O hábito de pensar mal dos outros

Quando alguém se acostuma a pensar mal dos outros, acaba se tornando capaz de ver apenas o lado mais negativo das pessoas. Quando isso acontece, nossa vida social e afetiva empobrece muito, e podemos inclusive acabar fazendo mal aos demais.
O hábito de pensar mal dos outros
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 01 março, 2020

Pensar mal dos outros é um hábito que decorre, principalmente, de um preconceito. O pior é que se trata de um comportamento que costuma carregar a semente da sua própria confirmação. Isso significa que a expectativa de que os outros nos façam mal ou nos magoem acaba se tornando realidade por obra de quem pensa assim.

As pessoas que têm o hábito de pensar mal dos outros geralmente tiveram experiências inesperadas e negativas no passado. O problema não são essas experiências em si, e sim sua falta de elaboração. Elas ficaram marcadas e despertam essa distorção que, infelizmente, se torna objeto de novos males.

Sentir-se decepcionado com os outros provoca sofrimento. O fato de o outro o decepcionar é uma experiência dolorosa e nada fácil de superar, principalmente porque, geralmente, representa uma traição da confiança, uma mentira ou uma desconsideração significativa. No entanto, depende de cada um trabalhar essa dor ou permitir que ela se perpetue para sempre.

“Aquele que suspeita convida a ser traído”.
-Voltaire-

Mulher chateada em sua casa

Pensar mal dos outros

O hábito de pensar mal dos outros é uma forma de nos anteciparmos a possíveis males. Partimos da ideia de que, se não prestarmos atenção, seremos objetos de traições. Ou que se não agredirmos, seremos agredidos. Por vezes, também fazemos o mal para evitar sofrê-lo ou, em todo caso, esperamos o pior do outro porque não queremos ser pegos de surpresa.

A consequência disso é que acabamos criando vínculos supérfluos e defensivos com os outros, mereçam eles ou não. Então, nós nos privamos da alegria que sentimos ao nos mostrar como somos, sem escudos, nem cálculos. Ao mesmo tempo, deixamos de experimentar a felicidade que se sente ao estabelecer um laço íntimo com alguém.

O pior de tudo é que acabamos induzindo os outros, de uma maneira ou de outra, a cumprirem com essa expectativa negativa que temos sobre eles. Uma pessoa desconfiada gera desconfiança, além de distância. Além disso, também faz com que surjam pensamentos negativos em relação a ela. O resultado é uma situação tensa e cheia de reservas.

Se você parar em frente a um cachorro e demonstrar muito medo, é muito possível que ele o ataque. Isso se deve ao fato de que o animal interpreta seu medo como uma preparação para o combate. Guardadas as devidas proporções, isso também pode acontecer entre os humanos.

As experiências negativas do passado

Uma pessoa que tem o costume de pensar mal dos outros sofre por isso, embora não admita. Esse hábito empobrece sua vida e contribui para que as desilusões do passado se mantenham vivas o tempo todo. Também é possível que ela desenvolva comportamentos nocivos com os outros em função da sua atitude defensiva.

O sofrimento que não é encarado, abordado e elaborado acaba se transformando em um eixo para a vida. Ninguém desconfia dos outros sem motivo. Há uma enorme decepção por trás dessa atitude e, com frequência, essa desilusão veio de alguém profundamente amado ou de quem se dependia muito.

Sua rejeição, abandono ou dano ocorreu de maneira inesperada. Isso é exatamente o que mais marca: o fato de ter confiado em alguém e, então, ver que essa confiança foi traída. Quem foi vítima de uma situação desse tipo culpa a si mesmo e jura que nunca mais será enganado de maneira semelhante.

Casal brigando

Elaborar a dor

Todas as pessoas erram conosco alguma vez, assim como nós erramos. Não existe ninguém que passe a vida toda sem ter causado algum tipo de desilusão a outra pessoa. Os seres humanos não são anjos, nem demônios. Nós erramos com frequência e, às vezes, algumas pessoas são machucadas por esses erros.

Brigar com toda a humanidade não deixa as coisas mais fáceis, muito pelo contrário. Transforma a desilusão no foco central da vida e nos torna prisioneiros dela. A saída não reside em enfraquecer todas as nossas defesas e confiar no mundo todo da noite para o dia. A questão é voltar àqueles acontecimentos que nos marcaram tão profundamente.

Mais do que perdoar os outros, é importante ficarmos em paz com nós mesmos. Se confiamos e nos enganaram ou nos decepcionaram, isso tem mais a ver com a pessoa que fez isso do que conosco. Foi essa pessoa que errou, pois nós fizemos o certo: confiar.


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  • Vivalda, N. (2016). Paulo o los riesgos espirituales de la altivez intelectual: Impertinencia cognitiva y castigo en El condenado por desconfiado. Bulletin of the Comediantes, 68(2), 22-45.


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