As pessoas que falam pouco

Uma pessoa não é desinteressante porque está calada. Geralmente, as pessoas com poucas palavras tendem a nos surpreender. No entanto, como tudo na vida, também há exceções: vamos tratá-las a seguir.
As pessoas que falam pouco
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

Existem pessoas que falam pouco, que sabem ouvir e oferecer cumplicidade com o olhar. Alguns dirão que são chatos, que seu problema é a timidez e que estar com eles é perda de tempo. No entanto, pessoas de poucas palavras podem esconder mundos incríveis e apresentar perfis em que você pode confiar.

Como uma anedota curiosa, costuma-se dizer que um dos melhores atores britânicos de toda a história foi Sir Alec Guinness. Se ele era conhecido por alguma coisa, além do domínio da atuação, era por variar o timbre e o tom de voz em cada papel. Ele era tão camaleônico que toda vez que ia receber um prêmio, como o Oscar por seu papel em A Ponte do Rio Kwai, todos ficavam ansiosos para ouvir mais sobre ele.

Muitos esperavam um discurso para ouvir sua verdadeira voz e, em última instância, para se aproximar da verdadeira pessoa por trás de cada personagem interpretado. No entanto, Guinness sempre foi um homem de poucas palavras. Ele recebeu seus prêmios após um breve e tímido “obrigado” que desapareceu instantaneamente, alimentando ainda mais o mistério e o fascínio.

Em essência, quem é conhecido por sua natureza reservada, por falar o que é justo e necessário, não esconde necessariamente um distúrbio psicológico ou um comportamento antissocial. Esta é mais uma característica da personalidade humana. Além disso, em média, eles tendem a construir laços sociais mais fortes e saudáveis.

Menina fazendo o gesto de silêncio

Pessoas que falam pouco: características e origens

Nós os chamamos de “quietos”, “reservados”, “silenciosos”… Quem fala pouco é uma ave rara em um mundo em que, em geral, quem fala muito, é carismático e atrai mais atenção faz sucesso. Poderíamos dizer que, em média, gostamos de pessoas falantes que falam alto e que em pouco tempo podem nos contar sua vida inteira e mil anedotas incríveis.

Porém, a tagarelice às vezes é exaustiva, enquanto as pessoas que ficam caladas nos intrigam com seu silêncio, com sua sutileza comunicativa. De alguma forma, estamos acostumados a acreditar que extroversão e verborragia são sinônimos de sucesso, que quem vence essa competição tem capacidade de liderança e até segurança pessoal.

Agora, isso é verdade? Esse assunto é tão interessante quanto atual. A Universidade da Geórgia, por exemplo, realizou um estudo em 2017 para entender o estilo de liderança de extrovertidos e introvertidos.

Algo que pôde ser descoberto é que as pessoas mais reservadas possuem outras ferramentas, habilidades e estilos de comunicação que são muito úteis em qualquer organização. É um estilo de liderança diferente que vale a pena aprofundar.

Vamos descobrir o que pode estar por trás daqueles que falam pouco, que muitas vezes navegam entre silêncios.

Introversão e personalidade reservada

A grande maioria das pessoas que falam pouco são introvertidos. Livros como The Introverted Leader: Harness Your Silent Talent, de Jennifer B. Kahnweiler, nos dão um exemplo de como esse estilo de personalidade está cada vez mais na vanguarda. Os traços que os definem são os seguintes:

  • Eles pensam antes de falar.
  • Eles sabem ouvir, refletem sobre o que lhes é dito e demoram mais para responder.
  • São observadores, imaginativos e grandes analistas da realidade.
  • Eles não fogem do contato social, não são tímidos, mas são seletivos quando se trata de construir amizades.
  • Eles gostam da solidão.
  • São meticulosos, gostam de cuidar ao máximo dos seus relacionamentos. São pessoas em quem confiar e que, por sua vez, valorizam ter figuras firmes com quem compartilhar confidências.

A timidez e as pessoas que falam pouco

Tem gente que fala pouco por problemas de insegurança. Nesse caso, estaríamos diante de um tipo de personalidade marcada pela timidez. No entanto, o fato de não conviverem com facilidade em diferentes contextos sociais não significa que acabem falhando no ambiente afetivo ou de trabalho.

Sabemos que figuras como Jorge Luis Borges e Agatha Christie eram incrivelmente tímidas. Alec Guinness ou o ator Dick Bogarde costumavam vomitar antes de entrar no palco. No entanto, uma vez que se incorporavam ao seu papel, atuavam com maestria. A timidez pessoal limita e dói, é verdade, mas muitas vezes é neutralizada com grandes virtudes.

Homem sério representando pessoas que falam pouco

A personalidade reflexiva: calma interior em um mundo apressado

Em um mundo onde as pessoas trocam ideias, opiniões e pensamentos quase sem filtro, quem fala pouco tem um ritmo diferente. Há, portanto, outro fator que deve ser levado em consideração e que se relaciona com o enfoque reflexivo.

Há quem amadureça muito o que vai dizer a todo momento. Existem aqueles que ouvem com todos os sentidos antes de responder, que demoram porque se comunicam a partir da autenticidade, com as crenças e os valores nas mãos e a verdade no coração. Eles observam o que os rodeia, são empáticos, intuitivos e hábeis em perceber como os outros são e do que precisam.

Tudo isso exige ser mais relaxado, deixar os outros falarem, atender, olhar, estudar… Só então se atrevem a falar em voz alta, esperando ser sempre úteis com o que dizem, respeitosos com o que expressam. Sua forma de agir, processar e enfrentar exige mais tempo, e isso os faz restringir um pouco mais a fluência comunicativa.

Para muitos, esse traço pode parecer incomum, mas, no fim, é outra nuance da personalidade. Assumir que cada pessoa é única e que nem todos têm aquela capacidade de falar de forma ágil ou, como se costuma dizer, “pelos cotovelos”, nos permitirá compreender melhor o comportamento dos demais.


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  • Clack, Lesley. (2017). Examination of Leadership and Personality Traits on the Effectiveness of Professional Communication in Healthcare. Journal of Healthcare Communications. 02. 10.4172/2472-1654.100051.

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