Pessoas irascíveis: a raiva como forma de comunicação

Pessoas irascíveis: a raiva como forma de comunicação
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

As pessoas irascíveis ​​são viciadas na raiva constante. Pancadas na mesa, portas batendo, gritos e até birras… São aqueles perfis que não sabem se comunicar sem levantar a voz, aqueles que perdem a postura e não podem ser contrariados. Assim, por trás desse comportamento difícil, frequentemente se esconde um ser fraco que usa a raiva como um mecanismo de defesa.

Todos nós já perdemos a calma alguma vez. Sabemos como é quando a raiva nos domina e, quase sem saber como, explodimos da maneira mais inoportuna e menos hábil. Agora, o que mais impressiona nessas experiências é que elas nos oferecem boas lições; aprendemos à força o quão importante é a atitude assertiva para lidar com as situações complicadas em que nossa maturidade emocional é colocada à prova.

A pessoa irascível é alguém que aprendeu a se relacionar com o mundo através da raiva e da ira para conseguir o que quer.

Por outro lado, há um aspecto crucial que é importante considerar. A raiva continua sendo, nos dias de hoje, uma emoção pouco ou nada compreendida. Poderíamos dizer neste exato momento que as pessoas irascíveis são aquelas presenças que vale a pena evitar em nossas vidas diárias para preservar o equilíbrio e a saúde.

No entanto, nada é mais importante do que compreender. Façamos bom uso da psicologia e nos permitamos entender que por trás daquela criança raivosa, daquele membro da família com tratamento amargo e daquele chefe sem resistência à frustração, há alguém que não sabe usar outro tipo de linguagem. Alguém que lida consigo mesmo e não sabe o que fazer ou de onde vem toda essa raiva explosiva e negatividade envenenada.

Chefe brigando com seus funcionários

Pessoas irascíveis: por que elas agem dessa maneira?

Os franceses têm uma palavra muito boa para esses comportamentos passivo-agressivos, para aquelas pessoas que fazem da raiva seu meio de comunicação. Eles usam a expressão “sous-entendu”, que significaria algo como “o que se entende abaixo ou o que está abaixo”. O que há, então, sob aquela pele de lobo que faz uso dessa intensidade emocional devastadora? A resposta não pode ser mais simples: há outro lobo, mas é um lobo ferido.

Vejamos algumas dessas características que poderiam explicar esse tipo de dinâmica nas pessoas irascíveis.

  • Há angústia excessiva. As pessoas que reagem com raiva tendem a armazenar um espaço transbordando de angústia. São aqueles perfis que desde crianças se assustavam por nada, que diante de qualquer estímulo reagiam com medo e alarme intensos. Assim, e chegada a maturidade, essa inquietação persistente com o que escapa de seu controle ou com o inesperado se traduz em raiva. Essa emoção nada mais é do que um mecanismo de defesa excessivo para reagir a tudo e a todos.
  • A raiva como resposta para todas as emoções negativas. Esse perfil de personalidade não sabe reconhecer se o que sente é tristeza, decepção, medo, inquietação, surpresa ou vergonha. Todas essas emoções serão entendidas e traduzidas da mesma maneira: com raiva.
  • A raiva é um problema cumulativo. Quando há uma emoção que não é canalizada, entendida e gerenciada, ela se acumula. Além disso, as pessoas irascíveis carregam consigo uma história de frustrações armazenadas por décadas. Desta forma, os atos mais insignificantes atuam como gatilhos para toda aquela tempestade de raiva contida nela.
  • A raiva e a paranoia. Essa relação é tão problemática quanto destacável. As pessoas irascíveis estão cheias de angústia, de emoções convulsivas não compreendidas e de um resíduo de raiva notável. Toda essa arquitetura profunda constrói comportamentos paranoicos. Tudo é uma ameaça para eles, eles desconfiam, acham que os outros estão lá para machucá-los, para ridicularizá-los. São situações muito exaustivas.
Boneco com raiva

Como aprender a controlar a raiva?

As pessoas irascíveis ​​não têm uma boa qualidade de vida. É um aspecto que, do ponto de vista clínico, não pode nem deve ser ignorado. Além disso, como mostram vários estudos, esse tipo de personalidade é mais propensa a sofrer de problemas cardíacos, derrames, problemas respiratórios, imunidade baixa… A raiva adoece e, além disso, estabelece distâncias intransponíveis com as pessoas que amamos.

Assim, um fato comum desse tipo de perfil é que aplicam o que é conhecido como raiva deslocada. Podem estar zangados com alguma coisa ou alguém, no entanto, acabam projetando toda a sua energia negativa naqueles que menos merecem: filhos, parceiro… É uma prioridade dar recursos e estratégias para essas pessoas para que elas entendam que a raiva não é um canal adequado de comunicação, é a assertividade que lhes permitirá sobreviver muito melhor em qualquer cenário.

Vamos ver agora algumas estratégias simples para refletir, e que podem nos ajudar a gerenciar muito melhor essa emoção.

  • Devemos entender o que é a raiva e qual é o seu propósito. Trata-se, em essência, de uma resposta que nosso cérebro emite para atacar ou fugir de um perigo. É uma manifestação puramente biológica e fisiológica.
  • O segundo passo é aprender a identificar as próprias emoções e entender o que as motiva: O que eu sinto é tristeza? O que motivou isso? Se o que eu sinto é vergonha, o que causou isso?
  • Técnicas de respiração. Uma maneira de canalizar a ira e a raiva que bloqueiam nosso corpo e nossa mente é aprender a relaxar, respirar, e se concentrar nos músculos tensos e no coração acelerado para lhes dar calma. Só assim nos permitiremos pensar melhor e reagir de maneira mais adequada.
  • Substituir a raiva pela assertividade. Outro objetivo essencial nas pessoas irascíveis é que elas aprendam a se relacionar assertivamente, devem deslocar o uso da raiva como uma forma de linguagem para fazer da comunicação assertiva sua melhor ferramenta.
Pessoa angustiada

Para concluir, apontaremos apenas um último aspecto. Às vezes, a pessoa irascível não apenas faz uso da violência verbal, mas muitas vezes a violência física se torna recorrente. Não hesitemos, portanto, em intervir nestes casos, tomando medidas que nos protejam se formos vítimas deste perfil, e medidas de ação, se somos nós que apresentamos essas dinâmicas.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.