Por que as pessoas que eu amo me machucam?

Às vezes nos perguntamos por que as pessoas que mais amamos e apreciamos acabam nos machucando. Existe uma explicação? Na verdade, há vários fatores dos quais devemos estar cientes. Nós iremos analisá-los abaixo.
Por que as pessoas que eu amo me machucam?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Existe um tipo de frio que ultrapassa a pele e adere aos sentidos, às profundezas do nosso ser. É o calafrio doloroso daqueles que não nos levam em consideração, daqueles que nos negligenciam, daqueles que de repente são grosseiros ou fazem algo inesperado e doloroso. Por que as pessoas que eu amo me machucam? Por mais surpreendente que pareça, nos fazemos essa pergunta várias vezes ao longo de nossas vidas.

O poeta britânico George Granville disse que não há dor mais devastadora do que a provocada pelo amor. De certa forma, nada poderia ser mais verdadeiro. Porque as pessoas investem uma grande quantidade de energia emocional nesses vínculos. Precisamos desse apoio diário porque o carinho cria raízes, o carinho cria vínculos e constrói o tecido da confiança, o que nos permite sentir-nos seguros e validados em nossos relacionamentos.

Assim, o fato de esse universo de emoções e afetos se romper dói tanto ou mais do que uma lesão física. Será que esperamos demais das pessoas ao nosso redor, que formam nosso círculo mais íntimo? Alguns poderiam dizer que pecamos por ser inocentes. No entanto, há um aspecto crucial que devemos compreender.

Todo vínculo social e emocional é o produto de um pacto não escrito pelo qual não se espera ser prejudicado. Esse princípio se aplica às relações familiares, entre pais e filhos, entre irmãos. Também se espera que nosso parceiro não nos traia e não tenha nenhum comportamento capaz de gerar dor. O mesmo vale para as pessoas que consideramos parceiros da vida, amigos da alma.

Vamos nos aprofundar neste tema.

Homem chateado olhando pela janela

Por que as pessoas que eu amo me machucam?

Manuel Hernández Pacheco, psicólogo e biólogo da Universidade de Málaga, escreveu em 2019 um livro intitulado Por que as pessoas que eu amo me machucam? Nele, abordou o assunto a partir do ponto de vista neurológico, concentrando-se no conceito de apego e prestando uma atenção especial à população adolescente.

As pessoas, como seres sociais, precisam de vínculos significativos e de figuras saudáveis ​​de apego para se sentirem bem, reduzirem o estresse e se sentirem parte de um grupo. Tudo isso é decisivo em uma etapa muito específica do nosso ciclo de vida: a infância e a adolescência.

Dessa forma, a criança que se sente rejeitada e se pergunta por que as pessoas que ela ama a magoam sentirá aquela dor psicológica tão prejudicial e capaz de causar um trauma. Além disso, o Dr. Pacheco tenta responder por que as pessoas, apesar de fazerem parte de relacionamentos dolorosos, são incapazes de sair desse ciclo tão devastador para a autoestima.

Todas essas realidades são bem conhecidas. No entanto, muito além do efeito dessa dor, é importante saber qual é o motivo por trás dessas situações.

Aqueles que pensam que, no amor, vale tudo

Há pessoas que pensam que vale tudo em assuntos relacionados ao afeto, que não há limites ou consequências. São figuras que dão como certo que tudo o que fizerem será sempre perdoado, aquelas que pensam que o simples fato de ser uma família ou casal justifica quase tudo.

Um exemplo disso seria um amigo que compartilha nossas confidências com outras pessoas pensando que não ficaremos com raiva. Além disso, podemos citar um parceiro que toma decisões sem nos levar em consideração.

Fazem isso porque têm certeza de que, seja qual for a sua decisão, nós a aprovaremos, de que concordaremos com os olhos fechados. Esquecem que o amor tem condições, que o afeto merece respeito e atenção diária.

Casal refletindo sobre a relação

Por que as pessoas que eu amo me machucam? Porque não percebem sua dor nem conhecem seus limites

Diante da pergunta: “Por que as pessoas que eu amo me machucam?”, devemos nos fazer outra pergunta: essas pessoas estão cientes de que nos causaram sofrimento? Essa não é uma pergunta trivial. Há pessoas próximas que fazem e dizem coisas sem levar em conta seus efeitos sobre as demais e isso, sem dúvida, é um grande problema.

Um exemplo disso é a mãe ou o pai que sempre destaca as conquistas de um filho deixando de lado o outro. Eles fazem isso inconscientemente, sem levar em conta o efeito que isso gera.

Por outro lado, há um aspecto determinante. Se nós mesmos não estabelecemos limites ou alertamos sobre o que não podemos tolerar ou o que nos causa dor, é muito possível que os demais os ultrapassem continuamente sem saber que estão nos prejudicando.

E se o problema estiver em mim? Quando esperar demais dos outros age contra nós

Como apontamos, em todo vínculo social existe um pacto implícito que nos diz que ninguém deve machucar o outro. Este também é um princípio de convivência e respeito.

Agora, se eu sempre me pergunto por que as pessoas que amo me machucam e sempre me sinto machucado, talvez o problema esteja em mim.

  • Relacionamentos baseados na codependência, por exemplo, criam um ciclo no qual a dor e a necessidade andam de mãos dadas. Nós mesmos estamos cientes de que esse relacionamento gera sofrimento; no entanto, somos viciados naquela pessoa e precisamos ficar ao seu lado.
  • Outra causa que nos leva a sentir-nos machucados em nossos relacionamentos é a baixa autoestima. Precisamos muito, desejamos receber dos outros a atenção, o amor e a validação que não damos a nós mesmos. Essa é uma fonte inesgotável de dor, porque nunca estamos satisfeitos, nunca é suficiente.

Para concluir, talvez seja importante avaliar diferentes possibilidades. A primeira é se esses relacionamentos valem a pena. A segunda é analisar a sua autoestima e o seu autoconceito. Nunca devemos nos conformar com um amor que dói, e tampouco devemos negligenciar o afeto que damos a nós mesmos.


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  • Pacheco, H. Manuel (2019). ¿Por qué la gente a la que quiero me hace daño?. DESCLEE DE BROUWER

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