Por que não devemos ser amigos dos nossos filhos?

Ser pai não significa ser amigo. Estes são dois tipos de relação totalmente diferentes, além da condição biológica. Quando confundimos esses papéis, não atendemos às necessidades dos nossos filhos.
Por que não devemos ser amigos dos nossos filhos?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Por que não devemos ser amigos dos nossos filhos? Muitos pais se surpreendem quando ouvem que não é bom nem aconselhável ser o melhor amigo dos seus filhos pequenos ou adolescentes.

O principal motivo é que, ao nos tornarmos seus iguais, perdemos autoridade, e isso nos coloca em uma posição contraditória, incômoda e contraproducente, tanto para eles quanto para nós.

No entanto, muitos pais se esforçam para fazer exatamente isso. As mães querem se tornar as melhores amigas de suas filhas, na esperança de serem sua melhores confidentes. Os pais também querem ser aquela figura versátil que inclui ser o melhor companheiro de brincadeiras dos filhos e um amigo com quem eles podem conversar sobre tudo.

Tudo isso, é claro, é positivo e enriquecedor. No entanto, alguns limites nunca devem ser excedidos. Os pais não podem estar no mesmo nível que seus filhos porque isso pode diminuir a sua autoridade. No momento em que o status se dilui, as regras deixam de ter força e os limites deixam de existir, permitindo que a criança pense que tudo é permitido. Em um mundo onde todos são amigos, não há motivo para seguir regras.

Vamos refletir sobre isso.

Pais e filhos

Por que não devemos ser amigos dos nossos filhos?

Em seu livro The Epidemic of Narcissism, os autores Jean Twenge e W. Keith Campbell refletem sobre esta questão. Para eles, um dos motivos pelos quais há cada vez mais narcisistas e m nossa sociedade está relacionado à igualdade nas relações entre pais e filhos. Se nos perguntarmos por que não devemos ser amigos dos nossos filhos, essa é uma parte importante da resposta.

É fácil perdermos autoridade nesta tentativa de nos relacionarmos com eles como faríamos com um amigo. Uma autoridade da qual precisaremos mais tarde para impor limites que ajudarão a definir o seu desenvolvimento.

Sim, precisamos ser pais próximos e afetuosos, mas também precisamos saber manter a autoridade, pois isso favorecerá o desenvolvimento dos nossos filhos. Vamos ver por quê.

A definição de amizade e a definição de pai e mãe

Antes de tentar responder por que não devemos ser amigos dos nossos filhos, vale a pena analisar as definições dos termos.

Ser amigo de alguém é manter um vínculo afetivo desinteressado entre duas ou mais pessoas. Essa relação também se baseia em um senso de igualdade absoluta em que ninguém exerce controle sobre o outro.

Por outro lado, ser pai ou mãe significa amar, educar, proteger, orientar e cuidar de quem é mais jovem. Tudo isso é exercido a partir de uma posição de autoridade. Esse zelo, para ser válido e enriquecedor, exige a aplicação de uma série de regras, e essas regras dão segurança à criança, porque a lembram do que é esperado dela a cada momento.

Dessa forma, quem busca apenas ser o melhor amigo dos filhos estará demonstrando um alto grau de negligência na relação.

Sofrimento psicológico e pais agindo como amigos

Um estudo realizado na Universidade de Illinois pela Dra. Susan Silverberg descobriu algo relevante. Algumas mães divorciadas veem suas filhas adolescentes como seu melhor apoio, a ponto de buscarem ser suas melhores amigas. Isso significa que, muitas vezes, elas recorrem às filhas com preocupações que não são apropriadas para compartilhar com elas.

Esta pesquisa mostrou, por exemplo, que muitas mães conversavam regularmente com suas filhas adolescentes ou pré-adolescentes sobre seus problemas financeiros, altos e baixos no trabalho ou problemas emocionais com novos parceiros. No entanto, o que elas não sabiam é que isso despertava um alto nível de sofrimento psicológico nas meninas.

Este tipo de intimidade em que as crianças se tornam “amigas de desabafo” para projetar preocupações é altamente contraproducente. A tarefa dos pais é reduzir a angústia das crianças, não intensificá-la.

Confie nas crianças, mas não “vale tudo”

Quando se trata de estabelecer um vínculo de confiança com nossos filhos, “vale tudo” certamente não é a regra. Existem estratégias inteligentes que nos permitem manter a comunicação aberta e a relação íntima sem comprometer nossa autoridade para estabelecer certos limites. Essa é a chave.

  • É aconselhável estabelecer um vínculo de cordialidade, confiança, afeto e companheirismo absoluto, mas sem deixar de estabelecer limites.
  • A confiança que estabelecemos com nossos filhos deve ter como objetivo promover neles responsabilidade, autoconhecimento e maturidade emocional. Uma criança não é nosso igual, é uma pessoa que está sob nossos cuidados e que devemos ajudar a ser madura e independente.
  • Sempre é aconselhável guardar certas coisas para nós. A criança não precisa suportar a ansiedade, os medos e as preocupações emocionais de seus pais.
Mãos segurando muda de planta

Não devemos ser amigos dos nossos filhos porque isso cria um apego inseguro

Há outro motivo convincente para explicar por que não devemos ser amigos dos nossos filhos. Um bom vínculo entre pais e filhos é mais fácil quando ambas as partes têm estilos de apego seguro. As crianças devem nos ver como pessoas que podem validar suas necessidades, orientá-las, estar sempre acessíveis e que sempre desejam o melhor para elas.

Se basearmos a relação na amizade, muito disso se dilui. A criança ou o adolescente nos verá como um igual, alguém que está na mesma posição e que pode ter as mesmas inseguranças e necessidades que ele.

Tudo isso resulta em um apego inseguro e uma contradição constante. Nossos filhos se sentirão em uma prisão sem grades enquanto tentam, sem sucesso, encontrar seu lugar neste mundo.

Queiramos ou não, a criação e a educação de uma criança exigem que conheçamos nossa posição nessa relação, a fim de sempre sermos capazes de apoiar nossos filhos da melhor maneira possível.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Bednar DE and Fisher TD. 2003. Peer referencing in adolescent decision making as a function of perceived parenting style. Adolescence 38(152):607-21.
  • Borawski EA, Ievers-Landis CE, Lovegreen LD, and Trapl ES. 2003. Parental monitoring, negotiated unsupervised time, and parental trust: the role of perceived parenting practices in adolescent health risk behaviors. J Adolesc Health 33(2):60-70.
  • Barbeta Viñas, M. (2019). La educación y la autoridad paternas: una exploración cualitativa. Política y Sociedad56(3), 713–736. https://doi.org/10.5209/poso.57358
  • Miller JM, DiIorio C, Dudley W. 2002. Parenting style and adolescent’s reaction to conflict: is there a relationship? J Adolesc Health. 31(6):463-8.
  • Navarrete Acuña, L., & Ossa C., C. (2013). Estilos parentales y calidad de vida familiar en adolescentes con conductas disruptivas. Estilos Parentales y Calidad de Vida Familiar En Adolescentes Con Conductas Disruptivas7(1), 47–56. https://doi.org/10.22235/cp.v7i1.1177
  • Koerner SS, Wallace S, Lehman SJ, and Raymond M. 2002. Mother-to-Daughter Disclosure After Divorce: Are There Costs and Benefits? Journal of Child and Family Studies 11(4): 1062-1024 .

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.