A psicoterapia não cria nem destrói, transforma
A psicoterapia não cria nem destrói, transforma. Isso não é estranho se levarmos em conta o efeito que a terapia psicológica tem no nosso modo de pensar, no nosso jeito de sentir e se emocionar, assim como na forma como nos comportamos.
As maravilhosas mudanças que a terapia produz
A relação entre as mudanças mentais e as cerebrais é bidirecional. Isso quer dizer que, por exemplo, mudar nossos pensamentos pode transformar nosso cérebro e vice-versa. Não obstante, ainda que não possamos afirmar com plena segurança quais são essas modificações. Podemos e temos, no entanto, pistas de como isso acontece:
- O estudo de Wiswede e colaboradores encontrou mudanças na hiper excitabilidade do sistema límbico de pacientes depressivos depois de oito meses de psicoterapia de orientação psicodinâmica.
- Outros dos estudos aos quais estamos nos referindo associam as mudanças cerebrais que acompanham a melhora que a psicoterapia traz em casos de depressão a uma variação nas zonas envolvidas na resolução de problemas, a autopercepção e o controle emocional.
- Em casos de ansiedade como as fobias, o pânico e o estresse pós traumático, também foi observada a existência de mudanças neuronais nas pessoas que frequentam a terapia, concretamente no sistema límbico, em zonas temporais e frontais. Claro que isso vai depender do problema de origem e de sua etiologia.
Os benefícios que as pessoas que já receberam apoio psicológico adequado obtêm se traduzem em uma melhora de seu bem-estar pessoal em todos os níveis. Agora, a evolução depende em grande parte da própria pessoa querer melhorar. Há uma piada muito certa que nos ajuda a compreender isso: “Quantos psicólogos são necessários para trocar uma lâmpada? Só um, mas a lâmpada deve querer ser trocada”.
É verdade que podemos encontrar psicólogos negligentes, pois como em qualquer outra profissão existem pessoas que não desempenham bem o seu trabalho. Por isso, na hora em que decidimos ir para a terapia para evoluir e nos conhecer, devemos buscar muito bem o profissional com o qual queremos trabalhar, deixando totalmente de lado as pessoas que prometem curas sem serem psicólogos ou psiquiatras, assim como aqueles que têm costumes ruins nas suas práticas.
Às vezes o apoio de um psicólogo é fundamental para ajudar a superar certas dificuldades
O apoio de um psicólogo é a chave na hora de dar coerências a nossas dificuldades e assim articular sua superação. Nem sempre que precisamos de terapia temos um transtorno mental, e nem sempre a psicologia se baseia no senso comum.
O papel do psicólogo não é também descobrir como somos sem que nós o contemos a ele, e do mesmo modo os psicólogos não passam os dias analisando as outras pessoas (na verdade, psicoanalisar só os psicanalistas fazem, e para isso precisam realizar um custoso trabalho terapêutico).
Para finalizar, cabe destacar outra falsa crença muito incrustada na mente coletiva: ir para a psicoterapia equivale a falar com os amigos, e por isso não tem sentido pagar um psicólogo. Tal como afirma Nathan Feiles, esta ideia está errada principalmente por dois motivos:
- Nem todas as pessoas têm um bom amigo próximo para ajudá-las.
- Desabafar e falar é ótimo e, realmente, constitui uma parte importante da psicoterapia, mas não a única. Ainda que esse ato possa ser útil e aliviar o estresse, se for mal gerido, no entanto, pode causar ainda mais problemas. Não podemos deixar de prestar atenção a certos processos cognitivos e emocionais que acompanham os nossos problemas.
O psicólogo que é terapeuta é uma pessoa com extensa formação cujas habilidade vão mais além das de escuta ordinária ou de uma conversa íntima. Sua objetividade e seus conhecimentos o fazem conseguir criar um marco equilibrado que se torna uma referência, e assim permite que seja desfeito o nó da nossa mente para que sejamos guiados pelo caminho que queremos.
Essas são falsas crenças que devemos evitar e que nos ajudarão a ter mais claro o trabalho pelo meio do qual conseguimos avançar. Por isso, se temos uma inquietude e estamos querendo procurar a terapia, seja qual for o tipo de dificuldade que sintamos, é bom derrubar esses mitos e pedir ajuda profissional. Assim, não seremos mais impedidos de nos libertar e poderemos aproveitar um processo terapêutico que traz tantos benefícios.
Para finalizar, e com a intenção de fechar esse artigo com chave de ouro, deixamos a seguir um curta-metragem espanhol que ilustra maravilhosamente e de forma lúdica o trabalho do psicólogo.
Referências:
Barsaglini, A., Sartori, G., Benetti, S., Pettersson-Yeo, W. & Mechelli, A. (2014). The effects of psychotherapy on brain function: A systematic and critical review. Progress in Neurobiology, 1–14.
Wiswede, D., Taubner, S., Buchheim, A., Münte, T.F., Stasch, M., Cierpka, M., Kächele, H., Roth, G., Erhard, P. & Kessler, H. (2014). Tracking functional brain changes in patients with depression under psychodynamic psychotherapy using individualized stimuli. PloS One (2014). DOI: 10.1371/journal.pone.0109037.