Pitágoras, magia e esoterismo

A magia e a matemática podem coexistir? Os números são apenas abstrações mentais ou entidades metafísicas? A seguir, descubra o que Pitágoras pensava sobre isso.
Pitágoras, magia e esoterismo
Matias Rizzuto

Escrito e verificado por o filósofo Matias Rizzuto.

Última atualização: 01 julho, 2023

Pitágoras foi um dos primeiros pensadores gregos a tentar desenvolver um sistema racional para explicar como o mundo funciona. Embora seja conhecido por seus avanços no campo da matemática, as práticas de sua escola foram influenciadas pela magia e pelo esoterismo.

Como não deixou nada escrito e as suas únicas biografias foram escritas centenas de anos mais tarde, a sua história está envolta numa atmosfera lendária, onde mito e realidade se combinam indissociavelmente. Neste artigo, tentaremos explicar os elementos mágicos presentes em sua vida e escola filosófica.

Pitágoras e os números como fundamento do universo

Para esse filósofo, os números não eram meras abstrações que fazemos de objetos físicos, mas tinham uma entidade própria. Os números foram o começo de tudo o que vemos. Por esta razão, não devemos confundir o uso que fazemos atualmente da matemática e aquele que os antigos pitagóricos davam a esta disciplina.

Para esses matemáticos, a geometria e os números tinham um caráter sagrado e toda uma cosmologia se desenvolveu a partir deles. Os números eram o fundamento metafísico da existência. Agora, como os pitagóricos deduziram a realidade material dos números?

Segundo o historiador grego Diógenes Laércio, o número “um” representava a realidade última de tudo o que existe, ou seja, o princípio não gerado ou como os antigos gregos o chamavam: o arché.

O “dois”, por outro lado, está mais próximo da materialidade, pois através dele é gerada a linha. Então, se adicionarmos outro ponto, confirma-se a existência do plano, construindo a figura geométrica básica: o triângulo. E é somente com o quarto ponto que se gera a realidade tridimensional, com a conformação do tetraedro.

Matemática e esoterismo

Como os pitagóricos acreditavam que os números eram sagrados, nem todos podiam ter acesso ao estudo deles. Era um conhecimento reservado a um pequeno grupo de iniciados que tinham que passar por muitos testes antes de entrar na escola.

O famoso historiador da matemática, Paul Tannery, em sua obra La géométrie grecque, descreveu com formidável precisão a divisão entre iniciados e não iniciados, que caracterizava dois grupos bem definidos: akoustimatikoi e matematikoi.

Os akoustimatikoi eram aqueles que acessavam os chamados ensinamentos exotéricos que eram caracterizados principalmente como filosóficos ou éticos. Akousmata significa literalmente “aquilo que é ouvido”.

Por outro lado, o matematikoi tiveram acesso a certos conhecimentos proibidos à maioria: as descobertas matemáticas. Estas circulavam apenas dentro da escola e eram considerados conhecimentos esotéricos.

O pentagrama

Um dos símbolos mais relacionados a Pitágoras é o pentagrama. É obtido desenhando uma linha de um ângulo a outro de um pentágono. O curioso é que a figura formada por dentro é um pentágono que tem uma proporção áurea com o pentágono inicial. Essa proporção é um tipo de relação que ocorre em muitos fenômenos naturais, inclusive na música.

Assim, os pitagóricos atribuíam um caráter sagrado aos números e às proposições matemáticas, com o que essa figura era de grande importância para eles. O pentagrama foi utilizado pelos membros da escola pitagórica como símbolo distintivo, destaca a Revista Brasileira de Historia Da Matematica; suas supostas qualidades mágicas inspiraram pintores como Dalí em algumas de suas obras.

Música e magia

Uma das descobertas mais famosas e revolucionárias atribuídas a Pitágoras é a proporção que permite separar a escala musical em graus. A história mais lendária conta que ao passar pela porta de um ferreiro, ouvindo como o ferro era martelado, ele ouviu as notas que saíam simultaneamente do metal.

E, entrando na oficina o filósofo mediu os martelos para estabelecer as proporções das notas que cada um produzia; então ele desenvolveu o mesmo experimento com cordas.

Foi assim que uma corda, presa por uma ponte móvel, descobriu as proporções que constituem as consonâncias perfeitas: oitava 1/2; quarta 4/3; quinta 3/2 e que também formam uma proporção áurea. A música e a matemática foram relacionadas pela primeira vez pelos pitagóricos, o que possibilitou a criação de um sistema teórico-musical.

Essa estreita relação com a matemática bateu a música do mesmo caráter sagrado e era utilizada pelos discípulos do pensador para curar doenças do corpo e da alma. As lendas dizem que ele ouvia o som produzido pelos corpos celestes, a chamada música das esferas.

Pitágoras e os cultos misteriosos

Com tudo o descrito, destaca-se o valor do conhecimento matemático na antiguidade grega. A escola pitagórica fazia parte de uma tradição misteriosa, ou seja, um tipo de culto que só permitia o acesso de alguns iniciados. As tradições misteriosas foram muito influentes no mundo antigo e surgiram nas mais variadas formas.

Várias dessas tradições vieram do Egito, uma nação muito estimada por muitos gregos. Parte do conhecimento atribuído a este matemático pode vir deste país, onde houve um avançado desenvolvimento desta ciência.

De fato, há evidências de que o famoso teorema de Pitágoras era conhecido muito antes da existência do filósofo, sendo usado e comprovado na Babilônia, Índia e China.

Conclusões

Como vimos, para os pitagóricos as fórmulas e proposições matemáticas eram mais do que apenas abstrações. Os números não eram constituídos exclusivamente por elementos instrumentais, mas faziam parte de uma dimensão teológica que possibilitava o desenvolvimento de toda uma cosmologia: eram entidades matemáticas independentes da matéria.

Mais próximos das tradições misteriosas do que da filosofia, os pitagóricos entendiam a matemática, a música e a metafísica como expressões de uma realidade última. O número representava o sagrado manifestado no mundo e a compreensão dos fenômenos matemáticos dava conta da capacidade humana de ter contato com a realidade divina.


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