O que é anosmia neurossensorial?

Vivemos rodeados de fragrâncias que permeiam tudo, dando origem a odores por vezes fascinantes e por vezes desagradáveis. A percepção do universo olfativo pode ser perturbada pela anosmia neurosensorial.
O que é anosmia neurossensorial?
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 23 abril, 2023

Imagine viver em um mundo sem odores. Pessoas com anosmia neurossensorial enfrentam uma situação complexa, pois o olfato é, como os demais sentidos, essencial para a sobrevivência. Esse sentido químico nos alerta para certas ameaças no meio ambiente e também permite que lembranças surjam em nossa memória.

O olfato faz parte do “sistema neurossensorial químico” (Guerra, 2016), no qual participam quase cinquenta milhões de neurônios. Graças a ele, podemos identificar diferentes moléculas e rotulá-las cognitivamente com os nomes que as caracterizam: “cheira a bala” ou “cheira a fumaça”.

“Todos os cheiros, agradáveis ou não, são extraordinários evocadores de memórias.”

-Primo Levi-

Mulher cheirando um café
O olfato é um dos sentidos que mais fortemente evoca nossas memórias.

O sentido do olfato

Imagine viver em um mundo onde as pessoas não conseguem reconhecer o fogo pelo cheiro. Esse sentido, o olfato, além de nos proporcionar deliciosas experiências olfativas, nos permite sobreviver a circunstâncias potencialmente fatais. Além do exemplo que demos, podemos citar outro, como sentir o cheiro de um determinado alimento e chegar à conclusão de que está em mau estado.

Uma vez que nosso nariz capta as moléculas que os objetos emitem, as chamadas “moléculas olfativas”, os dados sensoriais são transmitidos, das terminações nervosas nasais para outra região: o bulbo olfatório. Nesta região está localizada uma área que recebe o nome de epitélio olfatório. Nele está um grupo de milhares de células responsáveis por emitir a mensagem do aroma para o cérebro.

O veículo que permite a conexão entre o bulbo olfatório e a região do cérebro onde a molécula está rotulada (“é chocolate”, “está com cheiro de queijo”, “está com cheiro de podre”) é chamado de trato olfativo. Esse veículo sensorial segue profusamente para outra estrutura, o córtex.

«Levou consigo o cheiro da floresta e o sabor da vida».

-Antonio Gala-

Anatomia do córtex olfativo

O córtex olfativo é o grande centro que dirige a orquestra de cheiros. Graças a ele podemos identificar e reconhecer o que estamos cheirando a qualquer momento. Permite ainda diferenciar entre vários aromas que podemos estar a perceber ao mesmo tempo. Os seus assistentes na direcção desta orquestra são os seguintes:

  • Núcleo olfatório anterior. É o assistente que se encarrega de nos alertar sobre “o que estamos cheirando agora, no momento presente”. Além disso, dá-nos a capacidade de diferenciar entre vários tipos de odores, por exemplo “cheira doce” ou “cheira a flores”.
  • O tubérculo olfatório . Permite-nos sentir fortalecidos pelas fragrâncias. Graças a ele, a doçura nos dá prazer e nos aproximamos dos cheiros que gostamos.
  • O córtex piriforme. O papel desta região é fornecer suporte à estrutura anterior com o objetivo de discriminar e rotular as moléculas de odor.
  • Núcleo cortical anterior da amígdala. É o assistente das emoções em que o cheiro deixa uma marca intensa. Por exemplo, se sentirmos cheiro de fumaça perto de nós, a emoção do medo pode ser ativada. Essa estrutura modula toda a resposta hormonal e comportamental para que reajamos a essa situação e possamos nos salvar. Além disso, relaciona-se muito com a próxima estrutura.
  • O córtex entorrinal. Essa estrutura nos ajuda a responder perguntas como: por que associamos determinado cheiro a uma pessoa? Por que certas fragrâncias nos fazem rejeitar? Por que nas pessoas com TEPT, ao se depararem com determinados odores presentes no momento do trauma, seus sintomas pós-traumáticos são revividos e intensificados? Porque essa estrutura é o armazenamento da memória dos cheiros.

