Pessoas que não agradecem: a origem da ingratidão
Por que algumas pessoas não agradecem e demonstram ingratidão? A verdade é que nem sempre precisamos que os demais se mostrem agradecidos a cada instante. Sim, esperamos certos gestos de cortesia ou pelo menos uma atitude amável diante dos nossos esforços e atitudes. No entanto, há pessoas que, pelas mais diversas razões, são incapazes de demonstrar estes sinais sociais.
Todos nós conhecemos alguém assim. Além disso, é curioso que este comportamento, longe de ser algo isolado, seja visto com uma certa frequência. A maioria de nós possui algum familiar, colega de trabalho ou de sala, que já ajudamos em mais de uma ocasião e que nos respondeu de forma fria ou até mesmo hostil.
São situações que costumam nos colocar em uma posição ao mesmo tempo incômoda e dolorosa. Isso acontece porque, frequentemente, sem a necessidade de esperar um efusivo “obrigado”, acabamos encontrando pessoas que não se sentem satisfeitas com nossos gestos. E mais: estas pessoas podem inclusive acreditar que o esforço ou sacrifício feito pelo outro não foi mais do que uma obrigação. Era apenas o que eles esperavam.
Esses tipos de dinâmicas em nossas relações geram um certo sentimento de culpa. Ficamos nos perguntando por que fomos tão ingênuos ao ponto de fazer uma determinada coisa pela pessoa. Bom, é necessário abandonar a sensação de culpa para entender algo muito simples: o problema está neles. A ingratidão possui uma série de origens psicológicas específicas, sobre as quais falaremos a seguir.
“A gratidão é a memória do coração”
-Lao-tsé-
Como são as pessoas que não agradecem?
Há pessoas que não agradecem e pessoas que agradecem o tempo todo, praticamente por qualquer coisa. São duas posições opostas com as quais convivemos e que frequentemente chamam a nossa atenção. Entretanto, assim como indica o psicólogo Pinhas Berger, da Universidade de Tel Aviv, aqueles incapazes de pronunciar a palavra “obrigado” estão perdendo seu potencial de criar relações satisfatórias e inclusive de se realizarem como pessoas.
Quem não agradece (por não querer ou não saber como) acaba invalidando ou pesando de alguma forma os esforços e gestos positivos dos outros. E algo assim cria um impacto. Pouco a pouco acabam recebendo o que eles mesmos projetam: desconfiança e hostilidade. Mas, por que fazem isso? O que há por trás das pessoas que não agradecem?
Em um estudo realizado pelo doutor Pinhas Berger, mencionado anteriormente, várias coisas interessantes chamam a atenção. A primeira é que existe a possibilidade de reverter este tipo de comportamento. Na realidade, estes perfis apresentam múltiplas carências que podem ser tratadas, tanto emocionais quanto sociais. Entretanto, primeiramente é preciso saber a origem dessas dinâmicas. Estas seriam algumas causas:
Ingratidão “estado” e ingratidão “característica”
Este primeiro dado é importante. Os autores deste trabalho recomendam diferenciar as pessoas que, em determinados momentos, podem demonstrar uma certa ingratidão, daquelas que sempre demonstram este tipo de gesto.
- Vamos pensar, por exemplo, que diversas condições psicológicas, como uma depressão ou um transtorno de ansiedade, podem fazer com que não sejamos muito sensíveis ou receptivos a atitudes que os demais fazem por nós. Não as vemos e não as apreciamos porque não estamos bem em um determinado momento de nossas vidas.
- Por outro lado, a ingratidão como característica faz referência a um comportamento estável no tempo.
Falta de habilidades interpessoais
Outro fator que podemos considerar é a falta de educação. Há, efetivamente, pessoas que não foram ensinadas a agradecer pelas pequenas coisas do dia a dia — não foram ensinadas a serem cordiais, amáveis ou a fazer uso de comportamentos pró-sociais tão básicos para o dia a dia.
Assim, embora às vezes tenham consciência de que talvez devessem se esforçar para melhorar, gerar uma mudança requer muito esforço. E mais, demonstrar uma certa amabilidade de um dia para o outro seria se afastar demais da sua essência, por isso nunca conseguem dar um passo à frente.
Entretanto, às vezes, além de faltar educação, faltam também habilidades sociais. Outros aspectos a serem considerados são: não saber se comunicar e não se esforçar em praticar a cordialidade, bem como não expressar um mínimo de reciprocidade.
Falta de empatia
Muitas das pessoas que não agradecem não o fazem simplesmente porque não veem nem apreciam os gestos amáveis. Suas lentes são muito escuras, seu coração é frio e seu cérebro é muito falho em Inteligência Emocional. Não verão, por exemplo, que nos esforçamos diariamente para tornar suas vidas mais fáceis.
Ignoram tudo o que fazemos porque simplesmente é o que eles esperam de nós. Essa falta de empatia e frieza emocional torna-se crônica até atingir estados disfuncionais. Portanto, eles podem até se tornar cada vez mais exigentes e hostis. Se em algum momento nos negarmos a fazer mais concessões, podem reagir de forma negativa.
O que podemos fazer diante de pessoas que não agradecem?
O doutor Pinhas Berger indica que é possível reverter este comportamento. Em outras palavras, por meio de um programa baseado em habilidades sociais e na gestão emocional, seria possível melhorar estes comportamentos tão incômodos e pouco receptivos.
Porém, sabemos que para alguém acostumado a não exercer a arte da amabilidade, mudar de um dia para o outro não é fácil. Quem não agradece por um copo de água, nem quando pegamos algo que caiu no chão, também não agradecerá pelos nossos sacrifícios e concessões.
Sem dúvidas, esse é um assunto muito complexo no qual cada pessoa é um universo. Seja como for, o que sabemos é que estes comportamentos geram discórdia, frustração e mal-estar. Portanto, devemos tentar medir o que fazemos pelas pessoas pouco agradecidas. Precisamos avaliar se vale a pena ou não e, acima de tudo, devemos evitar replicar o seu comportamento.
Agradecer é o ato mais nobre e simples para reconhecer o outro. É dar visibilidade, agradecer pelo que ele é e pelo que faz. Não podemos nos esquecer disso e devemos praticar este exercício diariamente.
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- Berger, P., Bachner-Melman, R., & Lev-Ari, L. (2019). Thankful for what? The efficacy of interventions targeting interpersonal versus noninterpersonal gratitude. Canadian Journal of Behavioural Science / Revue Canadienne Des Sciences Du Comportement, 51(1), 27–36. doi: 10.1037/cbs0000114