Programa de enriquecimento instrumental de Reuven Feuerstein: o que é?

Em que consiste o programa de enriquecimento instrumental de Reuven Feuerstein, que melhorias ele propõe, de que recursos ele precisa para ser colocado em prática? E, acima de tudo, o que ele nos proporciona? Neste artigo, falaremos sobre isso.
Programa de enriquecimento instrumental de Reuven Feuerstein: o que é?
Cristian Muñoz Escobar

Escrito e verificado por o psicólogo Cristian Muñoz Escobar.

Última atualização: 04 julho, 2023

Existe uma ampla gama de teorias e aplicações para criar sistemas educacionais eficientes, focados no ‘ser’, com um bom volume de evidências a favor e que parecem melhorar a educação atual na maioria dos países. Em particular, queremos falar sobre o programa de enriquecimento instrumental de Reuven Feuerstein.

O educador e psicólogo judeu Reuven Feuerstein (1921-2014) orientou sua pesquisa no campo do desenvolvimento psicológico cognitivo. Ele fundou o International Center for the Enhancement of Learning Potential em Jerusalém, Israel. Por mais de 50 anos, a aplicação de seu sistema teórico tem sido um dos pilares da clínica e da educação em todo o mundo.

Em sua juventude, ele ensinou crianças de campos de concentração a ler. Da mesma forma, R. Feuerstein criou o modelo chamado o programa de enriquecimento instrumental (PEI) e foi diretor do Hadassah-Wizo Canada Research Institute.

Quais são as bases do programa de enriquecimento instrumental?

Feuerstein iniciou sua proposta com base no fato de que a evolução dos processos cognitivos é modificável, inclusive a própria cognição. Através dos exercícios que fez para o PEI, ele demonstrou que habilidades cognitivas podem ser determinadas a partir de determinados estímulos.

Graças à aplicação dos instrumentos que concebeu, apresentou o conceito ‘teste-treino-teste’: a ideia é que à medida que a pessoa realiza os exercícios, exercita a sua capacidade cognitiva e pode ser avaliada. Tudo ao mesmo tempo. Da mesma forma, afirma que o baixo desempenho acadêmico é a consequência imediata e inevitável da deficiência na aplicação de instrumentos educacionais convencionais, destinados, supostamente, a estimular as funções cognitivas.

Consequentemente, seu sistema pedagógico determina e estimula as habilidades cognitivas dos alunos. Por outro lado, não admitia testes psicométricos porque considerava que eles determinavam e criavam apenas diagnósticos que rotulavam alunos com medidas desvantajosas, que os marginalizavam caso não conseguissem se classificar dentro de seus parâmetros avaliativos.

Influências de R. Feuerstein

Reuven Feuerstein teve como influências, para seu programa de enriquecimento instrumental, as seguintes teorias:

  • Lev Vygotsky: relevância do meio sociocultural do aluno.
  • Jean Piaget: estudo da estrutura das etapas do desenvolvimento cognitivo.
  • Sternberg: o aluno tem a capacidade de se adaptar e se autogovernar.
  • Allman: o aluno tem a qualidade da plasticidade cognitiva e o valor da aprendizagem mediada.

Como podemos perceber, o modelo de Feuerstein é enfocado na perspectiva da psicologia cognitiva, mas com características próprias em sua fundamentação teórica. O conceito de modificabilidade cognitiva permite vislumbrar a inteligência como o processo e o desenvolvimento dinâmico em que a pessoa é afetada e responde a estímulos externos, como  ele propõe em seus próprios exercícios de estimulação cognitiva.

Em suma, o PEI sustenta que o desenvolvimento cognitivo é resultado da exposição direta do aluno ao estímulo, mediado pela experiência de aprendizagem.

Professor com máscara facial apresenta aula de matemática para alunos do ensino médio
De acordo com a teoria de Feuerstein, os testes psicométricos nada mais fazem do que classificar os alunos e marginalizá-los quando eles não se classificam dentro de seus parâmetros.

Como é formado o PEI

O PEI, que propõe que cada aluno aprenda no seu ritmo e de acordo com suas necessidades ou deficiências específicas, é composto por mais de 500 páginas, que contêm problemas e atividades, como instrumentos não verbais, uso de vocabulário, compreensão leitora e exercícios que estimulem o bom funcionamento dos componentes cognitivos, de acordo com a complexidade dos diferentes níveis.

Feuerstein assegurava que o aluno com problemas de aprendizagem poderia desenvolver habilidades, se os exercícios destinados a estimular a plasticidade cognitiva fossem adequados. Cada instrumento apresenta diferentes modalidades numéricas, figurativas, verbais e simbólicas.

Ferramentas de trabalho PEI

A curva de aprendizado dos instrumentos de trabalho do PEI é significativa. Está organizado em várias partes ou instrumentos.

  • Organização de pontos
  • Orientação espacial I.
  • Comparações.
  • Classificações.
  • Percepção analítica.
  • Orientação Espacial II.
  • Ilustrações.
  • Progressões numéricas.
  • Relações familiares.
  • Instruções.
  • Relacionamentos temporários.
  • Relações Transitivas.
  • Silogismos.
  • Desenho de padrões.

Além disso, as qualidades cognitivas que o PEI estimula são as seguintes:

  • Percepção.
  • Orientação espacial.
  • Raciocínio lógico.
  • Verificação de dados.
  • Conduta comparativa.
  • Pensamento hipotético.
  • Coleta de dados precisa.
  • Planejamento do próprio comportamento.
  • Avaliar e contrastar várias fontes de informação simultaneamente.
Programa de Enriquecimento Instrumental Educacional Infantil
A participação ativa dos professores é fundamental no PEI, por isso devem se comprometer a acompanhá-los.

O PEI em sala de aula

O PEI, como paradigma da psicologia aplicada à pedagogia, encontra o seu lugar na sala de aula, uma vez que a aplicação dos instrumentos representa uma experiência única, dada a sua eficácia no potencial de aprendizagem dos alunos, além de ser uma excelente ferramenta de intervenção para retificar programas educacionais que não estão à altura dos processos de aprendizagem.

Sua implementação é positiva porque podem ser obtidos resultados e funções cognitivas básicas podem ser melhoradas, como as listadas abaixo:

  • Análise.
  • Seriação.
  • Localização.
  • Classificação.
  • Observação.
  • Identificação.
  • Interpretação.

Finalmente, os professores têm uma participação ativa. O PEI propõe uma mudança em suas atitudes em relação ao processo educacional, além de exigir que eles se comprometam a acompanhar seus alunos, pois podem modificar a estrutura de seu pensamento, de acordo com seu comportamento em relação à aprendizagem e ao ensino personalizado.


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