Quais são os principais tipos de delírios?
Os diferentes tipos de delírios geralmente ocorrem no contexto de uma doença mental ou neurológica. No entanto, eles são de particular importância no diagnóstico de transtornos psicóticos. O psiquiatra e filósofo Karl Jaspers foi o primeiro a definir três critérios principais de delírios em seu livro “Psicopatologia Geral”, em 1913.
Estes critérios são: estar seguro desta crença com absoluta convicção; a crença não pode ser mudada por argumentos contrários convincentes; falsidade ou impossibilidade de acreditar no conteúdo. Como podemos ver, aplicar o conceito de falsidade (ou de veracidade) a uma crença envolve problemas importantes.
Por outro lado, foram distinguidos dois tipos de delírios: em função da forma e do conteúdo. A seguir, explicamos cada um deles.
Tipos de delírios: classificação segundo sua forma
Do ponto de vista formal, existem dois tipos de delírios: delírios primários ou verdadeiros e delírios secundários.
- O delírio primário ou ideia delirante se caracteriza por ser autônomo, original, invariável e incompreensível do ponto de vista psicológico. Aparece de forma brusca, com total convicção e sem qualquer outra alteração mental que tenha levado ao seu aparecimento.
- O delírio secundário, ou ideia deliroide, surge de uma experiência anormal prévia. É uma ideia delirante que surge como uma tentativa de explicar experiências anômalas prévias e, neste sentido, são psicologicamente compreensíveis.
Ou seja, a distinção entre delirante e deliroide reside na compreensibilidade ou não do delírio. Essa diferença implica, além disso, uma tentativa de explicar suas respectivas origens. Dizer que os delírios secundários são compreensíveis psicologicamente alude ao fato de que eles ocorrem como resultado da tentativa por parte do paciente de explicar uma experiência anormal.
Jaspers propõe 4 tipos de delírios primários
- Intuição delirante: ideia delirante primária, fenomenologicamente indistinguível de qualquer ideia que nos ocorra de repente. O conteúdo dessas ideias delirantes geralmente é autorreferencial e de grande importância para o paciente.
- Percepção delirante: ideia delirante primária que consiste na interpretação delirante de uma percepção normal.
- Atmosfera delirante: ideia delirante primária que consiste na experiência subjetiva de que o mundo mudou de maneira sutil, mas sinistra, perturbadora e difícil ou impossível de definir. Geralmente é acompanhado por um estado de humor alterado, já que o paciente se sente desconfortável, inquieto e até perplexo.
- Memória delirante: ideia delirante primária que consiste na reconstrução delirante de uma memória real ou quando o paciente “se lembra” subitamente de algo claramente delirante.
Tipos de delírios: classificação segundo seu conteúdo
A partir das teorias psicanalíticas, foi enfatizada a importância simbólica do conteúdo dos delírios. Há também autores que argumentam que o conteúdo dos delírios relaciona-se especialmente a medos pessoais, aspectos de experiências de vida e fatores culturais.
No entanto, há quem afirme que os delírios são atos de fala vazios. Berrios afirma que seu conteúdo nada mais é do que um fragmento aleatório de informação preso no momento em que o delírio se cristaliza.
Apesar desta opinião, os delírios têm sido estudados, principalmente, sob a perspectiva do julgamento e das crenças. E a partir deste prisma, o conteúdo tem uma clara importância como portador de influências pessoais e culturais.
Embora a estrutura dos delírios varie muito pouco em diferentes culturas, seu conteúdo parece estar muito mais influenciado pela estrutura cultural em que o indivíduo delirante vive. Um dos aspectos que mais tem sido trabalhado no âmbito dos delírios é o de sua classificação.
Conteúdos mais comuns nos delírios
- Ideia delirante de ciúme: convicção delirante de que o parceiro sexual é infiel. O começo é repentino e brutal, a prova da infidelidade do cônjuge dependerá de um gesto ou de uma palavra. O indivíduo procurará evidências irrefutáveis (busca de pertences, interrogatórios intermináveis, etc.).
- Ideia delirante de grandeza: seu conteúdo implica uma avaliação exagerada da importância, do poder, do conhecimento ou da identidade pessoal. Pode ser de natureza religiosa, corporal ou de outro tipo.
- Ideia delirante de pobreza: ideia de que o indivíduo perdeu ou perderá todas ou quase todas as suas posses materiais.
- Ideia delirante extravagante: falsa crença cujo conteúdo é claramente absurdo e sem base real possível. Por exemplo: um homem acredita que quando o operaram de apendicite, colocaram um dispositivo nele que lhe permite ouvir a voz do presidente.
- Ideia delirante niilista: ideia em torno da não existência do eu, dos outros e do mundo. Por exemplo: o mundo acabou.
Conteúdos mais frequentes dos delírios
- Ideia delirante de ser controlado: ideia delirante em que os sentimentos, os impulsos, os pensamentos ou os atos são vividos como se não fossem próprios e estivessem impostos por alguma força externa. Delírios típicos são o alinhamento do pensamento, o roubo do pensamento ou a transmissão do pensamento.
- Ideia delirante erotomaníaca: o paciente acredita que alguma outra pessoa está loucamente apaixonada por ele. Afeta mulheres com mais frequência do que homens. Muitas vezes a pessoa está convencida de ser amada por uma pessoa considerada de prestígio (estrela de cinema, político, etc).
- Ideia delirante somática: a pessoa tem a convicção de possuir uma imperfeição física ou uma condição médica geral. Pode ser difícil distinguir este tipo de transtorno delirante da hipocondria e do transtorno dismórfico corporal. O que os distingue é a intensidade da crença. No transtorno delirante, a pessoa não é capaz de admitir a possibilidade de que a doença ou defeito físico não esteja presente.
- Ideia ilusória de referência: ideia delirante de que eventos ou pessoas próximas ao ambiente do indivíduo têm um sentido particular geralmente negativo. Se a ideia delirante de referência é articulada em uma temática persecutória, então pode-se tratar também de um delírio de perseguição.