O que é desescolarização? Uma alternativa educacional

Unschooling, também chamado de desescolarização, é um movimento contrário à ideia de que adquirir conhecimento dentro da escola é a única maneira de chegar ao sucesso profissional.
O que é desescolarização? Uma alternativa educacional

Última atualização: 04 setembro, 2022

As novas descobertas na educação mostram que temos um problema em tratar os alunos como entidades desagregadas e não como um todo. Essa ideia não colide com a visão clássica que afirma que educar é extrair do outro, deixar sair e florescer, e não introduzir saberes acadêmicos.

A partir do paradigma da educação alternativa entendemos que os pequenos já estão conectados com seu interior. Nós somos os adultos e o meio ambiente que, de qualquer forma, os desconectamos de seus verdadeiros “eu”.

A desescolarização, como opção pedagógica alternativa, propõe respeitar o que é genuíno nas crianças: seus interesses, paixões, ritmos e até suas necessidades motoras. A seguir, vamos nos aprofundar na proposta.

O que é “unschooling” e onde ele se originou?

A corrente pedagógica surgiu a partir das teorias de John Holt, pedagogo americano que em seu livro Teach your own propõe libertar crianças e adolescentes da educação formal que, segundo ele, inibe e limita a capacidade criativa com que elas nascem. Desescolarizar significa respeitar os processos naturais de aprendizagem das crianças e, sobretudo, o seu ritmo intelectual e emocional.

O foco não deve estar em quão bem elas realizam certas ações, mas no que elas estão fazendo, o que as motiva, o que lhes causa interesse, o que as torna apaixonadas. Fomentar essas paixões e não extingui-las deve ser o verdadeiro papel de qualquer adulto acompanhante. Identificar esses talentos é fundamental, pois todos temos qualidades que podemos usar para tornar a sociedade em que vivemos melhor.

A liberdade de qualquer um, jovem ou adulto, de escolher por que, o quê, quando, como e de quem aprender as coisas é um elemento-chave no trabalho de John Holt. A desescolarização propõe uma aprendizagem natural ou autônoma: ninguém direcionaria a criança de fora, a não ser que ela mesma se interesse por algo em particular ou precise disso.

Um exemplo é como as crianças aprendem a falar sua língua materna: ao serem expostas a ela, elas aprendem, por imersão, não porque ninguém está ensinando para elas.

“Muito pouco do que é ensinado na escola é aprendido, muito pouco do que é aprendido é lembrado e, finalmente, muito pouco do que é lembrado é usado.”

-John Holt-

a desescolarização
A desescolarização tenta respeitar a genuinidade dos processos de aprendizagem que existem nas crianças.

Implicações da desescolarização

A desescolarização promove o diálogo permanente com as crianças para definir tempos e temas. Os meninos, então, são estimulados a brincar, explorar, perguntar sem limites ou horários e investigar por conta própria, com a companhia consciente e responsável de seus pais.

Assim, ler, somar ou subtrair não são habilidades adquiridas em certa idade ou a partir de um sistema excessivamente estruturado, mas surgem naturalmente, quando cada criança se interessa espontaneamente em desenvolvê-las.

Portanto, é um método educacional mais radical do que o homeschooling. O unschooling, em sua forma mais básica, não é “escola em casa”, e muito menos deixar que seus filhos aprendam  por si mesmos.. Trata-se de criar um ambiente de aprendizagem baseado no entendimento de que os seres humanos aprendem melhor quando estão interessados e engajados, e quando estão pessoalmente envolvidos e motivados.

Dê voz à criança

As escolas convencionais são organizadas para a vida diária dos adultos, não das crianças. Não favorecem o desdobramento da criatividade; em vez disso, elas o reprimem. Na realidade, ninguém olha para a criança ou para suas verdadeiras necessidades. É urgente dar-lhes mais voz.

A desescolarização revitaliza as relações pais-filhos e dá a possibilidade de viver com alegria e paixão em família e construir relacionamentos saudáveis em um ambiente onde as crianças são livres para descobrir e se tornar as pessoas que nasceram para ser.

O valor da motivação intrínseca na aprendizagem

Como uma criança realmente aprende? Para aprender, temos que despertar a motivação intrínseca, ou seja, aquela que vem de dentro, do coração e não a motivação externa que depende de recompensas, ameaças e punições.

Tendemos a pensar que para aprender tem que haver alguém para ensinar e querer ensinar algo a alguém não é suficiente para que essa pessoa aprenda. Os verdadeiros motores da aprendizagem são a curiosidade e a motivação intrínseca, e não o fato de alguém decidir o que deve ser aprendido, quando e a que ritmo; então, ajudar a aprender não é o mesmo que querer ensinar.

a desescolarização
Segundo a desescolarização, o protagonista não é aquele que pretende ensinar, mas sim aquele que quer, deseja ou precisa aprender.

Crianças fora do sistema

A educação formal tradicional faz com que a criança tenha que seguir ritmos que não são seus, pois deve se adaptar ao grupo ou ao professor. Todos devem fazer a mesma coisa ao mesmo tempo e da mesma maneira; o ensino é dirigido e forçado.

Essa despersonalização o distancia totalmente de seu verdadeiro eu, em última análise, o desconecta de seu propósito de vida. E assim, muitas crianças chegam à adolescência desconectadas e sem saber quem são, de onde vêm e, muito menos, para onde querem ir.

A desescolarização convida famílias e educadores a confiar e esperar, pois cada momento de verdadeiro aprendizado virá. Como adultos, é difícil confiarmos no verdadeiro potencial humano, pois poucos confiaram no nosso. O grande desafio para os adultos é aprender a confiar que a criança é capaz de se desenvolver de forma autônoma.

Em suma, para ter acesso ao ser essencial de cada criança e seus talentos inatos, é preciso permitir que ela se conecte com seus próprios ritmos e pulsações, além de promover um ambiente seguro, emocionalmente falando. Ou seja, acompanhá-las a partir de quem elas já são, de onde elas vêm e permitir que elas cheguem onde quiserem.


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  • Laborda, Y. (2019). Dar voz al niño: ser los padres que nuestros hijos necesitan. Penguin Random House Grupo Editorial.
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