Jean Martin Charcot, o precursor da psicanálise

Charcot foi uma grande influência para a psicanálise. Graças às suas contribuições, Sigmund Freud desenvolveu uma parte de sua teoria.
Jean Martin Charcot, o precursor da psicanálise
María Alejandra Castro Arbeláez

Escrito e verificado por a psicóloga María Alejandra Castro Arbeláez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Por este mundo, passaram grandes pensadores que, através de seus trabalhos, deixaram marcas. Jean Martin Charcot foi um deles, já que suas ideias foram muito valiosas, tanto para entender quais procedimentos funcionam quanto quais são aqueles que não funcionam.

Charcot nasceu em uma família humilde em Paris (1985). Desde pequeno já demonstrava sua paixão pelos estudos. De fato, graças ao fato de ter se saído melhor do que seus irmãos no ensino fundamental, seu pai decidiu fazer um esforço para que continuasse estudando.

Ele se tornou médico neurologista e professor de anatomia. Destacou-se por suas habilidades para a análise e a síntese, realizando grandes contribuições que o tornaram, entre outras coisas, o precursor da psicanálise. A seguir, vamos mostrar como Charcot desenvolveu seu trabalho.

 “Se o clínico, como observador, deseja ver as coisas como elas realmente são, deve fazer tábula rasa de sua mente e proceder sem nenhuma ideia preconcebida”.
-Jean Martin Charcot-

Jean Martin Charcot e Sigmund Freud

Charcot estudou Medicina na Universidade de Paris e se interessou pela neurologia. Trabalhou por mais de 30 anos no hospital da Salpêtrière. Ali, dedicou grande parte de seu tempo à pesquisa. De fato, graças às suas contribuições, é considerado um dos pais da neurologia moderna.

Na Salpêtrière, teve a oportunidade de ver e estudar vários pacientes e explorá-los após a morte na sala de autópsias. Isso lhe permitiu identificar associações entre seus sintomas e as descobertas fisiológicas anômalas que encontrava.

Foi durante esse tempo na Salpêtrièreque Jean Martin Charcot e Sigmund Freud se conheceram. Nessa época, a Salpêtrière acolhia uma grande quantidade de “pacientes psiquiátricos”. Charcot os estudava, e Freud aprendia com ele.

Foi assim que Charcot influenciou Freud. Este último ficou impressionado com a forma tão sistemática que Charcot tinha de trabalhar. Por outro lado, é bastante conhecida a influência de Charcot sobre Freud em relação ao estudo da histeria. No entanto, esse aspecto, ou parte dele, não seria o único no qual Freud seria influenciado. Por exemplo, no início, também assimilou como própria a maneira que Charcot tinha de diagnosticar.

Sigmund Freud

Jean Martin Charcot e seus estudos sobre a histeria e a hipnose

De todos os pacientes que estavam na Salpêtrière, a maioria apresentava sintomas histéricos. Charcot tratou de desenvolver outro ponto de vista sobre essa condição. De fato, ele foi a primeira pessoa a dizer que não se tratava de um mal do útero, mas de um transtorno neurológico.

Além disso, sugeriu que as origens da histeria poderiam estar relacionadas com experiências do passado.  Foi assim que trabalhou com uma nova hipótese para os sintomas dessa condição, como a paralisia, a hipersensibilidade, a analgesia, as dores sem explicação, etc.

Então, foi de encontro às crenças populares de muitos médicos da época. Ademais, também defendeu a histeria masculina, especialmente em profissões como engenheiros ferroviários e militares.  Charcot não levou muito tempo para perceber que os sintomas histéricos eram parecidos com os da hipnose. Ele começou a chamar a atenção para o fato de que os sintomas próprios da histeria desapareciam após as sessões de hipnose. Ele chegou a essa conclusão após observar que ambas tinham sintomas parecidos, como a analgesia e a paralisia.

No entanto, ao final de sua vida, reconheceu que sua teoria sobre a sugestão através da hipnose estava equivocada.  Mesmo assim, suas contribuições foram essenciais para a neurologia e a psicanálise. De fato, Charcot transformou a neurologia em uma especialidade clínica e fez com que Salpêtrière se tornasse um dos lugares com mais prestígio nessa área.

Contribuições de Charcot para a psicanálise

Charcot contribuiu muito para a neurologia. Um exemplo é a sua grande descoberta da esclerose lateral amiotrófica. Mas esse não foi seu único legado. Além disso, ele foi um dos precursores da psicanálise porque:

  • Concebeu a histeria de outro modo. Graças à nova visão que proporcionou à análise da histeria, Freud pôde continuar estudando-a, sendo este um pilar para o desenvolvimento da psicanálise.
  • Trabalhou com a hipótese de que as origens da doença poderiam estar relacionadas com experiências passadas.  Um conceito fundamental na psicanálise que se tornou objeto de boa parte do trabalho de Freud foi o do trauma, que Charcot já mostrava como causa de algumas condições nervosas.
  • Aproximou-se dos transtornos mentais. Suas pesquisas foram essenciais para o desenvolvimento da psicopatologia e, portanto, de diferentes ramificações que se dedicaram ao estudo dessas condições, como a psicanálise.
  • Seus ensinamentos ao seu discípulo. Freud aprendeu com seu grande mestre Charcot, sobretudo sua forma de pesquisar, analisar e desenvolver um diagnóstico. Esses foram os fatores fundamentais para a consolidação da psicanálise, embora depois Freud lhes tenha acrescentado certos matizes.
Jean Martin Charcot

Apesar de Freud ter obtido grandes ensinamentos com Charcot, ele transformou seu legado e apostou em um novo caminho para a compreensão dos transtornos mentais. Inclusive, constituiu seu próprio sistema nosológico.

Então, podemos afirmar que Charcot foi o precursor da psicanálise porque inspirou ideias que Freud, posteriormente, desenvolveu para dar-lhes uma forma mais refinada.  Dessa forma, Charcot foi uma grande influência para a criação da psicanálise, embora a história não o considere o pai da mesma.


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