos, bem como auxiliar a vítima após ter passado pelo momento do crime.

Mulher diante de vidro

Sua “origem” foi em 1973, com o primeiro Simpósio Internacional de Vitimologia na cidade de Jerusalém, em Israel. Nesse evento, a vitimologia foi consolidada uma verdadeira disciplina científica.

Uma das vias estudadas dentro dessa especialidade é o “processo de vitimização”. De forma geral, diremos que é a transformação que leva uma pessoa a ser ou se considerar vítima. É um fenômeno no qual estão envolvidos muitos fatores e causas que condicionam a resposta que o sujeito vai dar. Portanto, a percepção de um fato traumático e sua elaboração, pelo fato de ser um processo individual, nunca serão exatamente iguais em duas pessoas que passaram pelo mesmo fato: vai depender de causas pessoais, sociais, culturais, etc.

O processo de desvitimização

A resiliência nas vítimas entraria nessa seção. O processo de desvitimização é o inverso do anterior. É a série de passos ou fases que permitem que a vítima deixe de se considerar como tal. É o objetivo fundamental quando se lida com vítimas que passaram por algum evento realmente traumático.

Assim como a resposta de uma pessoa a um evento específico nunca vai ser igual à resposta de outra em relação ao mesmo evento, com esse processo acontece a mesma coisa. A capacidade da vítima de superar o trauma vai depender dela, da sua história, do ambiente em que vive, do apoio familiar e social que recebe, etc. O que importa é identificar todos os pontos de apoio e tentar utilizá-los ao seu favor.

Conceito de resiliência

A resiliência é um conceito que poderíamos relativamente pouco estudado, considerando-se a importância que tem. Esse conceito se baseia em dois aspectos fundamentais: enfrentar o acontecimento e se recuperar dele. É um termo que pode ser ajustado a vários fatores vividos.

Algumas pesquisadoras, como Janoff – Bulman, criaram uma escala de itens que ajudariam a determinar se uma pessoa era ou não era resiliente. Os itens eram uma série de frases ou expressões que tentavam analisar a autoestima e a capacidade de enfrentamento dessa pessoa. Posteriormente, a mesma pessoa deveria considerar em uma escala numérica de 1 a 5 seu grau de conformidade ou discordância em relação a cada frase. Disso, obtém-se um resultado que estaria associado à resiliência da pessoa.

Flores crescendo em pedras

A resiliência nas vítimas

A resiliência nas vítimas estaria relacionada à capacidade de superar o evento traumático e não deixar que este interfira de forma negativa no dia a dia. Segundo outros autores, pode haver uma visão ou uma definição diferente.  Assim, temos duas vias distintas:

  • Segundo autores franceses, esse conceito está relacionado à ideia de crescimento pós-traumático. Esse fenômeno estuda ou analisa a possibilidade de aprender e crescer a partir de experiências adversas. Poderíamos resumir como: às vezes se ganha, às vezes se aprende. Seria uma projeção positiva do evento negativo, transformando o último em algo benéfico.
  • Segundo autores norte-americanos, esse conceito está relacionado ao processo de enfrentamento. Eles o definiriam mais como o restabelecimento da vida anterior da pessoa.

A resiliência nas vítimas é algo que pode ser desenvolvido, uma capacidade que é resultado de um processo dinâmico. Pesquisou-se sobre sua “origem” e os possíveis fatores que a estimulam. Algumas características da personalidade e do ambiente favoreceriam o desenvolvimento da resiliência. Principalmente, um elemento importante seria a distorção que se tem na percepção sobre si mesmo: quanto mais positiva for essa percepção, maior capacidade de resiliência a pessoa terá.

Caminho de tábuas de madeira

Em última instância, isso não significa que apenas as pessoas resilientes são capazes de superar um evento traumático, mas é evidente que essa característica as ajuda. Nesse sentido, é importante que as pesquisas continuem nessa direção: descobrir quais são os fatores que ajudam a desenvolver a resiliência ajudaria a abrir caminhos para estimulá-la de maneira que as vítimas de eventos traumáticos fossem capazes de superá-los com menos sofrimento.


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