Uma das estruturas para as quais essas regiões projetam suas informações é o córtex orbitofrontal (COF). Se essa região sofrer uma lesão, a pessoa não conseguirá distinguir qual odor está percebendo.

“Pacientes com lesões no córtex orbitofrontal podem detectar a presença ou ausência de um odor, mas são incapazes de discriminar os odores.”

-Oris Lam de Calvo-

Uma abordagem da etiologia da anosmia neurossensorial

O termo anosmia pode ser traduzido como privação da capacidade de olfato. É absoluta, ou seja, afeta toda a capacidade olfativa. Como resultado, as pessoas não conseguem cheirar nada, ao contrário do que acontecia com lesões recentemente expostas no córtex orbitofrontal.

Além disso, as pessoas com anosmia tendem a perder também a capacidade de apreciar a comida, pois falta sabor. Essa patologia é chamada de ageusia. Existem diferentes níveis ou graus de perda olfativa (Chaves-Morillo, 2017):

  • Normosmia ou capacidade de cheirarv normal.
  • Hiposmia ou redução da capacidade de olfato.
  • Hiperosmia ou aumento da capacidade de cheirar.
  • Disosmia ou alteração na percepção normal do olfato. Pode ocorrer, por exemplo, no contexto da esquizofrenia.

Entre os sintomas da anosmia estão um histórico psiquiátrico, como déficits na memória de curto prazo (Guerra, 2016). Bem como antecedentes neurológicos, muitas vezes traumatismo craniano. Também podemos citar o efeito de certos agentes virais, como a anosmia produzida pelo vírus SARS-COV-2.

sistema olfativo
Existem diferentes tipos de anosmia neurossensorial.

Causas da anosmia neurossensorial

Para que a anosmia neurossensorial apareça na vida das pessoas, algumas ou todas as estruturas cerebrais mencionadas anteriormente devem estar inflamadas ou feridas. Existem caminhos múltiplos e muito diversos que podem levar a esta complexa síndrome. No entanto, as seguintes causas foram relatadas (Guerra, 2016):

  • Trauma no crânio.
  • Processos normais de envelhecimento.
  • Demência do tipo Alzheimer.
  • Obstrução do nariz causada por uma infecção por vírus.
  • Tumor cerebral.
  • Consumo de medicamentos, como o antipsicótico reserpina.
  • Cirurgia.
  • Tratamentos médicos contra o câncer.
  • Fumar.

Desta forma, falamos de anosmia neurossensorial traumática, quando decorrente de trauma; do tipo viral (quando o agente causador é um vírus, como ocorre na COVID-19), ou do tipo idiopático, quando a anosmia tem etiologia desconhecida. Neste sentido, têm sido desenvolvidas intervenções centradas na sua reabilitação.

A reabilitação desse sentido é fundamental, tanto para a própria segurança quanto para o bem-estar psicológico. Além de nos dar a capacidade de detectar situações perigosas, permite-nos recordar cenas com base nos cheiros que podemos perceber.

“A perda do olfato tem sido relacionada ao aparecimento de alterações de memória, que representam peça fundamental no curso de doenças neurodegenerativas.”

-Virginia Chaves-Morillo-


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  • Chaves-Morillo, V., Gómez-Calero, C., Fernández-Muñoz, J. J., Toledano-Muñoz, A., Fernández-Huete, J., Martínez-Monge, N., … & Peñacoba-Puente, C. (2017). La anosmia neurosensorial: relación entre subtipo, tiempo de reconocimiento y edad. Clínica y Salud, 28(3), 155-161.
  • Guerra Sánchez, M., Escanero Marcén, J., Izquierdo Álvarez, S. (2016). Anosmia. SEQC Ed Cont Lab Clin, 26: 81-91
  • e Calvo O (2016). Fisiología del olfato. Fernández-Tresguerres J.A., & Ruiz C, & Cachofeiro V, & Cardinali D.P., & Escriche E, & Gil-Loyzaga P.E., & Juliá V, & Teruel F, & Pardo M, & Menéndez J(Eds.), Fisiología humana, 4e. McGraw Hill. https://accessmedicina.mhmedical.com/content.aspx?bookid=1858&sectionid=134364259

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