Os pensamentos trágicos e o medo de viver

Os pensamentos trágicos e o medo de viver

Última atualização: 11 setembro, 2016

As pessoas cercadas por pensamentos trágicos costumam ver consequências espantosas em todos os acontecimentos. Se eles sentem dor de barriga, têm medo de ir ao médico porque suspeitam que possa ser um tumor maligno. Se acendem uma fogueira, na sua cabeça aparece a imagem de uma queimadura de terceiro grau devido a algum descuido. Quando sobem num avião, desfilam pela sua mente imagens de si mesmos agarrando-se ao colete salva-vidas.

Por natureza, costumamos reagir com uma certa dose de medo ou de apreensão diante do novo ou do incerto. No entanto, para algumas pessoas esse pequeno terror se converte numa catástrofe sem limites, que os assedia e faz de sua existência um verdadeiro inferno.

As pessoas com pensamentos catastróficos estão cheias de maus pressentimentos. O fio do seu raciocínio geralmente se contrói a partir da premissa “E se…”. Por isso surgem em sua mente perguntas como “E se eu pegar o ônibus e ele quebrar?”… “E se apresentar as minhas ideais e todos rirem de mim?”… “E se ao cruzar a avenida não perceber que vem um carro a toda a velocidade?”… Sempre imaginam os piores cenários possíveis em toda situação.

A natureza dos pensamentos trágicos

Os pensamentos trágicos não são um problema independente. No geral, estão associados a estados de ansiedade e/ou depressão mais profundos. Quem se encontra num elevado grau de ansiedade, por exemplo, diante de um aumento do seu ritmo cardíaco, acredita que sofrerá um infarto. Quem sofre de depressão vê a si mesmo em situação de abandono ou rejeição, vivendo debaixo de uma ponte, pedindo esmola em alguma rua ou morrendo sozinho num hospital comunitário.

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A verdade é que todos nós temos pensamentos trágicos às vezes, mas o que os converte num sintoma importante é a regularidade desses raciocínios e seu caráter obstinado. Claro que podemos ir ao zoológico e ser atacados por um leão, mas as possibilidades de que isso ocorra são ínfimas. Também podemos ser atropelados, mas há mais pessoas que não sofrem de tais acidentes do que aquelas que realmente sofrem.

O ponto é que, para quem tem pensamentos trágicos, essa possibilidade ínfima é superestimada. Isso se deve à produção de uma distorção no pensamento que consiste em não ter em mente o dado objetivo da probabilidade de ocorrência, mas sim o dado subjetivo da reiteração do perigo na própria mente.

Em outras palavras, repete-se tanto a ideia desses riscos absurdos que o afetado termina por adquirir a sensação de que sua ocorrência é altamente provável. Neste excesso da probabilidade influem outros fatores além da nossa própria predisposição, como o nosso entorno ou os meios de comunicação.

No cérebro humano um pensamento recorrente influencia inclusive a maneira como nossos neurônios se conectam. Quando mais se pensa em algo, mais ele volta à mente. É o que acontece no caso dos pensamentos trágicos: se repetem tanto que acabam fixando-se. E como ficam fixos, se repetem constantemente mesmo sendo um evidente autoengano.

As catástrofes e o medo de viver

Quase todas as pessoas passam  pelo menos alguma vez por uma situação catastrófica. Mais cedo ou mais tarde nos veremos confrontados com a morte de algum ente querido, com algum caso de saúde difícil de lidar ou simplesmente com a incerteza de não saber o que fazer depois de alguma mudança drástica. No entanto, se essas situações fossem constantes, não suportaríamos.

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O que as pessoas que são assediadas por pensamentos trágicos não entendem é que todas essas situações podem abordadas e superadas. O que temem no fundo é ficar numa situações de extrema vulnerabilidade: situações diante das quais não podem reagir, ou que os deixem, literalmente, paralisados e sem poder fazer algo. No fim das contas isso significa ignorar um fato: contamos com recursos para que, diante de toda situação, por mais difícil que seja, possamos oferecer uma resposta.

O que existe por trás das pessoas com pensamentos trágicos é com certeza uma infância difícil. Aprenderam, desde crianças, que o medo é hostil e que os perigos espreitam por todos os lados. Com certeza quando eram pequenos não entendiam muito bem de onde viria o próximo risco, e isso fez com que construíssem no seu interior um mecanismo de pensamento exageradamente defensivo.

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O que é aconselhável para enfrentar esses tipos de pensamentos é dar um tempo para avaliá-los, para passar-lhes um “filtro de realidade”. Além disso, não é bom pensar em possíveis respostas que possam dar diante desses perigos, começando pela prevenção.


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