Os efeitos dos pesticidas no cérebro 

Os efeitos dos pesticidas no cérebro 
María Prieto

Escrito e verificado por a psicóloga María Prieto.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

Os efeitos dos pesticidas no cérebro podem ser especialmente graves diante de uma exposição prolongada. A indústria química retira todo ano centenas de produtos que estão no mercado atualmente. Muitos deles pareciam seguros, mas na verdade têm altas doses de toxicidade.

Os pesticidas são um amplo grupo de compostos químicos heterogêneos. São utilizados principalmente para matar insetos, ervas daninhas, fungos e roedores.Embora produzam um certo benefício ao público ao aumentar a produtividade na agricultura, apresentam um risco para a saúde devido aos seus potenciais efeitos adversos. 

Estamos expostos a uma enorme quantidade de produtos químicos atualmente. Porém, não foram realizados testes laboratoriais suficientes para descartar seus efeitos tóxicos em todos os casos. Também pode acontecer do pesticida por si só não causar danos para o organismo, mas a mistura de vários componentes pode provocar consequências negativas devastadoras a longo prazo. 

Por outro lado, os efeitos dos pesticidas são especialmente graves para as crianças. A exposição a produtos químicos contaminantes, inclusive em baixos níveis, pode afetar seu desenvolvimento cerebral. Isso acontece, inclusive, durante o processo de gestação. Se esta situação for prolongada, diversas áreas podem ser afetadas. Estas substâncias podem até contribuir para a aparição de transtornos como o déficit de atenção e o autismo.

O cérebro em processo de desenvolvimento é muito vulnerável aos efeitos de produtos químicos. Por isso, os pesticidas que circulam pelo meio ambiente, inclusive em baixos níveis de exposição, podem provocar sequelas permanentes.

Efeitos dos pesticidas no cérebro: primeiros estudos

Em 1962 foi publicado ‘Primavera Silenciosa’, o livro da bióloga e conservacionista Rachel Carson. Esta é considerada a primeira obra que contribuiu para o início da consciência ambiental moderna. O livro advertia, pela primeira vez, sobre os efeitos prejudiciais que os pesticidas têm sobre o meio ambiente, e causou um alarme tão grande que o governo dos Estados Unidos se viu obrigado a proibir o uso do popular DDT.

Ao longo das décadas de 70 e 80, surgiram vários estudos que falavam sobre os efeitos dos pesticidas no cérebro. Assim, grupos de cientistas demonstraram que a exposição prolongada a pesticidas organoclorados provocava alterações no sistema nervoso central (SNC).

Na maioria dos casos, foram observados déficits na aprendizagem e na memória. Além disso, também foram apresentadas alterações motoras e comportamentais.

Os primeiros estudos sobre os efeitos dos pesticidas no cérebro afirmavam que estes provocavam alterações no sistema nervoso central.

Consequências da exposição prolongada a pesticidas

Os pesticidas podem ser tóxicos tanto para os humanos quanto para os animais. Algumas toxinas são tão fortes que é necessária apenas uma pequena quantidade para ser letal. No entanto, existem toxinas menos agressivas que não provocam danos imediatos. Seu perigo existe porque são capazes de fazer mal a longo prazo.

É preciso compreender que as toxinas dos pesticidas podem permanecer no corpo por um longo tempo. O organismo pode reagir a elas de diferentes formas. Isso vai depender de vários fatores: o tempo de exposição, o tipo de pesticida e a resistência pessoal aos produtos químicos.

Pesticidas e Alzheimer

O estudo desta doença neurodegenerativa continua desafiando pesquisadores do mundo inteiro. Felizmente, somos capazes de compreendê-la cada vez mais atualmente.

Um estudo publicado na revista JAMA Neurology fala da importância do ambiente na doença de Alzheimer. Esta pesquisa chegou à conclusão de que ter sido exposto a um pesticida como o DDT aumenta o risco de sofrer dessa doença.

Este tipo de pesticida foi utilizado até meados dos anos 70 nos Estados Unidos. No Brasil, em 2009 o DDT teve sua fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque, comercialização e uso proibidos.

Para relacionar os pesticidas com a doença de Alzheimer, foi feito um estudo com dois grupos de pacientes que sofriam dessa doença neurodegenerativa. Das conclusões obtidas, pôde-se extrair que aquelas pessoas doentes com altos níveis de pesticidas no sangue tinham desenvolvido uma deterioração cognitiva mais severa do que as pessoas do outro grupo de controle. Os membros do outro grupo de controle também tinham desenvolvido a doença, mas estavam “limpos” no sangue.

Dados como estes sobre os efeitos dos pesticidas no cérebro são muito importantes. No entanto, este vínculo explicaria apenas alguns casos de Alzheimer, não todos. Mesmo assim, é um dos estudos que mostra da forma mais clara possível uma correlação entre os pesticidas e essa doença neurodegenerativa. 

Homem observando neve pela janela

Pesticidas e autismo

Embora o autismo tenha um importante componente genético, o componente ambiental também é relevante. Um dos fatores de risco que aumenta a probabilidade de aparecimento de autismo é a exposição a pesticidas durante a gestação.

Por exemplo, em um estudo realizado na Universidade da California, pôde-se relacionar a exposição a pesticidas e outros compostos durante a gravidez ao desenvolvimento desta doença. 

A conclusão extraída é de que a exposição a pesticidas pode alterar a metilação do DNA da placenta mais que os demais fatores estudados. Isso pode mudar o funcionamento deste órgão e alterar o desenvolvimento do bebê. Assim, aumentam-se as probabilidades de sofrer de autismo de forma exponencial.

Pesticidas e Parkinson

A doença de Parkinson é um transtorno neurodegenerativo crônico. Acontece a destruição, por causas desconhecidas, dos neurônios que atuam no sistema nervoso central. Os neurônios utilizam a dopamina como neurotransmissor primário, encarregada de transmitir a informação necessária para o correto controle dos movimentos do corpo.

Um grupo de cientistas liderados pelo Dr. Francisco Pan-Montojo confirmou que um dos efeitos dos pesticidas no cérebro é aumentar as probabilidades de sofrer da doença de Parkinson. Diferentes estudos epidemiológicos confirmam que existem determinadas substâncias tóxicas capazes de produzir os sintomas deste transtorno.

Como vimos, o uso de pesticidas é muito controverso e será ainda mais à medida que formos conhecendo melhor seus efeitos no cérebro. Sem eles, a agricultura moderna não existiria como conhecemos.

Porém, até que ponto eles nos ajudam se causam tantas doenças? O debate está em seu pleno auge, e é muito provável que encontremos novos problemas relacionados aos pesticidas nas próximas décadas.


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