Os segredos familiares podem atrapalhar a sua vida
Os segredos familiares são um peso invisível. Estes pesos podem ser antevistos mas, justamente por serem secretos, não podem ser contidos e muito menos abordados e debatidos.
Se eles estiverem relacionados a acontecimentos graves ou perversos, o resultado pode ser uma forte depressão sem explicação, uma mania, ou até mesmo um tipo de neurose ou psicose.
A imprensa divulgou, por exemplo, o caso de Jennifer Teege. Tudo que ela sabia é que tinha crescido em um orfanato e que, aos 3 anos de idade, tinha sido adotada por sua atual família.
Ela sentia que algo não estava certo dentro de si mesma. Por isso, procurou entrar em contato com sua mãe biológica para conhecer o seu passado, o que também não satisfez sua inquietação interior.
Ela tinha a sensação de que, de alguma forma, segredos familiares obscuros estavam à sua volta. Ela percebia a presença de algo “ruim” em sua vida.
“Por que os adultos pensam que as crianças recebem melhor os segredos do que a verdade?”
– Cornelia Caroline Funke-
Um pouco depois, Jennifer descobriu que sua mãe havia ocultado informações relevantes. Por exemplo, que seu avô havia sido um comandante nazista e que também era chamado de “O Açougueiro de Plaszow”.
Ela só soube disso através de um livro e de alguns documentos. Então, iniciou sua própria pesquisa até descobrir os segredos da sua família. Em suas próprias palavras: “Só pude começar a minha vida de fato – ter uma identidade – quando as histórias da minha família foram reveladas”.
A importância dos segredos familiares
Os segredos familiares existem porque as vergonhas familiares também existem. E é exatamente isso que transforma o acontecimento em objeto de ocultamento: aquilo que envergonha.
Esse sentimento surge porque são acontecimentos inaceitáveis, objetiva ou subjetivamente. Se não fosse assim, não teriam por que ser escondidos.
A psicanálise afirma que toda repressão é falha. Sendo assim, os segredos familiares são uma forma de repressão coletiva.
O que quer que tenha acontecido é enviado para uma área obscura com o objetivo de que este ocultamento faça o problema desaparecer. No entanto, esconder isso é o caminho para que aconteça justamente o contrário. Este conteúdo continuará mais vivo do que nunca, embora ninguém possa vê-lo.
Isso porque o que é reprimido sempre retorna. Não fica adormecido sob o sono dos justos; permanece mais vivo do que nunca e sempre encontra uma forma de voltar.
Ao falar sobre assuntos reprimidos, acontece o mesmo que com a matéria: não se destrói, só se transforma. E se transforma em quê? Em neurose ou psicose.
Sentimentos e emoções herdados
As vergonhas escondidas sob os segredos familiares sempre estão acompanhadas de culpa. Essa culpa é um dos sentimentos mais tóxicos e nocivos com os quais um ser humano pode lidar.
Quem carrega esta culpa se sente indigno, busca e encontra formas de se castigar de forma inconsciente. Também projeta ou confessa essa culpa constantemente, embora nunca fale diretamente dela.
Desde que nascemos, recebemos do nosso entorno um conjunto de mensagens implícitas e explícitas.
Por exemplo, podemos sentir que a nossa mãe é excessivamente nervosa e sombria. Ou que tem aversões e hobbies que são incompreensíveis para nós. No centro destes comportamentos que parecem estranhos para nós, certamente há um conteúdo reprimido sendo transmitido.
Tudo que não é dito e desconhecido é filtrado na vida de uma maneira imprecisa, mas contundente. Segredos de família, quando são muito sérios ou carregam muita culpa, deixam seus depositários doentes.
Além disso, estes segredos também são transmitidos implicitamente para as gerações seguintes, que não herdam o conhecimento do que aconteceu, e sim seus efeitos na psique.
A memória transgeracional
Cada um de nós é filho de uma história e de uma postura diante da vida. Quando nascemos, somos um novo capítulo nessa história e nessa perspectiva. Não começamos a vida do nada, somos precedidos por um conjunto de acontecimentos que definem boa parte do que somos.
Por isso é muito importante conhecer nossa memória transgeracional para compreendermos melhor a nós mesmos e para descobrir uma parte importante do que somos.
Toda essa informação é fundamental para o nosso desenvolvimento e bem-estar. Assim, conhecer e entender nossa ascendência é uma forma de interpretar nossos sentimentos, emoções e atitudes.
Se não conhecermos os detalhes dos nossos ancestrais, eles continuarão condicionando as nossas experiências. Dentro de cada um de nós vive um eco daqueles que nos precederam.
Muitos condicionamentos inconscientes provêm dos segredos familiares ou da informação que desconhecemos. Para muitas pessoas, aí está o segredo de algum mal-estar emocional e também o caminho para superá-lo.
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- Rodríguez, C. & Espinoza, A. (2007). La memoria enquistada, un acercamiento al trauma transgeneracional. Revista Reflexión, 33, 1-8.