Pensamento divergente em crianças: uma habilidade negligenciada
O pensamento divergente em crianças é um dom excepcional. Além disso, é natural (ninguém lhes disse o que é normal e, portanto, o que não é). Sua mente aberta é cheia de possibilidades, de raciocínio incomum, original e sempre idiossincrático. No entanto, às vezes esse potencial criativo tende a apagar-se à medida que crescem. Isso ocorre porque o sistema educacional tende a padronizar o modo de pensar de seus alunos, unificando perspectivas.
Se há algo que a maioria de nós sabe é que atrever-se a raciocinar de maneira diferente pode ser perigoso. Galileu, por exemplo, comprovou isso em sua própria pele quando suas ideias fizeram-no passar seus últimos anos confinado em sua casa em Florença. As mentes abertas são, sem dúvida, as que desafiam o mundo, mas são também as que o ajudam a progredir.
É claro que os tempos mudaram, que os finais vividos por outros cientistas como Giordano Bruno já não acontecem mais. No entanto, ocorrem outros tipos de situações. Como observado por Sir Ken Robinson, um especialista reconhecido em educação, as escolas atuais estão “matando” a criatividade das crianças.
Segundo ele, nossos centros educacionais baseiam seus modelos curriculares nos sistemas do século XIX, de uma época em que a industrialização da sociedade fez com que algumas capacidades fossem valorizadas em detrimento de outras. Promover a inovação, a criatividade ou o pensamento crítico era (e é muitas vezes) algo incomum quando o que temos é uma hierarquia de disciplinas e competências muito rígidas a serem assumidas.
Esquecemos que as crianças vêm ao mundo “equipadas” com talentos extraordinários. Negligenciamos o potencial de seu pensamento divergente, esse músculo psíquico extraordinário que às vezes enfraquecemos educando-os, exclusivamente, no pensamento convergente.
“Não é o que você olha que importa, é o que você vê”.
-Henry David Thoreau-
Pensamento divergente em crianças
As crianças na idade pré-escolar são verdadeiros gênios
O pensamento divergente em crianças de 4 a 6 anos apresenta resultados surpreendentes. É necessário mencionar neste ponto o que o professor de neurologia da Faculdade de Medicina de Harvard, Álvaro Pascual-Leone, aponta. Ao longo dessas idades ocorre no cérebro o que é conhecido como poda sináptica.
São aqueles períodos sensíveis do sistema nervoso em que ocorre uma poda neuronal programada modificada apenas pelas experiências. Se não houver estímulos adequados, essa poda celular limitará grande parte do potencial de aprendizagem da criança ao longo do tempo.
Também não se trata de ter “muitas conexões neurais”, porque assim o cérebro teria um excesso de “ruído” (algo que acontece no transtorno do espectro autista). Portanto, a chave é otimizar essa poda com a aprendizagem e o estímulo mais apropriado, o mais ideal. Especialmente nesse período entre 4 e 6 anos, em que as crianças contam com todo o seu potencial intacto.
Como podemos proteger e aprimorar seu pensamento divergente?
O pensamento divergente em crianças envolve necessidades particulares de aprendizagem que devem ser abordadas para que este não seja perdido. São as seguintes:
- Precisam de aprendizagem imersiva. As crianças devem experimentar, sentir, tocar, se emocionar… Elas devem fazê-lo em grupo com seus colegas, mas também sozinhas, para estimular o trabalho autônomo (e seu próprio espaço de criatividade).
- Da mesma forma, precisam trabalhar na aprendizagem em que não há (na medida do possível) uma única resposta válida. O pensamento divergente é hábil, gerando múltiplas opções para o mesmo desafio. O fato de suas ideias serem rejeitadas com frequência e identificadas como “incorretas” ou “erradas” gera desmotivação.
- Para aprimorar o pensamento divergente em crianças, é necessário também que elas se sintam validadas emocionalmente. Sentir que são aceitas, respeitadas, valorizadas e amadas as ajudará a se sentirem livres para explorar, descobrir novos interesses, evocar respostas, ideias e raciocínios sabendo que não serão criticadas.
Por último, cabe ressaltar que incentivar e proteger o pensamento divergente não implica eliminar completamente o pensamento convergente, longe disso. Na verdade, trata-se de harmonizar ambas as dimensões. Às vezes, há problemas em que é necessário ter uma solução única. Assim, as crianças também precisam entender esse tipo de situação.
Portanto, sejamos capazes de cuidar e otimizar essas realidades. Lembremos de uma frase bem conhecida de Albert Einstein: “Todo mundo é um gênio, mas se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, ele viverá toda a sua vida acreditando que é estúpido”.
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