O tempo na filosofia: reflexo de sua existência
O conceito de tempo é um dos temas mais estudados na filosofia. Não é de estranhar, já que a nossa vida passa no tempo, a tal ponto que arriscamos dizer que nos organizamos e fazemos as coisas a partir dele.
Mas se nos perguntarem o que é o tempo, podemos hesitar ao dar a resposta. Convidamos você a explorar, abaixo, diferentes perspectivas filosóficas sobre o tempo, sua existência ou não existência e nossa percepção dele.
O que é o tempo?
Vivemos no tempo, mas raramente pensamos o que é o tempo. Talvez não o façamos porque dar um conceito exato do que é o tempo pode ser complexo. No entanto, Platão e Aristóteles tentaram dar uma definição a esse fenômeno.
Para Platão, o tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel. Ou seja, neste mundo em que vivemos, tudo acontece, tudo flui e o tempo é uma cópia do mundo das ideias. O protótipo que ele imita é a eternidade, imóvel porque não há começo nem fim.
Segundo a Stanford Encyclopedia of Philosophy, esse pensador concebe o tempo como um receptáculo vazio onde as coisas e os eventos são colocados. Nesse sentido, Platão propõe um tempo absoluto, onde ele é independente dos eventos que ocorrem no mundo.
Por sua vez, Aristóteles define o tempo como a quantidade de movimento de acordo com antes e depois. Segundo publicação da revista Byzantion Nea Hellás, para Aristóteles o presente não pode ser considerado como se fosse no tempo, pois está em movimento contínuo.
Tudo o que fazemos no agora é imediatamente transformado em algo passado. Então, o passado é na medida em que já aconteceu e o futuro será, mesmo que não seja agora. Essa perspectiva do tempo é conhecida como relativismo.
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O tempo existe?
Pode parecer óbvio que o tempo existe, mas se pensarmos um pouco, não é tão simples assim. A esse respeito, o físico e filósofo da ciência, Etienne Klein, em seu livro ¿Existe el tiempo?, levanta argumentos a favor da existência das três fases temporais: passado, presente e futuro.
O passado existe porque seus vestígios estão presentes no agora. Por exemplo, nosso eu adulto é resultado de nosso eu passado, já que fomos bebês e depois crianças. Portanto, é indiscutível que houve um antes da idade adulta.
O presente, por sua vez, costuma ser considerado o tempo mais real, porque nele ocorre nossa vida atual. Porém, do ponto de vista filosófico, pode apresentar diferenças e incomensurabilidades em relação ao passado e ao futuro.
O futuro pode ser interpretado como não real porque ainda não é. A esse respeito, Santo Agostinho sustenta que é possível considerar essa fase temporal no presente, porque está em nossa consciência. Nesse sentido, sua realidade está na forma de ficção, ou seja, como um acontecimento possível que queremos que aconteça.
O tempo como ilusão
Um artigo publicado pelo Conicet explora a irrealidade do tempo para o físico britânico Julian Barbour. Para ele, o tempo como tal não existe. Como negar algo que parece óbvio? Os ponteiros do relógio não estão avançando?
Barbour argumenta que o movimento é apenas uma aparência e, portanto, a mudança que o acompanha é uma ilusão. Seu postulado é que vivemos em uma realidade estática.
Filosofia da ciência: o conceito de tempo segundo Newton
O físico e matemático Isaac Newton apresentou uma concepção de tempo semelhante à de Platão. A Revista Colombiana de Filosofía de la Ciencia destaca em um texto que, para o físico, o tempo é absoluto e independente das coisas externas.
Por sua própria natureza, o tempo é um fluxo contínuo e regular. Essa fluidez é em relação a si mesmo e não a algo externo. Da mesma forma, Newton observa que o tempo é uma condição necessária para a mudança nos corpos. Em outras palavras, sem o tempo não haveria transformação, tudo permaneceria inerte e imóvel.
O tempo na filosofia do século XX
Um dos representantes famosos desse tema é o filósofo alemão Martin Heidegger. Em seu livro Ser e Tempo, publicado pela primeira vez em 1927, expõe sua concepção sobre o tema. Particularmente, a Universidade Complutense de Madrid publicou um trabalho com uma explicação sobre isso.
Para esse pensador, o tempo é uma sucessão contínua de “agoras”. Ou seja, é uma sequência constante do presente. Essa sequência se estende ao ser humano, quem sente que o tempo passa e não para. É por isso que Heidegger considera que o sujeito experimenta a passagem do tempo.
No entanto, deve-se levar em conta que, quando o filósofo fala sobre o tempo, ele o faz considerando a condição mortal do ser humano. Consequentemente, a passagem do tempo tem seus efeitos sobre o homem: a morte.
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A percepção do tempo
Vemos os ponteiros do relógio avançarem, segundo a segundo, minuto a minuto. Podemos pensar que essa é uma forma de perceber o tempo, mas será mesmo? A esse respeito, temos duas coisas a dizer. A primeira é que a percepção do tempo não pode ser feita pelos sentidos. Não vemos, tocamos ou cheiramos o tempo, ele apenas passa e passa.
Por isso, a Stanford Encyclopedia of Philosophy destaca em um artigo que percebemos a duração do tempo. Essa forma de percepção está associada à memória, desde que o passado e o futuro estejam em nossa mente. Em outras palavras, temos memórias do passado e temos ideias possíveis para o futuro.
A segunda coisa é que nossa percepção do tempo é uma condição subjetiva do indivíduo. Com base nisso, a revista Futuro Hoy traz à tona o conceito de tempo na filosofia de Immanuel Kant.
Esse filósofo postula que a temporalidade é uma forma pura da sensibilidade. Ele o chama de pura porque é anterior a qualquer experiência com o mundo externo. Portanto, pertence ao sujeito e não aos objetos. Dessa forma, o tempo é uma estrutura da razão humana.
O enigma do tempo na filosofia continua
Até hoje, não há acordo sobre o que realmente é o tempo. Mas nos aventuramos a expor algumas concepções sobre ele que nascem de diferentes filósofos da história.
Ainda assim, persiste como um enigma que nos desafia a explorar novas perspectivas e repensar nossas concepções existenciais.
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